quinta-feira, maio 27, 2004

MAR AZUL, MAR PORTUGUES

Mais uma vez o Porto deu alegrias, aos seus adeptos e a Portugal. é verdade que nao foi dos jogos mais bonitos de se ver, mas com o nervosismo so apos o jogo terminar é que da para fazer uma analise mais a frio. Mas os jogos em que nossa equipa joga mal e ganha, conquistando um troféu, sao sempre bons. E mais a mais sinto que o jogo foi mau, mas esse mau foi calculado, porque interessava que fosse tactico, pressionante, condicionante de imaginaçao e de técnica, que so surgiu em poucas ocasioes, ora por Carlos Alberto, ora por Ibarra.
Devo salientar, para quem nao me conhece muito bem, que gosto do Porto mas o meu clube de coraçao é a Académica de Coimbra, a Briosa. Muitos que me viram ontem com um cachecol maioritariamente preto com um lindo simbolo em losango, e umas palavras esquisitas, enquanto ia da minha residencia para a residencia de Portugal (onde vi o jogo), devem-se ter perguntado porquê de algum croata ou montenegrino andava de cachecol da bola. Foi com a briosa que vi o jogo, que senti a tensao de um adepto ferrenho, que me emocionei, que vibrei com os golos, que suspirei aos 88 minutos, e com o marcador a 3-0, que finalmente vi que o FCP era campeao europeu. Que nada, ninguém, poderia evitar o evidente: a superioridade do dragao na europa do futebol.
Lamento algumas bocas que ouvi, muitas na brincadeira no inicio do jogo, mas com uma pontinha de ansiedade e de arrogancia: adeptos do benfica que viram o jogo, e que por terem ganho uma simples taça de Portugal ao fim de 8 anos, parece que sao a melhor equipa à face da terra. é por essa arrogancia, esse nao saber estar no futebol que eu detesto e desprezo a maioria dos benfiquistas. A ansiedade deles era por nao poderem mais usar o argumento historico das taças europeias que ganharam à uns 40 anos, e que sao o clube de Portugal com mais palmarés. Neste momento o seu maior palmarés é em taças e campeonatos nacionais, maioria conquistados a meio do século passado...
Foi um desabafo. Saiu porque eles nao ganham e nao sabem ver os outros ganhar, mesmo quando se trata de uma competiçao para a qual é o pais que sai dignificado, com jogadores que jogam na nossa selecçao e que podem motivar para um europeu que chega. A vaidade e arrogancia com que criticam um excelente técnico como o José Mourinho, que eles mandaram embora pela porta pequena (que ele fez com que fosse grande), e que estou seguro, os levaria à vitoria no campeonato a longo prazo. Criticar alguém avulso, so porque ele preferiu mastigar o momento com os filhos e a mulher é algo que me avilta, e que me da vontade de dizer que muitos dos benfiquistas enterram mais dinheiro no SLB, e festejam mais as suas vitorias, do que festas privadas e de familia. Deve ser essa a mistica da familia benfiquista, que nao compreendo nem quero compreender.
Alonguei-me sobre algo que nao queria falar, mas que nao consegui manter preso. Mas agora convém reflectir: sera que estes titulos sao obra do Sr. Mourinho? Ou o clube, com toda a sua envolvência, simplesmente possibilitou a que um grande treinador colocasse esta equipa nos pincaros da Europa?
Eu acho que o FC Porto sem o Mourinho nao sera tao forte; e também acho que o Mourinho sem o FC Porto nao sera tao forte. é preciso uma grande equipa, com grandes intervinientes (no campo e fora dele, na administraçao também) para dotar a equipa das melhores condiçoes, dar ao técnico a calma, os jogadores (dentro do orçamento), as condiçoes fisicas, morais e psicologicas, para, em dois anos, uma equipa estar ao seu mais alto nivel, superar-se, e conseguir estar ao mais alto nivel europeu. No futebol actual nem o Real Madrid e os seus galacticos, nem o Milan, ou o Arsenal, Manchester ou Chelsea, que têm orçamentos fabulosos.
O FC Porto poderia ter vendido varios jogadores no inicio desta época, e manteve-os mesmo sabendo que auferiam altos salarios, e qua nao entraria dinheiro nos cofres; venderam o Postiga porque ha necessidade de equilibrar as contas, e porque era substituivel. Neste momento, e com a campanha feita na Liga dos Campeoes, vê-se a retoma do investimento: nao em novos jogadores, mas nos mesmos com melhores objectivos.
Acredito que alguns sigam com o Mourinho para o Chelsea (pelo menos o Ricardo Carvalho, o Paulo Ferreira, e o Costinha ou o Deco ou o Maniche). Este grupo de jogadores é muito dificil de manter, e mesmo o Derlei nao deve ser facil. Mesmo que um administrador tenha dito que bastava vender um jogador para equilibrar as contas, o clube nao pode evitar a ambiçao dos seus jogadores, nem pode almejar a manter-se um terceiro ano nos pincaros da europa. Penso que agora ha que preparar uma proxima equipa de campeoes, para a proxima década. Entretanto é continuar a arrecadar titulos nacionais.
Pelo Porto, e na terra do "inimigo", passei hoje um dia felicissimo e com um sorriso nos labios. Por varias vezes, no metro, na residencia, me deu vontade de gritar bem alto: "POOOORTOOOOO"! Mas por respeito pelos derrotados, e por respeito pelo meu bem estar, fiquei-me pela visao que seria eu tomar uma atitude dessas, e mantive o meu sorriso de alegria, agradecendo as varias felicitaçoes que me foram atribuidas. Sabe bem ser melhor que os outros!
Caiu a crista do Galo... e ainda por cima por causa de um portugues!


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sexta-feira, maio 21, 2004

" Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
nao para te amar.

A tua carne calma
é fria em meu querer.
Os meus desejos sao cansaços.
Nem quero ter nos meus braços
meu sonho do teu ser.

Dorme, dorme. Dorme,
vaga em teu sorrir...
sonho-te tao atento
que o sonho é encantamento
e eu sonho sem sentir."

Fernando Pessoa, Cancioneiro


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

terça-feira, maio 18, 2004

Nao tenho assim nada para dizer mas tive vontade de escrever qualquer coisa, nao sei bem o quê.
Falta um desbloqueador de conversa, e tal, mas na escrita nao resulta muito bem utilizar um desbloqueador de conversa, porque esta (conversa) nao existe! So se for imaginada... e nao estou com imaginaçao, logo seria como fazer sexo consigo proprio (nao sendo hermafrodita, obviamente!).
Quando nao tem mais nada para se fazer, costuma-se dizer "ah, e tal, isto até esta bom tempo, e tal"; "ah, e tal, isto anda-se um bocado cansado, e nao sei quê"; ou entao aquele longo suspiro "aaaaaaaaaiiiiii..." seguido do tipico " pois, ca estamos, e tal...". A expressao "e tal" é como a outra do "ou nao" mas na positiva: pode-se usar em tudo para ter milhoes de significados! Deve ser uma das melhores invençoes linguisticas a seguir à propria comunicaçao falada. Imaginem este dialogo:
"'Tas bom, e tal?
- Na maior, e tal!"
Ou então:
Ela - O que vais fazer com isso que tens entre as pernas?
Ele - Coiso, e tal!

Nao faz sentido nenhum!
Bom, quanto a tempo temos dias de calor, toda a gente se veste de forma fresca, confortavel e garrido. As meninas decidem passear os seus decotes, e pavonear-se de saias pelos mais variados locais, enchendo de glamour qualquer lugar. Leva-me a pensar que, pelas posiçoes mais ortodoxas por vezes assumidas, as francesas nao estao muito habituadas a usar saias... ou entao nao estao habituadas a que reparem, e cruzam as pernas mesmo à nossa frente, ou entao nao se importam com isso: afinal na praia usam algo muito semelhante a cuecas, e toda a gente vê! Mas convenhamos que um joelhito a ser destapado pela racha da saia torna tudo muito mais excitante!

Para que nao me julguem tarado, porque tem dias, deixo uma pequena noticia que li no jornal, e apos uma poesia de Antonio Gedeao que acho fantastica.
A noticia fala de um estudo feito por duas universidades, uma americana e outra australiana, em que os homens que ejaculam até 21 vezes por mes têm menos 50% de possibilidades de ter cancro da prostata. Mais à frente o jornalista opina: sabendo que, em média, um homem tem "rapports" sexuais 7 vezes por mês, o restante terà de ser auto-estimulaçao! Por motivos terapeuticos, pois claro! Por isso toca a dar musculo ao punho (curiosamente punho em francês é poignet, que se lê "puanhet"...)!
Passando à poesia, que a maioria nao lerà porque ja esta na casa de banho a vomitar.

Antonio Gedeão - Lagrima de Preta
"Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio."




Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, maio 17, 2004

... e nao é que foi mesmo?!

Pois é meus caros e caras leitores. Foi mesmo um dia para mais tarde recordar. Ou nao. Da parte que me toca (principalmente a garganta e paredes estomacais, bem como o sangue que teve o prezer e deleite, ou nao, de transportar enormes quantidades de bolhas de cerveja, precioso liquido amarelo que apraz aos deuses) deu para tirar o gosto amargo de nao ter estado em nenhuma noite da Queima das Fitas da bela Lusa Atenas, essa Coimbra que transporto no pensamento e no sangue para todo o local que và. Outra vantagem foi o de estar no lado oposto onde costumo estar, ou seja, dentro do bar. Assim, além da valentissima, solenissima e potentissima bebedeira, tive uma agradavel noite servil de atendimento ao cliente. Obvio que a atençao prestada às meninas era um pouco diferente, principalmente às bonitas, mas o atendimento tem de ter um pouco de charme (que eu porventura imagino que até tenha tido, a espaços. Esta bem, torna-se dificil mas pode haver alguém que ache, e tal... bom, talvez nao.); mesmo assim os homens eram tratados com toda a cordialidade, mas o homem esta nestas situaçoes, expressamente, para beber, e ser bem servido, e nao para ser tratado com falinhas mansas. A mulher tem outra maneira de ser e gosta sempre de uma palavrinha simpatica, um sorriso, enfim, um atendimento mais personalizado. Nesse aspecto os franceses sao umas bestas porque estao-se a cagar com quem vem: recebe senha, prepara bebida (muitas vezes mal servida), dà à pessoa e nao esboça a minima emoçao, ainda que falsa. Talvez por isso eu, e o meu comparsa portugues que conheci la no bar (a historia de que ha sempre um portugues é verdade), eramos os que tinham mais gente a fazer pedidos. E realce-se que mesmo com os copos servia cerveja de alto gabarito!
O unico derrotado desta aventura é, possivelmente, o meu cérebro. Como ja é minha caracteristica, principalmente para aqueles que ja me conhecem algo mais intimamente (no sentido estrito), com a bebedeira vem-me uma amnésia desgraçada. Assim, mal sai do bar às duas da manhã, lembro-me de me terem dado duas smirnoff ice para a mao e depois so me lembro de ir para casa aos tropeçoes: nunca a frase "vai com deus" foi tao mal aplicada, porque o Respectivo (com R grande) passou o caminho todo a passar-me rasteiras. Se cheguei a casa de noite ou de dia nao me lembro. Deve ter sido de dia porque quando acordei tinha a persiana toda fechada, mas isso também nao prova nada.
Quando acordei no domingo pensei aquilo que toda a gente pensa apos uma noite mais bebida: nunca mais bebo! A seguir ao banho é que reparei que, afinal, pronunciei esse pensamento da boca pra fora e que, afinal, ainda tinha alcool no sangue. Por isso fui para a Casa de Portugal onde havia um belo repasto, ao ar livre, de sardinha (ou chouriço, mas optei pelo peixe) assada, acompanhada por um bolinho de bacalhau, salada de pimento, um pao e uma bebida à escolha (para nao misturar, e para tirar o sabor da Kro, fui para a fantastica Super Bock - a tipica, nada dessas paneleirices verdes...), e por la fiquei a comer, descansado na relva, ao sol. Depois os folioes brasileiros, ao lado, abriram também um bar com som do Brasil (toda a malta a dançar - nao, eu nao! Poupei muita gente, e a mim mesmo, esse show doentio!), com caipirinhas, e tal...
Da minha parte mantive-me fiel à Super Bock e aos tremoços, que eram oferecidos na compra do precioso liquido amarelo. Como aqui o dinheiro nao abunda, e a noite anterior tinha sido de miséria, e faltavam umas quantas pessoas para compor o ramalhete, deixei-me estar somente até à terceira, pelo que pelas 18h (ja tinha apanhado um pouco de sol) me fui embora.
Ficou na boca o gosto maravilhoso de uma saudosa noite conimbricence, com outro sabor - também especial, apraz dizer - e uma pequena nostalgia, de que é nestes momentos que se passam a sos que mais recordamos todos aqueles que amamos, e que dariamos seguramente um dedo (ou o braço do vizinho; ou, se nao tivesse namorada, de bom grado praticaria sexo oral com as miudas que estavam ao meu lado na relva, argentinas, umas queridas! Bem, se calhar isto ja é exagero - Sandra estou a brincar!!!) para ter-vos a todos, ali na relva, a apanhar um bronze, beber uma cerveja (ou outra coisa para quem nao bebe), jogar uma suecada, enfim, tainar!
Grande beijinho para as meninas, um abraço para os machos.
Saudade, de Paris!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sexta-feira, maio 14, 2004

A MINHA (PEQUENA) QUEIMA DESTE ANO

Neste fim de semana realiza-se uma festa ao ar livre na Cité Universitaire, em que a entrada é gratis, so se pagando os consumos. Claro que nao serao baratos mas eu ja me preveni, num episodio a que chamo, carinhosamente, A Minha Queima Deste Ano (ano ano no no o o o ) - é o éco, se bem que neste blog os efeitos especiais sao dos mais reles por ter de dispensar dinheiro noutras coisas.
Assim neste sabado para domingo consegui uma colocaçao num dos bares que serve de apoio à festa, durante um turno de 3 horas, e que pode ir das 20h-23, das 23h-2h ou das 2h-5h.
Ha um concerto ao ar livre, com três bandas que a mim nada me dizem, este durante o primeiro turno. Apos isso, durante os outros dois, ha DJ's a debitar musica electronica. Além disso pelas vàrias residencias podem haver outras festas (estas dentro de portas) e poder-se-à circular por tudo porque, à partida, é tudo de entrada livre. Também ha varias manifestaçoes culturais durante todo o dia de sabado e a manha de domingo.
Pela minha participaçao/colaboraçao no bar serei pago de uma quantia em senhas de bebida, e penso que o jantar também. Essa quantia, ai na Queima, dar-me-ia para 10 finos, mais os que debitaria em meu favor (claro, nao! Sou tuga, tenho que roubar!... ai nao, isso é com os ciganos... ou serà que nao?). Aqui, devido à inflacçao inerente da posiçao mais a norte, e pelo facto de ser necessario amealhar algum para a festa, so dara para 5 finos (3€ cada um! Chiça!!!).
Como disse para os efeitos especiais, a minha atençao monetaria desvia-se para outros recantos, por isso (e por muito futil que isso possa parecer, so pensar em beber para me divertir numa festa) ja fiz umas compras à parte para me garantir.
Peto-Zeto, se tiver oportunidade tiro umas fotos às gajas e envio-te com todo o prazer. Nao estejas à espera de nudez nem fios dentais porque sou um rapaz comprometido e nao me posso meter nesses vicios; depois a Sandra nao so me dava uma coça (porque provavelmente tem mais força que eu), como passaria, muito certamente, para o grupo dos celibatarios... o prejuizo é muito grande, apesar de apreciar muito a companhia de todos, celibatarios ou nao.
Assim como assim, e para justificar o facto do alcoolismo, tenho que encher a cara porque o projecto vai muito mal, trabalho como uma mula (finalmente reconheço as vantagens de se trabalhar com um colega), levanto-me às 7h da matina e acabo o trabalho muitas vezes às 18h... ferramentas é comigo! Ou nao...
Alem disso escrever com esta puta deste teclado e aturar a puta da lingua francesa todos os dias é uma seca. Quanto à cidade estou-me a habituar a gostar dela. Digamos que o clima é uma valente merda porque é raro nao chover ou nao estar cinzento, mas quando esta sol é prazenteiro. Fazendo uma comparaçao para os machos, porque o homem tem menos sensibilidade para compreender estas coisas, Paris é como aquelas gajas timidas, simples, que andam sempre de roupa larga e escura, e que num dia de sol e calor decidem trazer um top justinho e decotado, e umas calças brancas apertadas; nao so reparamos que, afinal, a tipa é tesuda e tem um belo par de mamas, como a zona do rabo se mostra de uma qualidade bem torneada e apertadinha. Peço desculpa pela descriçao às mulheres que costumam ler este blog, mas foi necessario libertar esta pérola de conversa masculina e em bom português.
Finalmente, e para terminar, descobri que das 6 pessoas que lêem o meu blog, um sou eu, outra é a Sandra. Os outros dois que nao sao incognitos sao o Joao, o Vasco (que ja o disse pessoalmente. Abraço à familia, Vascão!), e um brasuca de nome Edminilson Petrolina, que pela matricula deve ser chulo da bola, assim tipo Roberto Capucci.
Na segunda feira, tendo tempo, volto a escrever, para mal dos vossos pecados.
Estais dispensados, podeis ir ao vomitorio!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, maio 13, 2004

SCOLARI, SELECçAO E AFINS - consideraçoes futebolisticas

Estive agora à hora de almoço a ouvir a entrevista que o Scolari deu à Antena 1, transmitida pela Radio Alfa, e confesso que admiro o senhor; mais: acho que ele é um bom treinador, e que (se os jogadores quiserem) pode levar Portugal ao titulo Europeu.
Ele é um ganhador, um organizador, um treinador que joga muito com a preparaçao fisica e psicologica dos jogadores. Igual a ele, nesse tipo de parametros temos o José Mourinho, so que o Mourinho tem sucesso e o Scolari (em Portugal) ainda nao teve. Mas é ele que està em campo? é ele que està desatento nos livres, é ele que falha golos?
é a diferença entre besta e bestial: Antonio Oliveira foi genial ao colocar Portugal no Mundial 02, mas uma besta apos o mundial. Isso pode acontecer com qualquer treinador, veja-se o Carlos Queiros, do qual aprecio muito e que nao teve sucesso no Real Madrid (o Mourinho vaticinou isso mesmo na entrevista que deu à algum tempo na RTP, nao directamente, mas dizendo que nao aceitaria ir para Madrid porque havia demasiado vedetismo).
Scolari e Mourinho sao muito parecidos, por isso o choque frontal de caracteres. Mas ele assume o seu ponto de vista perante todos e julgo que ele vive a selecçao e vive Portugal. Nao houve uma unica vez que ele disse "a selecçao de Portugal", disse sempre "a nossa selecçao... o nosso pais... os nossos jogadores", e mais a frente rectificou que "apesar de nao ter nascido em Portugal trabalhava e vivia em Portugal e para Portugal, logo tem de se identificar com o espirito e com as pessoas, para fazer um bom trabalho e, se possivel, mudar algumas coisas na mentalidade do jogador portugues".
Gostei de o ouvir, gostei da forma como ele manteve a sua palavra, a sua frontalidade e tenho a certeza que por ele seremos campeoes. O futebol nao é logico mas para muitas coisas basta querer, e foi nisso que o Mourinho conquistou: o querer dos jogadores. O FC Porto teve 2 estrangeiros na equipa inicial que fez aquele jogo fantastico na Corunha, logo os futebolistas portugueses sao capazes de jogar ao maximo nivel e cometerem o minimo de erros. Se o FC Porto é capaz, porque nao a Selecçao?
Gostei também quando lhe perguntaram sobre guarda-redes que ia levar, ele disse ter duas opçoes: ou levava 3 experientes, ou dois experientes e um jovem para o integrar. Mencionaram o Baia e ele falou que se falavamos no Baia tinhamos também de falar do Hilario, do Nelson, do Pedro Roma, que também sao experientes e fizeram uma optima época.
Como se vê ele esta atento e quer ganhar; sera que os jogadores também querem? Acredito em Portugal. Mais dificil que construir uma equipa era construir os 10 estadios e acessibilidades a tempo: estao praticamente terminados...

Para terminar um apontamento hilariante: finalmente o Secretàrio chegou ao fim... :D

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

terça-feira, maio 11, 2004

Queima das Fitas de Coimbra - Paralelo

À um ano, a esta hora (de Portugal) ja marchava eu pela alta de Coimbra, de carro em carro, à procura de amigos que fossem no respectivo cortejo. Nesta altura também ja tinha 3 cervejas no focinho, se bem que as duas primeiras ainda eram as ultimas do dia anterior (facil de perceber se disser que sai do parque com uma cerveja para apanhar o autocarro e, quando cheguei ao cortejo, deram-me logo uma fresquinha... tanto que até arrepiava!) e passeava a minha classe (ou nao) de estudante boémio pelas ruas polvilhadas de carros alegoricos, doutores e muita alegria.
Este ano nao estou presente; pela primeira vez falto a mais do que uma noite da queima num mesmo ano, o que me deixa ligeiramente saudoso. Por isso, para comemorar, hoje ao almoço bebi uma cerveja e lembrei-me de todos vos que estais nesta hora na folia de um cortejo.
Bem hajam a todos, um dia e noite muito feliz, bebam bem (o que nem sempre quer dizer muito) e curtam bem até sexta-feira.
Beijinhos para as meninas, abraço para os machos!
De Paris,
Paulo Aroso Campos

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sábado, maio 08, 2004

Sérgio Godinho no Café de la Danse

Sérgio Godinho é, de facto, um senhor da musica portuguesa. Na sexta feira, 7 de Maio, tive oportunidade de confirmar isso com a vinda dele ao Café de la Danse, para um espectaculo integrado nas comemoraçoes da Revoluçao do 25 de Abril. Promovido pela Associaçao Cap Magellan, este concerto serviu para terminar as ditas comemoraçoes.
Surgiu em palco uma banda cheia de jovens, muitos deles mais novos que a propria carreira do Sérgio, julgo eu, e com uma sonoridade bastante diversificada. Os temas antigos do baladeiro, que tocava de guitarra aos ombros, surgiram convertidos em musicas rock, ska, e de outras sonoridades que nao posso classificar por falta de cultura musical, bastante apelativas e prazenteiras de se seguir. Sérgio surgiu igual a si proprio, vestido de forma jovial, contrastando os seus cabelos brancos e rugas com os jovens que o acompanham. Mas nem por isso o musico esta velho! Teatralizando as musicas, aguentando todo o espectaculo no palco, mostrando irreverência, energia e força, tocando uma musica so, encheu o espaço fantastico proporcionado pelo Café de la Danse.
Ouvi, deliciado, um cantor que nem sempre fez parte dos meus favoritos. Lembro-me d'Os amigos de Gaspar, d'A arvore dos estapafurdios, e de uma variedade de musicas dele mais antigas, como a Etelvina ou Com um brilhozinho nos olhos, mas nunca me interessei muito. A minha curiosidade foi suscitada por um concerto que ele deu numa Queima das Fitas de Coimbra, apos a saida de um album ao vivo, onde ele tocava com varios convidados. Entre estes estava Kalu, baterista dos Xutos e Pontapés, e o seu espectaculo na Queima acordou todos e mexeu com o publico. Foi fantastico!
Actualmente, no album "o irmao do meio" ja se consegue perceber a "nova" sonoridade de Sérgio Godinho. Quem ouve nao repara na diferença de idades dos intervenientes mas so na sua compacidade, na energia que dao a todas as musicas, a forma como comunicam antes durante e depois. Escutar "o homem dos 7 instrumentos" num estilo ska mais proximo da sonoridade dos Despe e Siga é qualquer coisa de fenomenal.
So mesmo assistindo. Para todas as idades, para todas as plateias. Por isso acho que ele, tal como Rui Veloso, Jorge Palma e outros, sao senhores na musica portuguesa. Letras diversas, com critica, humor, arte, passando pelos temas mais diversificados, numa sonoridade que varia entre o mais recente e o mais tradicional, tornam qualquer serão um momento prazenteiro.
Dei por bem empregues os meus 15€ (que nem é caro para um concerto em Paris), e por bem empregue o meu tempo.
Agora seguem-se os Xutos e Pontapés, nas festas de Santo Antonio da Radio Alfa, em Créteil. Juntamente actuarão Mariza, Fernando Girão e mais uns quantos de repertorio mais pimba, dos quais nao me recordo do nome. Para os seis leitores que vêm frequentemente a esta pàgina (e nao sou eu seis vezes!) espero que se estejam a divertir com a Queima das Fitas de Coimbra.
Forte abraço (ou beijinhos) de saudade!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, maio 06, 2004

SENSAçOES, EMOçOES

Conheci-te. Anonima, so, indefesa. Trocàmos olhares, informaçoes, coisa pouca. Guardei-te na memoria - ficaste num recanto, num corredor aberto, passavel e iluminado.
Contacto. A medo. Como foi? Como é? Como serà?
Ligo-te? Não te ligo?...
Como confiar? Primeiro olhar, tantas palavras sem falar. Quem sou, como apareço? Confiavel ou nao? Anonimo, inocente, observador atento, timido e indefeso?
Voz, som. Como mel. Suave, quente, doce. A envolvência do mel numa torrada quente, acabada de saltar da torradeira, usada como esponja para espalhar o seu doce charme.
Imagem. Linda, jovial, sorriso contagiante. A mesma voz. O sorriso, a melodia, o olhar.
Atracção? Suspiro, respiro fundo. Novamente. Inteligente e obstinada. Observo, escuto, encanto.
Escuro.
Som interrompe... telefone, campainha?
Alarme. Acordo...


NOSTALGIA, NUM COPO DE CERVEJA

estou feliz e expresso-o em làgrimas; estou feliz e saudoso. Bebo cerveja, sinto o sabor e recordo outras alturas. Mesa cheia de copos, tremoços quanto baste. Mais finos, alefria, jovialidade. Festa, comemoraçao, qualquer coisa serve para uma reuniao em torno desse liquido magico milenar.
Até o recordar, o lembrar com saudade. Passado recente, passado distante.
Coraçao bate forte, suspiro forte para aguentar teimosamente a làgrima que tenta escorrer pelo canto do olho. Liberdade! - ela desce e mostra o caminho às outras, qual espermatozoide activo ansioso por criar, dar vida.
Caem mais pelo mesmo sitio, olho vizinho imita. A frescura da cerveja traz a fraqueza do mais humano. A fermentaçao do cereal lembra o crescimento de uma amizade, o endurecimento de um amor, a chama de uma paixão.
O nariz junta-se à festa e pinga, os olhos fecham e expelem o sabor do mar. Posição fetal, respiraçao soluçante. Baba e ranho como uma criança.
Mudo, cresço, sinto-me diferente. Ao espelho a imagem é a mesma. Serà, serei?
Nostalgia, cerveja, saudade.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

terça-feira, maio 04, 2004

Uma maior solidão
Lentamente se aproxima
Do meu triste coração.
Enevoa-se-me o ser
Como um olhar a cegar,
A cegar, a escurecer.

Jazo-me sem nexo, ou fim...
Tanto nada quis de nada,
Que hoje nada o quer de mim.



Fernando Pessoa, 23-10-1931

Paris, 6:55

Acordo. A informaçao de transito informa que ha 215 km de filas de transito à volta da capital, por 10 km nao se bate o "record". Acordo.
Começam as noticias quando me levanto e me preparo para tomar banho. Està sol... até quando? Nao ha um dia que nao chova, nao ha um dia que nao haja sol. Fazes-me falta, sinto-te ao meu lado, o teu calor e respiraçao, mas nao te vejo.
Solidao. Nao se ve, nao se toca, mas sente-se.
Respiro fundo, sinto o ar a entrar, a passear por bronquios e a sair. Vejo-o em liberdade perante os meus olhos, a diluir-se na restante atmosfera matinal do quarto.
Esta sol, esta quente, dia bonito. Ouvem-se os passaros no parque, ouvem-se crianças a brincar, vêm-se as pessoas a sorrir... afinal o mundo nao acabou hoje!
Felizmente!



Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, maio 03, 2004

"Por mais gente que a gente se iluda, a triste verdade é que a democracia e a liberdade não se impõem nem por eleições, nem por decreto, nem por hábito: faz parte da educação com que se nasce."
Miguel Sousa Tavares, in "A Bola"


25 de Abril - a continuar...

O 25 de Abril foi um acontecimento fantastico. Trouxe muitas coisas boas, mas a melhor de todas foi, sem duvida, a liberdade.
Liberdade é um conceito muito dificil porque, como se poderà definir liberdade? Mesmo num sistema democratico ha regras que nos limitam a liberdade, mas isso torna-se obvio para haver uma certa ordem. Nao concebo como possivel que consiga haver ordem com liberdade total para todos, porque basta alguém usar a sua liberdade contra outrém que està, indelevelmente, a restringir a liberdade do outro.
Não vivi num sistema enjaulado como esse, nem gostaria de viver. Uma das piores coisas que pode haver deve ser o nao nos podermos exprimir livremente, o nao podermos confiar em ninguém sob pena de sermos entregues.
Nao falar, nao confiar...
Agora fala-se de tudo, até de coisas a mais... no dia 25 de Abril ouvi um trecho de uma entrevista, na radio Alfa, a um militar do Regimento das Caldas que foi um dos que abriu a prisão de Peniche. A paginas tantas ele teve uma frase que, quanto a mim, estragou tudo de bom que ele tenha feito ao participar no movimento. Foi qualquer coisa como isto: "os jovens agora nao entendem a liberdade porque nunca viveram sem ela, e esta geraçao nao entende o 25 de Abril"; depois continuou: "quando vim para França para as comemoraçoes nos arredores de Paris, sai de madrugada e nao entendo como podem os jovens agora sair das discotecas ao nascer do sol...". Da vontade de perguntar: nao foi por esta liberdade que lutaste?

Tenho reparado que ha uma vontade enorme de muitos dos homens que fizeram Abril de envelhecer e passar à reforma, para poderem criticar a geraçao a seguir. Eles falam da nossa geraçao como alguém indiferente, que nao entende a luta deles e que nao lhes agradece o que eles fizeram; mas porquê agradecer, se o que fizeram foi para o bem deles proprios? Afinal eles é que estavam vivos na altura, nos nao tinhamos ainda nascido!
Nao é a geraçao que nasceu em Abril de 74 que està no volante, ainda sao os que viveram e foram educados sob o fascismo. Custa-me muito ver que tantos que lutaram pela liberdade nao entendem o proprio conceito nem aquilo pelo qual lutaram.
Felizmente o povo português é critico o suficiente para saber usar a sua liberdade de expressao de uma forma critica, contundente. Nao seremos subtis como o foram grandes escritores, poetas e pensadores do passado, mas saberemos dirigir melhor o barco do que eles alguma vez o fizeram - se eles nos permitirem fazê-lo!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt