domingo, setembro 24, 2006

Desejo

Ouço a tua voz a falar-me, calmamente, da tua recente má experiência com os amores. Como foges do sexo oposto como o demónio da cruz, como fazes isso para não te magoares num novo relacionamento que poderá causar-te dor; vamos tirando a roupa enquanto explicas calmamente, de vez em quando trocando olhares cúmplices, contemplando aos poucos as poucas peças de roupa que caem no chão e os centímetros de pele agora descoberta.

O pescoço, o abrir da camisa a destapar o soutien e esses magníficos seios escondidos por detrás desse adereço deitado à fogueira na revolução feminina. A pele a brilhar, do sol ou só do olhar que nela coloco, a brilhar de desejo de ser beijada, tocada. Um arrepio percorre a minha pele agora também descoberta, peito descoberto e penugem eriçada. Chego às minhas calças, olho para ela que mordisca o lábio com curiosidade em saber o que vai ver, o que quer ver, o que pretende tocar e beijar e deixar grande e pulsante e desejoso de vontade de a ter. Ela antecipa-se e pergunta-me o que deve fazer se ele não lhe sai da cabeça e se ele quer estar com ela mas ela tem medo de entrar num relacionamento que a magoe, outra vez. E que seja possessivo, outra vez. E que ela tente definhar até poder desaparecer fisicamente.

Digo que se ela quer estar com ele devia procurar, devia arriscar e não esquecer de ligar; digo que mesmo por maravilhosa e bela e que corpo perfeito que tem não impede de demonstrar os seus sentimentos e alguma fraqueza e arriscar em estar com alguém que gosta. Nem que seja para conversar, rir, conhecer amigos de amigos. Ela sorri, chama-me de cachorro e faz um gesto subtil com as sobrancelhas, como que mostrando que me corta os argumentos. Despe-se, de uma só vez, abandonando por completo as roupas, desapertando de uma vez os botões da saia e descendo as cuecas minúsculas de fio dental para o chão.

O meu corpo responde, ainda por cima dos boxers, mostrando o meu sexo para fora da pequena abertura daquele confortável adereço de roupa interior. Ela, de mãos nas coxas, olha para mim a mordiscar o lábio inferior, como já tinha feito antes, e que me deixa pulsante e louco de desejo de lhe tocar. Mas as regras não são essas e retiro o que falta da minha roupa.

Quero chupar-te, quero percorrer a minha língua pelo teu pau, cheirá-lo, senti-lo, saborea-lo, sugar as tuas bolas”. Respondo que, neste momento, não tenho muito sangue na cabeça pelo que, e como é demonstrado fisicamente pela afluência sanguínea, não conseguirei ser tão explicito… mas que pretendo percorrer todo o corpo daquela mulher fenomenal que me enfrenta, nua, de uma ponta a outra, com as mãos, a boca, a língua. Lamber e beijar onde depois vou entrar e onde vamos dar prazer e gemer e suspirar e trocar fluidos, emoções, carinhos, frustrações, e explodir num só, fugindo do mundo num momento de êxtase – seja ele pequeno ou grande – mas nosso momento. Aquele momento.

Antes de nos tocarmos pergunto-lhe o que ela vai fazer relativamente ao homem que não lhe sai da cabeça e pelo qual ela sofre. Ela responde que neste momento só uma coisa lhe passa pela cabeça: foder-me… o resto fica para depois.

Agrada-me a ideia e depois da descrição que ambos fizemos, depois de percorrermos e imaginarmos como o fazer, jogamos os corpos para o delírio prazeroso do conhecimento puramente físico e amoral.


Sobre as regras do jogo: simplesmente não tocar sem saber e explicar o que se quer fazer. Quase mesmo até ao limite da imaginação e da própria estimulação, tendo o objecto do desejo à frente e pronto para nós, mas como se estivesse a milhares de quilómetros de distância.

Dá um novo significado virtual – ao sexo convencional.


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

Normal

Todos procuramos ser normais, parecer normais, agir normalmente. Mas não o somos, e todos o sabemos. Há sempre pequenas particularidades em cada um, umas mais visíveis que outras, e muitas que pretendemos esconder. E sabemos disso; e os outros sabem disso.

Em toda a gente há a procura de criar tudo na normalidade, desde os filhos, as descobertas, o transito… tudo o que esteja relacionado com a vida terrena que temos. Como se a lógica fosse o normal e como se isso fosse uma evidência comum, em que se é incapaz de fugir.

E se não for assim?

Porque todas as explicações têm sempre de ser normais, reduzir-se ao mais simples e único? De vários deuses, várias explicações para um só deus, uma só explicação, para a ciência…

Essa procura, esse desejo, essa necessidade faz com que tudo o que fuja ao comum seja desde logo riscado do mapa das mentes de raciocínio mais lógico, colocando de parte qualquer sentimento, emoção – barreira – que possa ultrapassar isso.

É o que faço normalmente.

Esconder o que há de mais animal, mais reactivo e menos social que o ser humano possa ter, só para não o demonstrar, para que os outros não o vejam, para que não se torne uma fraqueza. É uma estratégia, todos as temos para disfarçar a anormalidade una. Mas o que torna esta mais normal que as outras?


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sexta-feira, setembro 22, 2006

Palestina é Arábia?

Há um pormenor, ou caracteristica, como preferirem chamar, nos palestinianos que eu acho graça - ou piada, se assim preferirem - que é o seu acentuado sentido de humor, com laivos irónicos. Curiosidade que se estende à maioria dos países árabes do médio oriente. Se nesses até que se compreende, em parte, esta posição, pois têm reservas de petróleo muito importantes, logo poder, nos palestinianos isso não acontece e torna-se hilariante - talvez estupido para alguns - que eles insistam nesse ponto.
A que me refiro? A (não) existência do estado de Israel, ao (não) reconhecimento do estado vizinho. Por um lado facilita bastante as coisas porque em Gaza e Hebron palestinianos são mortos por entidades que não existem mas que estão bem armadas e que os vigiam por todo o lado - o que explicará o porquê destes serem tão religiosos.
Quando um estado eleito democráticamente em eleições ditas, pela comunidade internacional, como sendo livres refere que nunca reconhecerá o vizinho nem os seus direitos, cai na imbecilidade de não ter qualquer tipo de credibilidade, não só para o vizinho que de vez em quando deixa umas bombas no jardim, nem para os demais parceiros internacionais.
Se isto não é uma demonstração de puro humor britânico, então não percebo porque o fazem!

(tal como o governo libanês permitir que uma parte do seu território não seja seu mas de uma milícia terrorista... (!)... pensando bem também temos a Região Autónoma da Madeira...)


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sábado, setembro 16, 2006

Fiel ou Infiel XVII

Já tive oportunidade de me debruçar sobre este programa intelectual da TVI mas não me consigo conter. Hoje, enquanto trabalhava, ia olhando para o écrã. E o que eu vi?
O mesmo de sempre: o namorado de alguém a ir a uma entrevista de emprego. Até aqui tudo normal, o que não é normal é a entrevistadora ser uma gaja bem boa, tipo stripper, de roupas justas e num sofá, bem juntinho. A páginas tantas vão para o exterior da vivenda (uma entrevista numa vivenda?!) e está lá um Porsche 911. Do que eles se lembram? Lógico: ir lavar o Porsche, em que ambos se despem.
Há coisa mais real que esta?
Há!
Da ultima vez que vi, a entrevista foi num quarto que era equipado com, pasme-se, um daqueles ferros do tecto até ao chão como nas casas de strip. Esse sim é que é um verdadeiro local de entrevistas de emprego!
Aprendam, empregadores!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, setembro 11, 2006

Depois disto o mundo nunca mais foi o mesmo...

"Never before seen Video of WTC 9/11 attack", como diz no YouTube

domingo, setembro 10, 2006

Tourada - ou Corrida de Touros, se preferem...

Na quinta feira que passou estava a dar uma Corrida de Touros na televisão. Não é que goste muito do espectáculo mas tenho algumas duvidas sobre todo o ritual e sobre os aficionados. Mas não é sobre isso que escrevo hoje. Em conversa com um amigo, cujo pai gosta bastante de assistir, ele revelou-me que os touros nunca tiveram companhia do sexo oposto antes de subir a arena e que, após a corrida, são tratados das feridas das farpas - não são mortos como pensava, excepto alguns cuja carne é doada para caridade - e, como não podem ser novamente lidados porque já conhecem o espectáculo e estão mais mansos, servirão como cubridores da restante manada, para nascerem touros fortes e saudaveis como o progenitor.
Voltei a olhar para a TV com outros olhos. E de cada vez que entrava um touro novo na arena, cheio de força e vitalidade, a enfrentar o cavaleiro de cabeça erguida e cheio de potência, a levar com farpas no cachaço, a correr atrás das vacas, a tentar encornar e magoar os forcados, mais me lembrava o quanto é parecido com a adolescência!
Afinal no inicio da adolescência também pouco contacto tivemos com o sexo oposto e só aí nos apercebemos o quanto é interessante; estamos possantes e cheios de força e atacamos de frente a tudo; fartamo-nos de levar com farpas e sangrar, e o pessoal por fora a aplaudir o nosso esforço inglório; tentamos marrar em quem nos faz mal mas, ao não atingir o mais forte, damos uma lição no mais fraco... que chama os amigos e nos pega de cornos.
Pelo meio andamos a correr à volta da arena atrás das vacas e todos aplaudem o esforço. E no final da lida curamos as fridas e passamos a cubridores.
Se alguém discorda da teoria está à vontade para comentar. Até agradecia a sensibilização de outras opiniões.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, setembro 07, 2006

Feche-se a porta, faça-se silêncio, passe-se a palavra!
Fala Fernando Pessoa:
(fonte: http://www.revista.agulha.nom.br/fpessoa156.html )

Não quero rosas, desde que haja rosas.

Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?

Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.

Para quê?... Se o soubesse, não faria
Versos para dizer que inda o não sei.
Tenho a alma pobre e fria...
Ah, com que esmola a aquecerei?...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, setembro 04, 2006

Normal
(Letra e musica: Falamos depois, Paulo Gonzo)
"Foda-se!", murmuro entredentes ao olhar para a hora tardia do relógio. A cabeça parece explodir só com a réstia de claridade que entra janela dentro. Viro-me para o outro lado da cama - vazio - libertando uma expressão de descompressão "ufa!", como que pensando o que poderia estar junto a mim e o porquê de não me lembrar.
Ainda meio a andar de lado, com a boca seca e a língua de cortiça, arrasto-me até à casa de banho. Lá fora ouve-se a chuva, forte, e o vento a assobiar.
"Bonito!", digo eu a imaginar mentalmente o dia 12 de Setembro no calendário.
Sei que estou cansado
E já não quero .. Falar mais contigo
Até de manhã
Deixa-me dormir
Dá-me umas horas
Que depois eu ligo
E falamos depois
Saio a correr de casa depois de um banho de quase água fria, um pão mal mastigado e um café mal tomado - preciso de outro, rapidamente, penso - ao correr para a paragem do autocarro, a tentar desviar da chuva e das poças de água.
Autocarro quente, humido, cheio. Nos vidros embaciados vê-se o escorrer do orvalho humano, a respiração de todos os que acordaram atrasados, cansados, mal dispostos.
Uma criança ri-se e olho para ela ao sentir a estranheza da gargalhada. Mostra-me a lingua e sorri. Faço o mesmo só por teimosia, até porque nem a mostrar linguas gosto de perder, e retribuo o sorriso e um piscar de olho.
ha ha ha ha ha
Queres ficar aqui
À espera que eu acorde
Com pena de ti
A minha paragem. Que falta faz um livro para ler nos 20 minutos de viagem por entre o trânsito citadino. Terá de ser sempre tão cinzenta e rotineira a vida comum de um comum mortal?
Entro no café - "um café, se faz o favor" - e sento-me à mesa a observar a rua pela janela. Em frente, na paragem, os sonos mal dormidos e acordares mal humorados, somados ao respingar de água com o passar dos automóveis. Rotina... do senhor que sai do autocarro com o cigarro na boca e o acende mal pisa o chão; da menina bonita, vestido formal pelo joelho, vermelho a condizer com o baton, que ajeita o cabelo para tras da orelha e abre, com a outra mão, o guarda chuva; da criança com olheiras porque deve ter dormido pouco; da dona de casa inexpressiva que não escolheu a roupa nem se penteou e corre, de rosto inexpressivo, para baixo de um abrigo.
Dá-me um tempo
Dá-me espaço
Deixa-me ter .. um momento
de cansaço
Que é bem melhor assim
"55 cêntimos", pago e agradeço com um sorriso, esqueci-me de pedir curto, coloco todo o açucar porque gosto do café doce, está quente, queimo sempre a língua no primeiro café da manhã, olho para o relógio, "5 minutos", pondero o pastel de nata que me faz olhinhos...
Recuso a gula, saio e misturo-me na rotina alheia, no meio de muitos desconhecidos anónimos que, num dia aparentemente diferente, escolhem abraçar uma rotina igual.
Pensa bem
Se vale apena discutir
Por uma tolice
Ou por quase nada
Ou se me preferes de cabeça fria
Logo de manhã
Quando acordar

ha ha ha ha ha
Sei que vamos rir
E até jurar
Não mais discutir

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sábado, setembro 02, 2006

The Ramones - Spider Man

Uma justa homenagem a uma das melhores e miticas bandas Punk Rock.
The Ramones!