terça-feira, janeiro 30, 2007

(foto: Alteirinhos, a sul da Zambujeira do Mar, Alentejo 2007 - Paulo Aroso Campos)
Templo

Fresco, o templo. Bonito, retemperador.
Sentado nas rochas, virado a sul. Com vento a bater no rosto, suave. O cheiro a maresia, o sol a escurecer-me a pele. Vozes de almas que passam e falam e protegem o espaço, aquela cadeira secular onde me sento, formada pelos deuses em dia de bonomia, de perfeição.
As plantas nascem aqui e ali, espreitam a luz do sol - superior e majestoso - e o cheiro das águas. E todos aqueles que, como eu, ali param para ouvir as almas e para observar o templo.
E o tempo.
E repousam, conscientes que os segundos, minutos, horas que passaram ali em reflexão, ao som do mar e com a luz do sol, não foram perdidos.
Levanto-me sem me despedir; o templo sabe que não preciso... voltarei sempre e sempre estarão as portas (seculares, não reais) abertas à minha presença.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, janeiro 29, 2007

(Foto: Odeceixe, 2007. Paulo Aroso Campos)

Crepusculo

Desce o sol no horizonte, deixando um ténue e rápido fio de luz e energia antes das trevas. No céu mais profundo já se distingue a escuridão a avançar e tragar as ultimas résteas de radiação.
Estrelas brilham, quais focos de luz misteriosas, terras divinas sinalizando os caminhos mágicos da evolução.
Olho para Sirius com paixão. Porque é brilhante, porque o brilho me percorre as veias como um vento fresco que arrepia, aquele arrepiar de excitação, de bom.
Faz-me companhia, Sirius. E Castor. E Pollux. Orion, nebulosas, constelações, sois e luas, corpos gelados e gasosos. Porque estou sozinho. No espaço, este que é meu.
Entre o horizonte e o crepusculo, entre o céu e o cantinho onde me sento.
A ver o sol a desaparecer...


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Referendo sobre a IVG

Gosto da forma abreviada como se chama: IVG. Nos meios mais comuns, uma outra abreviatura, que para muitos é usada como insulto, ABORTO. A poucos dias de mais um referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, o país separa-se, as tendências alteram-se, as tolerâncias esbatem-se. Não importa ser-se de clubes diferentes porque dois adeptos ferrenhos do mesmo clube, se tiverem opiniões diferentes nesta matéria, são os piores inimigos. Para um o outro é criminoso, para o outro o um é retrógrado, da idade média, trogolodita.
Neste referendo, se for votar, votarei SIM. Por uma simples razão: não acho que se deva criminalizar uma mulher que tem de se sujeitar a uma humilhação e a milhentos perigos para fazer uma operação que só a ela diz respeito. O corpo é dela; o embrião é ela que o carrega e alimenta; o embrião sem o corpo de quem a carrega - nos primeiros três meses - não sobrevive. Podem dar todos os argumentos do mundo, para mim esta é a minha forma de pensar e não alterarei. Com isto não quer dizer que seja contra ou a favor do aborto. Sobre esse ponto não dou opinião porque não é isso que está em causa, e só responderei a essa pergunta após o referendo.
Têm-me espantado os argumentos usados a favor do "não". Porque se é criminoso, porque esse não é o caminho de Deus/Alá/Buda/Krishna, porque se é má pessoa, porque os médicos servem a vida e não a morte, porque o Benfica não vai ser campeão... E aqui é que explico o porquê de ter dito que "se for votar".
Votei nas legislativas, um governo foi eleito e ainda por cima com maioria absoluta. Os governos devem governar, legislar, de acordo com os seus ideais para o país e não de acordo com a opinião pessoal ou popular. Constitucionalmente Portugal é um país laico por isso, e logo aí, todos os argumentos religiosos caem por terra. Depois o embrião só é, do ponto de vista legal e juridico, aquilo que as leis o fazem: se legalmente um embrião é considerado um ser logo após a concepção, é obvio que será crime; porém se só for considerado um ser passados 3, 4 ou 5 meses, ou só quando nasce, então tudo muda de figura.
Para isso para que precisamos de governos? Querem pagar menos impostos? Referendo! Com menos impostos há menos dinheiro, os salários baixam? Referendo! O país não se aguenta, continuamos na mesma? Referendo... até que se acaba por referendar se queremos ser espanhois pois Portugal fica parado porque os referendos não permitem mais.
Há crimes muito mais hediondos pelos quais os apologistas do "não" abafam só para poder dar mais enfase ao seu argumento, e muitos são bem piores que umas células em desenvolvimento:
- sexo sem protecção;
- porte de arma ou venda ilegal de armas;
- condução sob o efeito de alcool ou drogas acima do limite legal;
- manobras perigosas e insanas ao volante;
- excesso de velocidade...
Estas e mais algumas provocam por ano a perda de vidas inocentes, com o consequente sofrimento, acções em tribunal, gastos hospitalares, excessos em tudo e para todos.
Porém a discussão prende-se se é ou não criminosa uma mulher que decide submeter-se a uma operação delicadíssima e que ninguém tem nada a ver com isso...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

terça-feira, janeiro 16, 2007

Voltei...

... mas não a tempo inteiro.
A falta de tempo e a falta de uma ligação à net na minha casa impedem-me de ser mais assiduo na escrita. Por outro lado a imaginação está de férias e a vontade de manter a escrita começa a ser pouca. Não porque não goste, simplesmente porque o processo não está isento de impurezas.
Voltarei em breve, após uma purga espiritual que entendo necessária.

Bom ano 2007!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt