Pretende ser diferente do normal, por isso ser "contra natura". A ideia é desenvolver textos críticos, que possam misturar (ou não) um pouco de humor não amordaçado.
quarta-feira, janeiro 30, 2008
Perceber, ou compreender?
Não percebo porque. Não compreendo porque.
Está nevoeiro. É noite. Pelo menos aqui. Por cima de mim. O que não percebo. E ninguém percebe. Porque está noite aqui, porquê por cima de mim, porque não vejo, porque não te mostras, porque. Te escondes no escuro da neblina, na densidade da noite. Porque.
Procuro razões mentais. Para mim. Para ti. Porque nada significa nada. Porque não por vezes é sim e sim por vezes é não. Porque brincas com o sério e brinco com o sério. Porque brincamos com a verdade e sentimos o mesmo. E não o queremos ver porque tu nébulas e eu noite.
Não compreendo porque com água mato a sede mas ela não morre, porque a água me sabe a vazio e a sede se alimenta do nada. Não percebo porque peço mais água e surge mais sede, porque obedeço aos meus pedidos de vazio cheio e cheio vazio.
E entupido. E uma e uma e uma e outra e outra e outra vez.
Porque não faz sentido. E porque não percebo; e porque não compreendo.
Foda-se! Há-de fazer sentido! Foda-se... Tem que fazer. Qual seria o sentido? Foda-se...
[A confusão instala-se no paladar, no saborear dos sentidos em corrimento de lágrimas mentais, armazenadas em confusão tensa, confusão que alimenta o inexistente. O latente. Inexistente...]
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
segunda-feira, janeiro 28, 2008
É apenas uma palavra, nunca aplicada a pessoas. Por muito que custe. As pessoas que fazem parte da nossa vida, que gostamos, acarinhamos, nunca poderão ser trocadas por outras, que cubram o seu lugar. E sempre que o fazemos estamos a cometer um grande erro.
Verdade é que a falta será sempre sentida, quer seja mais ou menos recordada, maneira que imaginar ocupar esse lugar por outro eu apenas menosprezará o presente e dará mais importancia ao passado.
Mas é um lugar comum fazê-lo, principalmente no momento da perda e nos mais proximos. Porque se sente falta e colmata-se. Como se pode. Mesmo sabendo que é um erro.
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
quinta-feira, janeiro 17, 2008
Atravesso a margem com o olhar, por cima do lento vagar do rio em direcção à foz. Como se estivesse cansado e soubesse que, afinal, não serve de nada apressar as coisas porque o destino é sempre o mesmo. O sol desce pela colina mais próxima, preparado para se fundir com a terra, soltando os raios dourados que me iluminam – ainda – e deixam a pensar.
A partida. É triste. É inevitável. Quando cheguei já sabia que ia partir. Mas era tão longe que nunca pensei propriamente nesse momento. E o tempo que deveria ter utilizado a preparar-me para o inevitável estive ocupado com nada. E com tudo… Agora, ao aproximar-se a data fatídica, o meu coração encolhe-se à procura de conforto, qual estrela em decadência à procura de alimento para a continuação da reacção nuclear. Nas estrelas há sempre duas hipóteses: ou se comprimem até atingir uma massa critica e explodem numa supernova, ou expandem-se alimentando-se de tudo o que surgir pelo caminho. O meu coração ficará no mesmo local, nem menor nem maior, mas seguramente com uma profunda ferida. Que cicatrizará com o tempo. Como todas as feridas que surgem ao longo do caminho.
Sei que me vou esquecer deste momento, por isso guardo uma imagem; sei que me vou esquecer desta jornada, por isso guardo uma palavra, um bilhete, uma musica, uma cor, uma situação, uma comemoração. Para me poder emocionar no futuro, sempre que me lembrar, e para poder passar pela partida de forma fria, quase como um robot sem emoções. Ou com as mínimas admitidas.
Não quero partir. Mas no futuro também não me vou lembrar que não queria partir. Agora é que custa. A mim e a todos os que me rodeiam no presente. A todos a quem deixei uma história, cor, flor, som, bilhete, emoção, conforto…
O sol já partiu, o escuro começa a tomar conta da envolvente. E do meu coração. Baixo a cabeça e fecho os olhos, a evitar olhar o lento caminhar do rio na direcção da foz. Do destino. Que sabe que irá sempre alcançar.
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt