sexta-feira, dezembro 31, 2004

Na viragem do ano...
o ultimo, aquele que agora passa, aquele em que visionamos o filme de uma vida...
ou somente de mais um ano...
que passou, e voou.
Mais um ano se segue, com esperança, sonhos... alegrias.
Merecemos...

(Nebulosa da Tarântula, www.portaldoastronomo.org)
Boulevard Of Broken Dreams
I walk a lonely road
The only one that I have ever known
Don't know were it goes
But it's home to me and I walk alone
I walk this empty street
On the Boulevard of broken dreams
Where the city sleeps
And I'm the only one and I walk alone
I walk alone I walk alone
I walk alone and I walk

My shadows the only one that walks beside me
My shallow hearts the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Till then I'll walk alone

Ah..ah..

I'm walking down the line
That divides me somewhere in my mind
On the border line of the edge
And where I walk alone
Read between the lines
What's fucked up and everything's alright
Check my vital signs to know I'm still alive
And I walk aloneI walk alone
I walk aloneI walk alone and I walk a-

My shadows the only one that walks beside me
My shallow hearts the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Till then I'll walk alone

Ah..ah..I walk alone and I walk

I walk this empty street
On the Boulevard of broken dreams
Were the city sleeps
And I'm the only one and I walk

My shadows the only one that walks beside me
My shallow hearts the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Till then I'll walk alone

Feliz Ano Novo, feliz 2005!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, dezembro 30, 2004

Sem título...

(Salvador Dali, Apparatus and Hand)

Choro lágrimas de sangue
da dor que me abre o peito
e abre a carne enfraquecida;

Fungo o ranho que se acumula
de tanta porcaria que sai
do excrementoso pensamento.

Babo a saliva do desespero
da tristeza acumulada
da voz que se prende.

Não solto palavra,
apenas fluidos corporais.
Estes mostram os sinais
de uma morte anunciada.

Esclarecimento: Por vezes os projectos e planos não correm como queremos, e quem mais os impede de se realizarem somos nós. Somos o nosso maior inimigo e temos de nos combater com ferocidade para ultrapassar certas (e determinadas) barreiras. Os ultimos posts não têm sido dos mais agradáveis, têm percorrido temas mais tristes, macabros, bizarros ou, simplesmente, o mau gosto. São opiniões. Podem ou não reflectir a sensibilidade ou vida do autor no momento de escrita, podem constituir ficção.
Da minha parte confesso que não estou no meu melhor periodo, apesar de escrever regularmente neste espaço. Esta tentativa frustrada de poesia (sem que o tentasse inicialmente, mas que surgiu) saiu-me de uma insónia num momento especialmente mau. Aqui desabafo e aqui deixo umas palavras de esperança: estou a esforçar-me para que mude para melhor.
Positivismo precisa-se!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

terça-feira, dezembro 28, 2004

Persistência de memória
"Tenho vontade de levar as mãos
À boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraía os outros, os tais sãos. "
(Opiário, Álvaro de Campos)

(persistance of memory, Salvador Dali)
Ficas na cabeça como a tontura de uma droga fumada, como o ziguezague do excesso de cerveja numa noite de alegre tertulia. O teu olhar vivo, o som que lembro e relembro da tua voz sadia e livre e doce, com que encho os ouvidos com palavras e frases de amor em imaginação. E em realidade.
Do sexo, que em ti conheci e do qual me viciei - até à morte, até à loucura, até à tontura inebriante de já não poder mais, até ao ar faltar nos meus pulmões e ser necessário insuflar. Falta, fadiga, filosofia. A experimentação e a emoção juntas num extertor de prazer.
Beijo-te os olhos, as mãos. Afago, com o teu corpo macio, a minha pele áspera; o arrepio de excitação, o alegre pulsar de uma nova vida que cresce, ruborizada, no centro do corpo. Que te transmito, em energia - e em suor, que sorvo; e em gemidos que bebo; e em arfos de cansaço lânguido que colocam um ponto final no meu esforço.
De te ver feliz.
De te dar prazer...
Uma memória.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Désespoir - Desespero


(Auguste Rodin, désespoir)

Procuro-te pelas ruas da grande cidade porque sei que não te vou encontrar. Olho fundo dentro de mim quando fecho os olhos e penso o que estou a fazer aqui, tão longe do mundo que me rodeia, tão longe de ti... tão longe de mim.
Todas as gotas de sangue que circulam, disciplinadamente, no meu corpo, que garantem todas as funções vitais, por ti clamam. Tu não apareces. Inevitável. Não existes.
Mochila às costas cirando de rua em avenida, de bairro em praça, de estação em metro, de autocarro... volto a pé pelas pontes e passeios junto ao Sena, pela margem e pelo cheiro humido do rio. Ao largo os turistas acenam dos bateaux mouches que circulam pela Île St. Louis e fazem as delicias dos visitantes, mas nem sempre dos transeuntes.
Não te encontro, não existes; não me encontro, não existo.
Paro, máquina fotográfica em punho, e decido tornar este momento de não existência uma realidade. Tiro fotografias a monumentos, a casas, a janelas, ao rio, aos barcos, aos pássaros, ao pôr do sol, à torre Eiffel ao longe, a apontar o céu e a ignorar a minha inexistência. Tiros fotos à populaça desconhecida: homens e mulheres, das mais variadas raças e nacionalidades - pretos, loiras, árabes... todos misturados, qual mundo em ponto pequeno, qual globalização sem espaço tempo definido.
Volto para casa pensativo, tal como comecei. Mas agora com uma musica na cabeça - a tua musica! - e uma imagem - a tua imagem!... que desconheço, mas que pretendo conhecer... assim que me descobrir, assim que existir.
Tiro a prova dos nove mal entro no quarto desarrumado: tirar foto ao meu fantasma e comprovar que, afinal, tenho corpo, fisico, existo!
Olho o écrã da máquina digital: o quarto, a desarrumação, mas sem a minha imagem...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sexta-feira, dezembro 24, 2004

A quase todos um bom Natal...


(Natal - Brasil)

O Natal é uma época de sentimentos contraditórios, porque se tudo e em todo o lado apela ao consumismo, ao sentimento fácil e à compreensão bacoca, há muito dentro de nós que pensa que isso deveria ocorrer o ano todo. Pensando bem o Natal é só um dia, é uma quadra e, além do mais, que diz respeito a uma religião. Porém foi expandido por todo o mundo por grandes companhias e factores comerciais.
Onde pára, então, o verdadeiro Natal?!
Eu sei, e por isso desejo " a quase todos um bom natal". E porquê?
Porque o espírito de Natal está dentro de nós, figura imanente que se reflecte em todos os actos de cidadania, de solidariedade, de amor, de companheirismo, de amizade. Na forma como amamos os nossos amigos, companheiros, colegas, familia, e como a eles demonstramos o nosso amor. Temos tendência a esconder muitos dos sentimentos, por imperativos sociais, comerciais, timidez, vergonha, vida activa. Mas está sempre lá: na forma como olhamos aquela pessoa que muito nos diz, mesmo que ela não note; na forma como enviamos toques e sms's; na forma como abordamos e pensamos nas pessoas que mais longe de nós estão, e como no dia a dia imaginamos como seria se todos, mesmo todos os que pensamos, estivessem à nossa volta.
Eu penso nisso frequentemente e acho que daria uma puta de uma confusão... no entanto ali estariam todos aqueles que amo, que quero junto de mim, só que nem todos compativeis, por vários imperativos sociais, emocionais, a que chamamos e convencionamos o Ser Humano (ser verbo e ser pessoal).
A quase todos um bom natal!
A quase todos um bom natal...

Cumprimentos,
Paulo Aroso Campos

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Ponto de ordem, ou avaliação do ano que está a terminar

Acaba por ser "cliché" usar palavras de outrem, principalmente letras de musicas, para acrescentar palavras ao blog. Porém acho que o último álbum do Jorge Palma tem obras primas da escrita e que passam pelo dia a dia de todos em qualquer momento. Isto para dizer que, após esta reflexão, vou colocar a letra de mais uma musica do álbum "Norte", de Jorge Palma.
Agora dou lugar à reflexão pessoal do ano que passou. Como ultimamente tenho tido algumas visitas mas ausência de comentários, vou egoisticamente ocupar o espaço que for necessário para este post, pelo que muita gente vai ver o tamanho e nem sequer ler (para isso envio por e-mail para algumas pessoas, hehehehe!).
Posso dizer, com certeza absoluta, que sou uma pessoa com receio de arriscar; porém quando arrisco passo do 8 ao 80, coisa que a minha psicóloga já me tinha dito mas que eu não via. Comecei a ver. Alguns esclarecimentos: sou prefeccionista e muito exigente, porém um pouco preguiçoso; tenho muito receio de não agradar e de falhar os meus objectivos; e mais que isso, que me apontem esses erros e me critiquem destrutivamente (algo que me deixa bem transtornado e perdido)... mas também não lido muito bem com os elogios, fico envergonhado. Estranho, não?
Em 2004 fui 4 meses para Paris, fazer Erasmus. Estive de Março ao fim de Junho sozinho, sem qualquer companhia portuguesa. Durante quase dois meses, no inicio, só falava português ao telefone com os meus pais e com a namorada, a Sandra; isto até ela lá ir. Tive dificuldades em comunicar pois o meu francês era primário, as pessoas não são tão acolhedoras e quentes como os portugueses, senti saudades da familia, de casa, dos amigos. Em 4 meses aprendi a cozinhar, a desenvencilhar-me mesmo pouco falando da lingua, a trabalhar ao mais alto nivel, a fazer amigos de várias nacionalidades, a ter algum rigor e disciplina... consegui!
Durante esse tempo também senti muitas saudades de todos os amigos, familia, namorada, dos confortos do lar, dos carinhos de todos. Chorei de perda, de saudades, de dor, de ideia de fracasso; chorei de solidão e senti alivio por estar sozinho. Também muito ri, sorri e aprendi. Vi e conheci coisas maravilhosas, descobri maravilhas de uma cidade maravilhosa como Paris, descobri pessoas excepcionais, cheias de vida, amorosas, corajosas, lindas, apaixonantes. Descobri um sistema de transportes excepcional, ouvi uma rádio portuguesa que é da melhor qualidade e que transporta a cultura portuguesa para todos, no melhor e no pior. Vivi como nunca os sucessos do F.C. Porto, ouvi apaixonadamente os jogos do Benfica na Europa (que todos sabem o meu sentimento por esse clube), entristeci-me pela derrota da selecção no jogo inaugural do Europeu e exultei de alegria e festejei quando ganhamos. Vivi anos em 4 meses e voltei mais forte, com mais conhecimento de mim, mais determinado e com a certeza que ainda teria muito, mas muito a aprender.
Voltei para junto da namorada, familia e amigos que adoro e que me adoram, senti o seu carinho e falta, demonstrado das mais diversificadas formas. Procurei um trabalho para sustentar os meus (longos e caros) estudos universitários, para poder aliviar a carga dos meus pais que começam a entrar na idade em que têm que aproveitar as coisas boas da vida e auxiliar o caçulinha, que também merece (ajuda que ele sempre teve, mas acho que nunca é demais!).
Por um pormenor quase que uma relação estável de 6 anos de namoro terminou, e só não aconteceu porque somos ambos teimosos e ambos apaixonados; aqui me voltei a sentir só apesar de tudo e todos estarem à minha volta, o que ainda foi mais doloroso; senti e sinto a pressão, auto-imposta, das preocupações legitimas de quem tem carinho por mim. Aqui voltei a conhecer pessoas muito especiais, inteligentes, bonitas e interessantes, óptimas companhias e que são tudo de bom - ok que terão defeitos, mas o que interessa são as muitas qualidades, e são essas que devemos tentar salientar: uma questão de estimulo, de ego.
E neste momento de reflexão, em que um ano foi terrivelmente resumido e esquartejado, posso dizer com prazer e alegria que as lágrimas que estão prestes a transbordar dos meus olhos são de alegria, felicidade e um pouco de salutar preocupação - que medos e temores antigos estejam somente escondidos e não ultrapassados. Por isso a escolha desta canção do Jorge Palma, que aconselho vivamente.
A todos (que me lêem, que partilham alegrias e tristezas, sentimentos, emoções, culpa, prazer, amor, carinho, respeito, que me inspiram, que são musas no devido tempo e espaço...) agradeço do fundo do coração, e desejo umas boas festas (sim, é o sentimento mais arreligioso, se é que existe esta palavra!).
A letra:

Passeio dos prodígios (letra e música: Jorge Palma)

Vamos lá contar as armas
tu e eu, de braço dado
nesta estrada meio deserta
não sabemos quanto tempo as tréguas vão durar...

há vitórias e derrotas
apontadas em silêncio

no diário imaginário
onde empilhamos as razões para lutar!

Repreendo os meus fantasmas
ao virar de cada esquina

por espantarem a inocência
quantas vezes te odiei com medo de te amar...

vejo o fundo da garrafa
acendo mais outro cigarro
tudo serve de cinzeiro
quando os deuses brincam é para magoar!

Vamos enganar o tempo
saltar para o primeiro combóio
que arrancar da mais próxima estação!
Para quê fazer projectos
quando sai tudo ao contrário?
Pode ser que, por milagre,
troquemos as voltas aos deuses

Entre o caos e o conflito
a vontade e a desordem
não podemos ver ao longe
e corremos sempre o risco de ir longe demais

somos meros transeuntes
no passeio dos prodígios
somos só sobreviventes
com carimbos falsos nas credenciais

Vamos enganar o tempo... (refrão)

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Vaticano lança edição especial de Natal da Biblia



Numa edição especialíssima para Portugal, o sumo de pontífice deu ordem para começar a venda da nova publicação do livro mais vendido e publicado no mundo.
Na esperança de cativar um publico mais jovem, o prefácio vem assinado por José Castelo Branco (após ele ter assinado documentos específicos a negar a homossexualidade e apresentando comprovativos que a sua esposa não é um transexual ou cadáver, e que só faz sexo para procriar), e nas páginas centrais, em rigoroso exclusivo mundial, Carla Matadinho - Miss Playboy Portugal - aparece vestida de menino Jesus.
Estava previsto ainda uma edição especial em DVD com o rigoroso exclusivo das novas palavras do Senhor, a musica "Hossana nas alturas" interpretada por Fátima Preto e Linda de Suza, e uma hóstia verdadeira e branca; porém houve um pequeno atraso na chegada das malas de cartão ao Vaticano e não houve tempo para a produção.

A comprar, para o Natal 2004!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, dezembro 20, 2004

"I will see you in my dreams"


(filme de terror português e musica homónima, dos Moonspell www.moonspell.com)

Como um pensamento no futuro, ver-te nos meus sonhos. Como se pudesse escrever um guião dos sonhos que tenho, com as pessoas que quero e com o fim que desejo. Não sai nada gótico, escuro ou surreal, apenas o que pretendo que seja realidade.
Mas em sonhos, só em sonhos...
Tenho medo da realidade, tenho medo de a tornar no guião que escrevi para ti, que contracenes as palavras que sonhei sairem da tua boca, que me surpreendas e fique de boca calada, sem saber o que dizer... "i will see you in my dreams"...
Vejo-te ali, acabada de surgir no meu campo visual, ainda à procura do teu pedaço de ilusão, do meu pedaço de ilusão. Preenche o meu coração o teu sorriso, quando a solidez da minha ilusão se desvanece e torna realidade aquele quente da expressão alegre. Sorrio também como correspondência mas sem esse calor, que se transferiu através das minhas finas paredes corporais para o motor, bombando sangue e oxigénio e emoção para todos os recantos do corpo.
A ti me chego, em ti planto beijos em cada lado do sorriso e escondo timidamente o ribombar emocionado do coração, que funciona a alta rotação e me aperta para dizer o que me vai na alma.
Nos meus sonhos, só nos meus sonhos.
Porque na realidade, a vã realidade, estou sempre com quem me preenche os sonhos, seja fisicamente, seja por via de pensamento, seja por sentir em alguém esse perfume discreto que se alojou com força no centro de todas as emoções - e ilusões.
Na realidade, essa megera, vivo um sonho, que nunca julguei tornar realidade.

I've seen you in my dreams...

À bientôt...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

domingo, dezembro 19, 2004

Valsa dum homem carente
(música: Jorge Palma, letra: Carlos Tê)


Se alguma vez te parecer
ouvir coisas sem sentido
não ligues, sou eu a dizer
que quero ficar contigo
e apenas obedeço
com as artes que conheço
ao princípio activo
que rege desde o começo
e mantém o mundo vivo

Se alguma vez me vires fazer
figuras teatrais
dignas dum palhaço pobre
sou eu a dançar a mais nobre
das danças nupciais
vê minhas plumas cardeais
em todo o meu esplendor
sou eu, sou eu, nem mais
a suplicar o teu amor

É a dança mais pungente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente

Goste-se ou não do género, Jorge Palma consegue (seja com as suas letras ou não) dar um colorido diferente à vida, às emoções. Chamem-me poeta (que não sou), chamem-me romântico (que duvido bastante), mas esta musica é lindissima...
Sentir, partilhar,estar... não estará tudo reservado no mesmo local do ser(-se) humano?
...
A comentar...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Comprovativo de Matricula, ou tarde humorística...


(simbolo, com problemas de passagem para o blog - www.fct.uc.pt)

Introdução: Perante a necessidade de obter um comprovativo da efectivação da minha matrícula na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, dirigi-me à extensão dos Serviços Académicos da Faculdade no Pólo II
Esclarecimento: a matricula nesta faculdade é efectuada por um processo inovador (e que funciona! Não é ironia...) - pela internet, através do site Inforestudante, onde podemos aceder a todas as nossas informações curriculares.

Cena 1: Na extensão dos Serviços Académicos do Pólo II. Não há fila e encontro-me no balção. Lá dentro duas senhoras, uma ao telefone, outra a fazer de conta que faz não sei o quê:
Eu - Boa tarde! Preciso de um comprovativo da minha matricula, posso tratar disso aqui?
Senhora ao telefone - Boa tarde! Não, terá de ir à Universidade (polo I), aos Serviços Académicos, tratar disso.
Outra senhora - Pode pode, olhe que pode...
Eu - Lá em cima? (expressão de surpresa e sorriso amarelo de inocência) Mas não dá, tipo, para pedir por aqui e depois vem para cá e levanto-o?
Outra senhora - Pode pode, olhe que pode...
Senhora ao telefone - Não, terá mesmo que ir lá a cima... (do telefone dizem algo porque ela vira a sua atenção para o telefone, com um ar surpreendido)... espere, espere!
(Fico à espera que a senhora do telefone se tenha, de facto, enganado... vira-se para mim... lá vem!)
senhora ao telefone - afinal tem, que ir ao Bedel pedir. Melhor, tem que ir à tesouraria pagar 4.49€ e apresentar o pedido no Bedel para depois lá ir buscar.
Eu - Pagar?! (incrédulo, confuso, surpreendido) Tenho que pagar por um comprovativo da matricula, um documento que tenho direito?!
Outra senhora - Pode pode, olhe que pode...
Senhora ao telefone - pois é, tem que ir primeiro à tesouraria pagar. 4.49€ (e lança um sorriso conciliador, qual verdugo ao torturado após obter uma confissão.)

Conclusão: ora, tratando-se de um papel, possivelmente com algo do género "sim, está de facto inscrito", com uma assinatura ilegível e o carimbo branco, deduzo o seguinte:
- A folha é em talha dourada, finissima e de grande qualidade;
- A impressora não usa tinta normal preta mas sim petróleo aos preços de Nova Iorque;
- O senhor da assinatura ilegivel é pago à comissão, por assinatura;
- O desgaste causado ao soalho pelo meu trânsito entre o Bedel e a Tesouraria é contabilizado;
- A força imprimida ao selo branco para carimbar é contabilizada às milésimas de Newton para uma melhor quantificação e preço, bem como o desgaste do carimbo e articulações e braço do mecanismo;
E, por fim!
- Todos os funcionários com quem falei, desde as senhoras da Extensão dos Serviços Académicos no Pólo II, até à tesouraria e Bedel, ganharão à comissão por cada som emitido pelas cordas vocais.

Por todas estas razões enumeradas, não só acho justissimo o pagamento de 880€ de propinas por ano pela frequência universitária - afinal manter a "máquina" e de forma tão afinada e célere paga-se - como acho abaixo dos preços de concorrência o pagamento de um comprovativo que, na prática e num Estado irresponsável, me seria dado!
Onde já se viu! Dar, repito, dar às pessoas aquilo a que têm direito!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Interlúdio...
"A única forma de descobrir os limites do possível é atingir o impossível."- Arthur C. Clarke


(Olho de Ouadjet, simbolo egipcio)

Deslizo pelo papel imaginário sem contemplações para a sua verdadeira natureza: papiro, papel ou écrã de computador, a caneta é sempre a mesma: a minha visão, a minha imaginação, o meu mundo em constante movimento.
Olho a vida nos olhos e o mundo como ele é: belo, cheio de diferentes formas, pululando de vida em todos os poros, buracos, recantos encantados, desde a mais inóspita paisagem ao mais fértil vale.
E de que vale? A escrita dá a famosa impressão do que é não sendo, imaginando o inimaginável, explorando o inexpugnável. Através da virtual caneta conhecemos culturas e pessoas diferentes mas também iguais, que procuram incessantemente o conhecimento através de outras pessoas e credos. Quem a isto renega simplesmente decidiu ficar na caverna a ver as sombras e dali não sairá até cegar, hora em que as sombras deixam de ser sombras e passam a ser a sua existência: o escuro eterno e total. Através deste mundo literário posso prazenteiramente sentir-me triste num dia alegre, sentir frio num dia quente e quente num dia frio, sentir saudoso junto de todos que tenho saudades, sentir só com muita companhia. Sentir... sentir...
Guardo só, e deixo como final, duas imagens que me foram dadas por duas pessoas, ambas diferentes, ambas iguais: a alegria inigualável do coração a bater de emoção, e a beleza da palavra "mankind" - têm ou não a ver, são, ou não, diferentes e iguais?

(Atendendo à falta de comentários no meu blog, que são sempre bem-vindos, decidi abusadamente enviar o meu ultimo post por e-mail para uma quantidade indiscriminada de pessoas. Recebi respostas que muito me agradaram, quer por e-mail, quer pessoalmente. Achando-me ou não um bom escritor, é sempre bom ter retorno e saber que as pessoas gostam de ler e têm sentido critico. Vindo de amigos essas palavras calam fundo e emocionam. Mesmo assim gostava que o fizessem no site, mesmo anonimamente se quiserem algo menos intimo para todos os que lêem: é que basta uma pessoa comentar para outras verem e juntarem a sua voz.
A todos os leitores, mesmo que não comentando, o meu expresso agradecimento e humilde reconecimento. Bem hajam!)

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Um pouco de nada...
"Comparada com a realidade, a nossa ciência pode parecer primitiva e infantil, mas é a coisa mais preciosa que temos."- Albert Einstein


(enxame aberto M50, www.portaldoastronomo.org)

Pareço vazio em tudo aquilo que penso. Olho para o branco da folha e o que salta à vista é o mais branco do meu interior. Nada brilha, nada transcende. Apenas o nada, que nada na alvura da falta de imaginação, na ausência de contraste.
De repente a cor perde-se do meu mundo visual, acordo e olho em volta: nada senão o branco e as várias misturas de preto - tonalidades que me dão impressão de distância, rugosidade, diferença, mas nada mais que isso. Falta a alegria da cor, o sentimento explosivo e imediato da conjugação colorida, de imagens corridas e em movimento.
Fecho os olhos e penso naquela minha cor favorita. Branco como a folha de papel...
Frio, que me acolhe; frio que me entra no corpo, sobe à cabeça, gela pés e mãos e nariz e cabeça. Cabeça lateja: dor. Nariz sente ardor do frio e escorre o produto do frio...
Ou não.
De repente no papel aparece! No meio da alvura, uma gota de vermelho sangue caiu e esparramou-se feliz! No meio da folha antes pura o meu sangue se espalhou, primeiro num borrão de uma bola encarnada esmagada pelo peso da gravidade, agora num conta gotas que me devolve a cor.
Quente! Sinto o quente do vermelho. O fogo, a emoção, a paixão! Pena que tenha que perder do meu sangue para vencer a tua teimosia, papel! Pena que tenha que sentir um pouco de mim a escorrer em ti e deixar-me, pingo a pingo, vazio.
O papel agora sou eu, pois eu esvaí-me e sou apenas nada...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

terça-feira, dezembro 07, 2004


(Remanescente de Supernova Cassiopeia A, www.portaldoastronomo.org)

Constelações

Olho para o céu nocturno para te ver a ti, estrela, que no negro impões o teu brilhante. Olho para ti porque és beleza, porque és lembrança, porque és distância luminosa de um passado quente e acolhedor.

Constelações, onde todas se juntam. Desenham, brilhos diferentes, interagem. Saudade! Cada constelação une amor passado, ou presente, ou futuro. No teu desenho, constelação, beijei uma, me encantei por outra, declarei a outra o meu amor... usei-te para impressionar mais uma?! Ou tudo foi um sonho, tão impraticável e tão distante quanto vós estais de mim, tão distante quanto vós estais umas das outras.

Cada mulher um desenho diferente, cada paixão um brilho diferente, cada amor o escuro da noite, sem saber o que é dia até chegar a manhã. Até os primeiros raios de sol esconderem o vosso desenho celeste e iluminarem a face de quem ao meu lado dorme.

O meu amor...



Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Divagações

Sento-me em frente ao computador. Na minha cabeça muitas ideias estão prontas a saltarem para o teclado, e daí para o écrã e para um ficheiro informático. Sinto-me cheio de imaginação, cheio de vontade de escrever, com tempo e prazer de distender todo o meu vocabulário para o vazio do ficheiro.
Abro-o. Vassoura mental, tudo varre o que estava pronto a sair; saiu antes do tempo, sem avisar, sem dizer para onde foi. Olho para o teclado, para o écrã. Nada, vazio. Branco, como uma folha virgem de papel; insipido e inodoro, como a água pura.
Ouço o som da chuva lá fora, por entre os rugidos musicais que coloquei para acompanhar e dar o compasso à (inexistente) escrita. Merda!
Volto a reflectir. Nada ocorre.
Fecho o ficheiro por entre juízos mentais de senilidade e uns quantos palavrões.
Adeus!

(De facto estou anormalmente com falta de assunto, e agora há tantos passiveis de serem comentados, criticados, falados, transformados num pequeno apontamento humoristico. Mas nada. A inspiração nada quer comigo. Tenho musas que inspiram, mas este black-out não é problema da falta de musas, que me ajudam bastante nos piores momentos. É um bloqueio mesmo! Penso e olho para essas musas de inspiração, quais deusas do Olimpo, mas não me surge palavra, somente gratidão por existirem e por, por vezes, me darem azo à escrita. Mas não surge palavra... melhores dias virão! Por esse facto gostaria de pedir desculpas às musas e aos leitores.)

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

terça-feira, novembro 30, 2004

Bem, parece que venho do Sol...
Pareceu-me interessante este teste, embora bem parvo... (se aqui estivessem os castigadores da parvoíce...)





You Are From the Sun



Of all your friends, you're the shining star.
You're dramatic - loving attention and the spotlight.
You're a totally entertainer and the life of the party.
Watch out! The Sun can be stubborn, demanding, and flirty.
Overall, you're a great leader and great friend. The very best!




Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, novembro 29, 2004

Sobre as eleições para a Direcção Geral da AAC
Declaração de voto: Lista R - REAGE

Pela primeira vez vou usar o meu blog para publicitar algo, ou fazer campanha. Amanhã e terça-feira realizam-se as eleições para os corpos gerentes da Academia de Coimbra, a maior e mais antiga associação de estudantes do país.
Sempre estive à parte de qualquer projecto, e tirando um projecto há alguns anos em que cheguei a ir a uma reunião, nunca mais tive qualquer interesse em participar. Após ter sido elemento efectivo do NEEMAAC - Núcleo de Estudantes de Engenharia Mecânica da AAC - em 2002/2003, e ter sido eleito presidente do mesmo núcleo no mandato para 2003/2004, decidi abrir-me e participar num projecto que fosse interessante e coerente.
Confesso que após ver as caras que surgiram fiquei um pouco desiludido com o panorama; e no ano anterior, como presidente de nucleo, fora abordado por todos os projectos - com o interesse redobrado de conseguirem um apoio importante no Departamento de Engenharia Mecânica - os projectos que me pareceram mais interessantes foram o do Paulo Leitão e o do Bruno Julião (os candidatos que não passaram à segunda volta). Estive em vias de apoiar, como presidente de núcleo, o Julião, porque além de um bom projecto pareciam-me bem organizados, motivados, e com um grupo bem formado e informado. Não apoiei porque numa Assembleia Magna não gostei da forma como o Renato Teixeira se insurgiu contra alguns núcleos que, segundo eles e a sua gente, não nos esforçávamos na luta, não tinhamos qualquer interesse em fazê-lo e que ridicularizávamos os estudantes que representamos e a academia de Coimbra (como se ele não o fizesse!). Nesse momento cortei com todos.
Este ano só fui abordado por elementos da lista R. Mesmo confessando a minha dificuldade em acreditar que fosse um projecto vencedor, eles mostraram-me as linhas mestras, convidaram-me para um cargo na Acção Social - que é um assunto que me interessa bastante - e convidaram-me a ver o seu trabalho.
Fiquei bastante agradado com a forma como tinham a campanha organizada, saindo com panfletos informativos específicos por datas específicas, com um grupo de pessoas que formam uma equipa sólida, organizada e motivada, muita gente jovem interessada em contribuir e em fazer da AAC uma casa de trabalho, onde nenhum aspecto - a ver pelo empenho de todos - será descurado.
Por isso aceitei fazer parte do projecto R - REAGE. Tenho dificuldade ainda em acreditar na vitória porque considero que a lista "de continuação" é muito forte na persuasão (cacique) à boca das urnas, e já tem contactos, excursões e bilhetes dados organizados à muito tempo. Mas acredito no trabalho das pessoas que se apresentam a eleições e acredito que se este projecto ganhar se pode apresentar muito e bom trabalho.

Por isso é bom que todos possam participar e votar. Da minha parte já sabem qual é a tendência. Quanto a vós, tendes sempre opções, mas a unica opção válida e que serve os interesses da academia e universidade é, acima de tudo, a tua comparência nas urnas e depósito do voto - seja em quem for, seja em branco. A participação é o garante da continuação democrática!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sexta-feira, novembro 26, 2004

"Poison Heart": Sobre esta música, e sobre os Ramones
Vem de longe o meu gosto pessoal pela musica dos Ramones. Não só são uma referência musical para mim, apesar do seu estilo punk rápido, pouco desenvolvido e cujo vocalista tem uma voz das mais horríveis (para muitos que não conheciam a "arte"), como foi paixão ao primeiro ouvido, ficando logo fã e trauteando e escrevendo as musicas nos meus cadernos do ensino secundário. Aos 12 anos sabe-se como são vividas as paixões: com um misto de sofrimento, alegria, tristeza, morbidez, e muito, muito bater de coração em vão.
Esta musica, confidenciado pelo vocalista (já falecido) Joey Ramone, nem era das favoritas deles e eles pouco a ensaiavam, até que tiveram de a começar a tocar nos concertos porque os fãs mais novos a escolheram como icone. Mas um pouco de história:
Os Ramones nascem em Nova York, a meio dos anos 70. Pouco sabiam tocar mas isso não interessava, porque as suas musicas que pouco chegavam aos dois minutos eram de uma energia retumbante. Ao vivo tocavam ininterruptamente, sendo conhecidos pelo começar com o famoso "one two three four" e repetirem-no logo após cada musica terminada. Em cerca de 30 minutos tocavam um album inteiro...
Um dos seus albuns miticos, "It's Alive", tocam em Londres, num fantástico concerto de fim de ano: um dos melhores discos e sons de punk rock ao vivo... memorável!
Os quatro elementos eram quase como irmãos, tendo adoptado o nome da banda (the ramones) e adoptando esse nome como o seu apelido: Joeu, Johnny, Tommy e DeeDee Ramone. Este Tommy tem como nome Tommy Bon Jovi, é familiar do John Bon Jovi (penso que tio) e é um famoso produtor musical. As musicas e letras eram assinadas pelo conjunto do grupo.
Como todas as famílias há discussões; como todas as bandas (com ou sem fama) há drogas e alcool; como muitas são mais famosos após a separação do que antes dela. Foi o que aconteceu com os Ramones. Com três dos seus elementos principais e iniciais já falecidos (Johnny, de aneurisma; Joey, de cancro; DeeDee, de overdose), a banda já não voltará à vida, a não ser em best-off's tocados por bandas famosas (como Pearl Jam, U2, Metallica, etc) fãs desta banda... mas com certeza passará à história por ser uma das primeiras do género.
Deixo-vos a letra (álbum Mondo Bizarro, inicio dos anos 90), e espero que possam procurar musicas deste grupo. Os fãs de punk concerteza vão gostar!

Poison Heart - Ramones

No one ever thought this one would survive
Helpless child, gonna walk a drum beat behind
Lock you in a dream, never let you go
Never let you laugh or smile, not you.

Well, I just want to walk right out of this world,
'Cause everybody has a poison heart
I just want to walk right out of this world,
'Cause everybody has a poison heart.

Making friends with a homeless torn up man
He just kind of smiles, it really shakes me up.
There's danger on every corner but I'm okay
Walking down the street trying to forget yesterday.

Well, I just want to walk right out of this world,
'Cause everybody has a poison heart.
I just want to walk right out of this world,
'Cause everybody has a poison heart,a poison heart, a poison heart, a poison heart ... yeah!

You know that life really takes its toll
And a poet's gut reaction is to search his very soul
So much damn confusion before my eyes,
But nothing seems to phase me and this one still survives.

I just want to walk right out of this world,
'Cause everybody has a poison heart.
I just want to walk right out of this world,
'Cause everybody has a poison heart,
Well, I just want to walk right out of this world,
'Cause everybody has a poison heart.
a poison heart, a poison heart, a poison heart.
a poison heart, a poison heart, a poison heart.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

domingo, novembro 21, 2004

Sobre os comentários...
Reparei que desde que mudei a imagem do site, e com isso (por não conseguir incluir os outros, da Haloscan) ter alterado a forma de colocar comentários, tenho tido menos (para não falar nenhuns!) pessoas a comentar os meus posts, numa altura em que até me tenho esforçado por escrever.
Penso que tal se devesse ao sistema de comentário do proprio Blogger, que pedia para que nos identificássemos como sendo bloggers, ou comentássemos como anónimos. Como pelo Haloscan é muito mais simples, voltei à fórmula antiga, esperando com isto que haja mais comentários nos meus posts.
Afinal de que serve continuar a escrever se não se tem qualquer retorno?
Gostando ou detestando, estando de acordo ou em desacordo, é óptimo saber qual o retorno que o que escrevo/penso tem nos outros.

Outro tipo de sugestões sobre o blog são bem vindas! (Excepto da Central de Informação do Governo...)

Cumprimentos,
Paulo Aroso Campos

quinta-feira, novembro 18, 2004

Solidão

Deixo o meu quarto depois de almoçar. Lá fora ninguém me espera, aqui dentro também não.
Sufoco. Sinto a falta daqueles que amo, que deixei longe, na busca de uma virtude, de uma terapia, de mostrar a mim (e ao mundo) que não sou uma fraude.
Vageio só pelas ruas, pelas estações de metro. Observo as diferenças entre a população: mistura maior é impossível! Pessoas bonitas, feias, alternativas, estranhas. Uns bem vestidos, outros dependendo do gosto. A ler ou ouvir musica; olhos que se interceptam na confusão de uma carruagem cheia, sorrisos que se trocam na timidez do esconderijo no embaraço da situação.
Solidão.
Caminho por entre a multidão onde ninguém conheço. Caminho a observar o que me rodeia, quem me rodeia. Caminho na margem do Sena, aprecio aqueles que caminham sós também. Esquecidos nos pensamentos, olhando o vazio, o infinito. Como eu. Passa o "bateau mouche", os turistas acenam para o mundo, para os desconhecidos.
Solidão.
Sento-me num pequeno muro a escrever uma sms. Destino? Alguém, ao acaso. Ali todos são importantes, pela distância, pela saudade, pelo amor. Todos de forma diferente, com conteudo e emoção diferente. Acabo a mensagem e sinto, por instinto, uma lágrima a escorregar. "Não, agora não... no conforto do meu quarto, onde posso libertar-te, a ti solitária como eu, e a todas as tuas amigas, num mar aberto, em ondas livres e tempestuosas... aqui é que não..."
Solidão. Ao lado senta-se uma menina, toda de preto. Olhos verdes cintilantes, conversa ao telefone. Aproveito para, disfarçadamente, tirar umas fotografias ao que me rodeia, e apercebo-me que ela espera alguém que não vem. Sorte a tua, penso eu, ainda tens alguém. Num momento raro de coincidência e correspondência, entreolhamo-nos e vejo nos lindos olhos verdes cintilantes (e agora tristes) o mesmo lamento que libertei para mim mesmo à pouco: o dialogo interno com a lágrima teimosa que teima em escorrer. Sorri para mim e consegue, também, aguentar a fonte.
Não tive coragem para me apresentar depois de um momento tão intimo. O pálido sorriso que apresentou contrastava com o triste olhar, parecido com o meu, que tenho impressão ter visto reflectido nela.
Levantei-me, lamentando a minha falta de vergonha de não ajudar/me ajudar naquele momento de solidão entre duas almas abandonadas.
Solidão. Sim, solidão. Porque assim o quis, porque assim o mereci...


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

terça-feira, novembro 16, 2004

Casa na praia

Acordo e contemplo o teu corpo nu, somente coberto por um fino lençol branco. Debaixo, o teu corpo move-se, suave, ao ritmo da respiração; compassado, o sono; leve, o corpo, o lençol, a alma.
Vejo-te calma, nesta cama redonda, imaculadamente branca mas em desalinho. Vejo, ao longe, a praia, por entre as frestas dos cortinados, que a brisa faz abrir, ondulando-os e ritmando com o respirar do teu corpo. Lá fora o sol brilha, o mar chama. O calor invade todas as aberturas da casa mas deixa-te só. Ao meu lado. No teu descansar.
Levanto-me e sento-me ao largo. Não deixo de te admirar, de gravar a tua imagem na memória: os teus longos cabelos negros, em desalinho no branco lençol; os teus contornos femininos, atraentes, sensuais. A tua nudez surge-me a cada milimetro que em ti toco com o olhar, como se te percorresse com as mãos; olho para a minha memória, para o fundo da minha alma, e vejo como te entregaste, desejosa, apaixonada, corpo ardente; como te recebi, nervoso por ter receio de te desagradar.
Guiaste-me nas malhas do amor, no quente solar da paixão nocturna, no som inconfundivel das ondas do mar. Após a tempestade no meu ombro recolheste, lua nova, pronta para um novo amanhecer.
O paraíso não é onde se está, mas com quem o pretendemos conhecer...


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, novembro 15, 2004


Opinião de um prof...
da Universidade Técnica de Lisboa sobre um determinado anuncio de cerveja
(Jornal Publico, sexta-feira 12 de Dezembro 2004)

Nesse artigo, esse senhor mostrava-se muito indignado com o teor do anúncio porque, supostamente, este anuncio era ofensivo para os cidadãos deficientes. Argumenta, a propósito de um dos videos e outdoors sobre uma anedota em que a criança é uma orelha. É claro que é somente a opinião deste senhor, professor universitário, que está aqui a ser apresentada. Não tenho nada contra esta opinião e respeito-a, no entanto surgem-me algumas duvidas acerca da motivação da sua opinião. Pelo que ele diz: "Para isso, (comparação da cor da cerveja com o humor negro) conta, entre outras, a história da notícia do nascimento de uma criança com deficiência, sem membros, e reduzida a uma orelha surda. E faz piada disto e quer ganhar dinheiro com isto, motivando-nos para beber a cerveja negra como o humor da campanha". Não compreendo esta primeira indignação: afinal não é o objectivo da maioria das anedotas a ridicularização para, daí, retirar a graça? Quantas piadas há com alentejanos em que eles são continuamente ridicularizados. Além do mais: já alguma vez se viu uma criança que nasce só sobre a forma de orelha? Como é que vivia, se isso acontecesse? Não seria um nado morto?

Para este senhor não. Porque o problema dele, professor universitário, não é com a cerveja, mas sim com os cidadãos deficientes. Reparem: "Sabemos que a forma como as pessoas com deficiência são consideradas depende da construção social que fazemos à volta da sua condição. Vemo-las como autónomas? Vemo-las como dependentes? A deficiência é, antes de mais, uma construção social. E se assim é, qual é o contributo que esta campanha publicitária dá para um entendimento solidário de um cidadão com deficiencia? Nenhum, porque a piada são as proprias pessoas com deficiencia, e o riso é suscitado pela exibição das suas deficiencias...". Ele vê as pessoas deficientes como diferentes e a deficiencia como uma construção social. Até chegar ao ponto de ficar ofendido com o absurdo de uma anedota em que uma criança é uma orelha, e ficar ofendido porque isso avilta os deficientes coitadinhos! Será que uma pessoa cega ficaria com raiva da anedota se em vez de orelha surda a criança nascesse como um olho cego?

Como diz na campanha, a cerveja, tal como o humor negro, são para uma minoria; quem não gosta não é obrigado nem a beber nem a ouvir. Tal como as várias definições de deficiencia e racismo. Para mim custa-me que um professor universitário seja tão diminuido de visão porque, certamente durante o seu dia a dia, lidará com jovens completamente diferentes. A deficiencia, tal como o racismo - e como eu os entendo - é a forma como olhamos e apontamos as diferenças dos outros, porque todos temos diferenças, todos temos lacunas: sejam sociais, económicas, fisicas. O que nos aproxima é sabermos perceber as diferenças e podermos tratar todos por iguais, sejam eles professores universitários, sejam eles uma orelha surda.

Afinal os "Malucos do Riso" e os "Batanetes" não adaptam anedotas para poderem também vender o seu produto (audiencias)? E não é muito mais ofensivo uma hora de lavagem cerebral batanete ou maluca do riso do que uma cerveja geladinha? E um prato de tremoços para a mesa do canto!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, novembro 11, 2004

Conselho de Ministros a bordo do Navio Escola Sagres?!

Não será uma boa oportunidade para que o Governo fique por águas internacionais? Legalmente não deviam poder entrar nas águas territoriais, como aconteceu com o Barco do Aborto, por cometerem crimes puníveis por lei, e conterem substâncias proibidas...
Já agora que tal levarem o Fernandinho Seabra Santos, e os "do costume", que gostam de interromper actos solenes!
Façamos deste o nosso momento! Impeçam o navio de chegar a um porto nacional!!!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, novembro 08, 2004

Discurso para a próxima Assembleia Magna
(não é mas poderia ser...)

Caros colegas:
Antes de mais queria fazer um apelo aos policias à paisana e agentes do SIS: sei de fonte segura que o Reitor Fernando Seabra Santos guarda em casa uma ogiva nuclear portátil, que trouxe da ultima viagem à ex-União Soviética... ou da sede do PCP, já não me lembro... pode ter sido também quando ele jantou em Canal Caveira a ultima vez... bom, o que interessa é que se forem a correr ainda os apanham!
Não vou apresentar críticas a ninguém, somente tecer algumas opiniões. Acho que o Renato Teixeira tem aparado a barba e utilizado base da Yves Saint Laurent, o que faz dele um porco capitalista dos piores, porque usa às escondidas, como os drogados. Além disso o megafone do Baía está a ficar rouco e a palavra "Fascistas" soa a "Francesinhas". Os polícias já começaram a olhar para ele como um gourmant e para a próxima acho que é ele que vai ser detido: já não se come francesinha na PSP de Coimbra desde o Maio de 69!
Outra coisa: o pessoal do Conselho das Républicas (g'andas malucos!) não precisam de tentar que a magna seja como as vossas reuniões. Desta forma a táctica de vencer pelo cansaço não se aplica, pá, e os locais onde se fazem as magnas são tão confortáveis como os autocarros em hora de ponta! Por isso deixem-se de defesas de honra porque vós tendes é barbas e não honra, pá!
É uma seca, vêm sempre falar que os outros (fascistas, ou francesinhas, não percebi bem) vêm ao púlpito e não apresentam moções, mas vocês também não! E quando cá vêm por defesas ou questões falam falam, falam falam, e acabam por não se defender nem questionar! Então como é que é?! Ah!
Bem, quero apresentar algumas propostas, simples e de fácil realização. Não é daquelas como aqui aparecem do tipo: a DG tem de fazer um panfleto de 14 páginas para ontem, para entregar em todas as escolas secundárias, desde a Lageosa ao Catarredor, em menos tempo que a Aurora Cunha a correr a maratona.
As minhas propostas são mais sérias. Ah, já agora depois juntem o parlapié dos alunos reunidos no dia tal, às horas tal, que não me apetece. As propostas são as seguintes:
Modificar a expressão "Magnifico Reitor" por "Por favor não me espanque Reitor";
Fazer um policia em cartão, tamanho real, como as estrelas dos filmes nas apresentações, com a cara do Seabra, e um balão a dizer: identifique-se por favor. Esse boneco seria colocado às portas de todas as faculdades e departamentos;
Trocar todos os sinais de transito no acesso à alta, colocando sentidos proibidos na Padre António Vieira, no acesso pelos Arcos do Jardim, e confundir tudo e todos;
Colocar portagem na SCUT Padre António Vieira, sem via verde, a incluir no Orçamento da Universidade;
Aprovação da Propina Estacionamento nos parques de estacionamento da Universidade e Faculdades, por um valor irrisório de 880 euros/ano: afinal o parque do São Jerónimo leva mais carros do que alunos em muitas salas;
Uso massivo dos SMTUC pelos estudantes para mostrarmos que o sistema está bloqueado, é caro, tarda e falha - e que é menos confortável que as salas do Conselho de Républicas;
Baptizarmos as esferas no cimo das monumentais como "Monumento Seabra Santos, o Reitor com tomates" e depositar lá coroas de flores todos os dias 25 de cada mês;
Festejar o dia do professor trabalhador no 1 de Maio, distribuindo narizes de palhaço vermelhos e barbas à Seabra Santos.

Acho que é suficiente!


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, novembro 04, 2004

Vamos por partes...

Eleições americanas e a vitória do W:
Não me espantou muito que tivesse acontecido, acho que já era esperado por grande parte do mundo. Kerry não era grande candidato e toda a gente o sabia; para além disso W. é uma pessoa de força e convicções, mesmo quando não são as melhores... e aquela frase que ele profere aquando do 11 de Setembro "I want to kick some ass" é tipicamente americana, e quase todo o cidadão do mundo a profere quando chega a um tal ponto de raiva, que só destruindo alguma coisa se sente bem.
Não gosto de diminuir um povo e há povos mais burros. Porém os estados que votaram massivamente em W. são estados em que a maioria é como ele: fanática religiosa, pouco interessados no mundo e nas relações internacionais, interessados com o seu cantinho e com a sua riqueza, com medo de perseguição, e que preferem bater em quem aparece antes de perguntar se são culpados.
Medo tenho é do que ele disse no discurso de vitória: queria que o mandato dele fosse virado para a familia, a moral e a fé... problema é que a fé e moral dos outros não será propriamente a dele. Irá sujeitar os outros à força de balas?

Contestação estudantil e Senado:
Neste momento, em Lisboa, está a haver uma manifestação de estudantes de várias universidades. O motivo: a actual legislação de financiamento de universidades, de funcionamento e autonomia universitária, entre outras. É imperioso que os estudantes estejam bem representado, o que - tirando a AAC - não me parece ser bem o caso. O facto de serem entregues avisos por polícias à paisana em várias associações de estudantes também não ajuda nada e abre um clima da democracia 30 anos depois do 25 de Abril.
Mas há outros assuntos internos que me levam a pensar: disse-se que a Latada deveria ter sido adiada por causa do que aconteceu; porém muitos que eram favoráveis a isso estiveram no recinto a divertir-se; muitos que eram favoráveis a isso não deixaram de sair à noite noutros locais da cidade. Fala-se, e foi aprovado em Assembleia Magna, um pedido ao Conselho de Veteranos para que este órgão pondere a não realização da Queima das Fitas 2005. Eu acho estranho e de uma desfaçatez! Reparem: é destas festas que a AAC vai buscar muitos dos fundos desbloqueados para os protestos e para alimentar as diversas secções culturais e desportivas; a AAC é uma associação multi-cultural e não apenas política; as pessoas não deixam de festejar ou de sair à noite e gastar tanto ou mais do que na Queima e Latada, e ainda pior, estão a dar dinheiro a empresários da noite que nos tratam como numeros... por outro lado, é preciso ter LATA porque nas vésperas de greves à porta fechada e manifs o panorama nocturno é este: A ABARROTAR! Por isso qual é a ideia? Mostrar à sociedade civil que dispensamos uma festa da Academia? Para quê mostrar isso se depois se invadem senados e aberturas solenes, se fecha a cadeados? Que impressão passa para a sociedade civil?
Além do mais há quem vá a Lisboa manifestar-se e fique lá para a noite, só voltando no outro dia, ou mesmo indo de fim de semana... então na Latada não havia clima para se festejar e agora já há?!
Para terminar: sobre o senado! O Reitor já mostrou a sua verdadeira face, agora pouco a pouco vai conseguindo mudar o pouco para o tudo continuar na mesma. De que falo? Conseguiu aprovar a propina máxima à pancada e impedindo os estudantes de mostrarem o seu direito à indignação; pediu que fosse revisto o mais depressa possivel o plano disciplinar para alunos universitários, e no ultimo senado aprovou-se o plano de avaliação dos funcionários. Para quando um plano de avaliação dos professores? De formações pedagógicas a professores? Calendarização de entrega de notas por parte dos professores, com punições caso não fossem entregues a tempo?
Pelos vistos só os estudantes e funcionários estão mal na universidade, e o corpo docente é o unico a caminhar na melhor direcção.
Sr. Reitor e equipa: é preciso ter MUITA LATA!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

terça-feira, novembro 02, 2004

11 de Março 2004
Paris, 8h da manhã

O rádio despertador toca em modo rádio, sintonizado na rádio Alfa. Acordo e olho para o relógio para ver as horas: 8:30. Como muitos eu adianto 30 minutos o relógio despertador para, quando tocar, achar que estou atrasado e assim não passo mais tempo na cama... pura mentira!, porque fui eu que o fiz propositadamente e sei o que fiz.
Ainda meio a dormir começo a ouvir com clareza o que transmitem: o noticiário das 8h. É dificil perceber porque falam na hipótese de um atentado, falam de uma estação de comboios, falam de Madrid.
Levanto-me e vou tomar um duche, preciso de ir para a escola. Enquanto me visto a seguir ao duche, ouço o noticiário das 8:30 e percebo o que aconteceu: em Madrid, nas primeiras horas da manhã, houve um atentado numa estação de comboios. Ainda não se sabe muito bem, mas parece que várias composições explodiram e tudo indica que foi um atentado bombista. Fico um pouco estupido com aquilo: atentado bombista numa estação? Pessoas que se deslocam para os seus trabalhos, tal como eu o vou fazer daqui a uns momentos...
Saio da residência e atravesso a Cité Universitaire ainda a pensar naquilo. O dia está meio nublado mas o sol desponta por entre núvens negras; o chão ainda está meio molhado do aguaceiro nocturno, coisa que tem acontecido todos os dias. Passo a entrada da Cité Universitaire, atravesso a estrada em direcção à estação de RER (Réseau Express Régionale, uma espécie de comboio suburbano), e corro para apanhar o RER-B até à próxima estação: Denfert Rochereau. Apesar de não ter medo de sair à rua, apesar de ter ouvido que já aconteceu algo parecido em Paris, vejo que a população está serena; possivelmente muitos ainda nem sabem o que aconteceu, mas a pressa é a mesma dos outros dias, e não há sinal de tristeza, de medo ou inconformismo. Chego a Denfert e dirijo-me à linha 6 do metro: mais 3 estações e estou no destino - Place d'Italie!
Apesar de estar aqui à cerca de duas semanas ainda preciso de recorrer ao mapa de linhas do metro: a rede é muito extensa e eu tenho que estar na escola às 9:00, por isso não me quero enganar. Logo de manhã, nas estações de metro como no RER passam milhares de pessoas, sempre apressadas a correr nas escadas rolantes, corredores, etc. Lembro-me que, quando decidi fazer um periodo de estudos no estrangeiro, no Programa Erasmus, a minha primeira decisão era ir para a Suécia, porém aí já não havia vagas e virei-me para Madrid... a ultima escolha era Paris... Madrid, interessante!
Ao chegar à escola, ainda sem trabalho especifico por fazer (ainda não tinha seminário atribuido), fui aos computadores ver as ultimas noticias, tanto dos jornais portugueses como dos franceses. O primeiro ministro espanhol, José Maria Aznar, atribuia, sem qualquer dúvida, aquele horrifico acontecimento à ETA. Sorrio na minha ignorância... como tenho algum interesse pelo País Basco (mais pela língua) já li alguns livros sobre a luta dos bascos à autodeterminação e sei que este não é o método da ETA: eles fazem assassinios seleccionados a politicos, gente importante ou influente, e raramente matam civis indiscrimindamente e às centenas. Porém nunca se sabe... mas fez-me lembrar aquele dia 11 de Setembro, em que estava a ver televisão às 14h e vejo o segundo avião a embater nas torres do WTC... semelhanças? Muitas... só que aí não eram Bascos mas Fundamentalistas Árabes.
Li que o governo Francês levantou o plano Vigiprate com receio de retaliações de que já foram alvo no passado. Este plano, uma espécie de plano de emergência, funciona com cores, e começa neste momento no mais grave: vermelho. Assim, sempre que seja pedido em qualquer local do estado, na rua, transportes, a nossa identificação, temos de apresentar. Podemos, também, ser revistados se nos acharem suspeitos.
Quando fui almoçar à residência já notei diferenças nas estações de metro e RER: vários avisos nos altifalantes para que as pessoas tenham atenção às malas e que avisem caso detectem alguma abandonada; vê-se "policia" com a farda da RATP (empresa de transportes de Paris), parecidos com a nossa policia de intervenção, com pistola e cacete, a patrulhar as estações, a entrar nos transportes e fazer viagem até à estação seguinte.
Durante o resto do dia notei que na rua havia mais policias, nunca sozinhos, e cheguei a assistir a algumas pessoas a serem revistadas: mais grupos de jovens com aquele estilo chamado "dred", ou com aspecto de muçulmanos, ou pretos. Não vi um branco a ser revistado, tirando esses miudos em "gang" vestidos à "dred". Por um lado fiquei aliviado porque não seria considerado suspeito, mesmo transportando uma mochila preta com o simbolo da AAC (que para eles é esquisito).
À ida para casa comecei a pensar no que eles consideram como suspeito. Pode ser qualquer um, mesmo eu. Posso ter a barba por fazer e ser mais maltrapilho, ou posso estar imaculado; será que são só os muçulmanos que são suspeitos? E como se distingue um etarra? Tenho dois colegas Erasmus de Bilbau - o Iñigo e o Fernando - será que são suspeitos?
Chego à residência e o meu colega do quarto em frente pergunta-me se sei as noticias. Ele estava com um ar chocado. Fouhad, marroquino e muçulmano de religião. Rapaz simpático, baixo, de óculos e ar inteligente. Disse que sim e também estava chocado; perguntei-lhe se já se sabia quem tinha feito aquilo e ele disse que tinha sido um grupo muçulmano... fiquei um pouco inibido pela forma como ele disse aquilo porque notou-se o choque dele pelo acto cometido e não um orgulho, ou uma defesa dos interesses islamicos. Convidei-o a beber um Porto, que tinha, sábiamente, levado na mala, e ele recusou cordialmente: não bebia, era contra a religião dele.
Voltei a pensar na questão dos suspeitos: como é que se pode olhar os muçulmanos todos pela mesma bitola? Como se pode pensar que uma cidade como Paris, com (arrisco dizer) um milhar de habitantes muçulmanos possa ser alvo de ataques terroristas daquele género, cometidos por pessoas tão simples como o Fouhad?
O que mais me choca nesta história toda é haver grupos de pressão islâmicos que fazem actos bárbaros deste tipo como que a castigar o ocidente e toda a sua tecnologia, da qual eles utilizam para matar em vez de fazer o bem. Dessa forma só conseguem fazer com que muitos indiferentes e anónimos virem o seu ódio contra uma comunidade pacífica, simpática, aberta e acolhedora, como são os muçulmanos. Estes, sem qualquer culpa, são mal vistos por todos, são vistos como pólos terroristas... piores que pessoas com doenças contagiosas.
É este o mundo em que vivemos! Até vir embora para Portugal, por algumas vezes fui evacuado do metro, estive em estações próximas a outras onde havia malas abandonadas. Nunca tive medo, é inevitável. Com medo não se sai de casa, e mesmo aí podem acontecer acidentes; só os que não morreram em Atocha ou em New York é que se aperceberam, e ficarão para sempre marcados, pelos atentados. Esses sim ficarão sempre com medo; quem morreu nem sequer soube que foi vitima de uns imbecis que usam a religião para os seus propósitos pessoais. A população em geral continua a sua vida: não é por morrer uma formiga que a colónia deixa de trabalhar...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sexta-feira, outubro 29, 2004

ECLIPSE

Aguardo ansioso por ver-te, ó lua cheia, motivo de amores e imagem de divindades. De ti espero a luz que ilumina o mundo na obscura noite.
Hoje é um dia especial: vais fugir de mim, colocar-te temporáriamente nas trevas, para voltares calma e resplandescente ao teu lugar original - a olhar-me, a iluminar-me, a deixares-te adorar por este ser minusculo que por ti se enamorou.
Como és bela! Notam-se, ao olhar com atenção, que em ti se vêem marcas temporais de um passado dificil, qual mulher lutando pela sua reviravolta social; as cicatrizes que mostras orgulhosamente são marcas de periodos de lutas conturbadas, de formação, de afirmação.
Começas a desaparecer lentamente no céu nocturno. A Terra, planeta invejoso mas onde sobrevivo, impede-me de continuar esta paixão platónica, este amor longinquo, que abordo com ansiedade pela distância, mas também calmo porque sei que o teu amor é recíproco. Ver-te partir é um encobrir do mundo no escuro da morte, na ilusão aparente que tudo o que era visivel e seguro é agora um grande bando de fantasmas negros que atacam no negro da noite.
Encobre-se o céu - acontece aquilo que eu temia! Não vou poder ver o teu aparecimento fulgurante, o teu renascer de uma morte fingida e não vislumbrada. Vais sentir-te morta pela minha falta de atenção, pelo meu amor vazio, que só se demonstra nestes momentos.
Entristeço. Sinto dor. Sofro. Porque nunca mais te vou ver. Porque nunca mais te vou poder conhecer e tocar. Porque nunca mais me vais deixar cortejar-te como bom admirador. Porque falhei e não admites falhas. Choro...
Com as minhas lágrimas de tristeza profunda abre-se um precedente: ouves-me ao longe quando ainda espreitas por uma fresta! Ouves o pingo caído, ouves o soluço verdadeiro, vês o manto fingido que encobre a presença de ambos. Aí moves montanhas e mundos, abres tempestades e marés e nuvéns e sofrimentos e tristezas! Rompes o manto de núvens.
De olhos ainda marejados não observo o teu esforço colossal. Mas percebo, com uma alegria que em mim começa a despontar, que me iluminas mais forte que nunca. Como um holofote de glória para mim dirigido! A alegria transborda, e ainda com os ultimos restos de mar a escorrer-me pela face, esboço um sorriso, o coração quase que sai do peito, a respiração aumenta!
Voltaste para mim; voltaste para iluminar!
É assim que vejo um eclipse lunar - uma história entre dois apaixonados que não se deixam vencer pelas dificuldades constantes do amor e da vida.
Obrigado Luna!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, outubro 28, 2004

Na impossibilidade pessoal de escrever alguma coisa de minha autoria, qualquer que fosse o conteudo, recebi hoje por e-mail este texto. Como achava interessante distribuir mas estou com dificuldades em enviar, decidi publicá-lo no meu blog: não só enriquece este espaço com algo de belo e muito bem escrito (a que nunca vou conseguir atingir tal estado), como enriquece cada um que ler e sentir o que leu.
Prometo voltar com posts de minha autoria brevemente!
A todas e todos os leitores,
beijos e abraços.
Paulo Aroso Campos

Dar ou amar?
(Luís Fernando Veríssimo)

"Dar não é fazer amor. Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais.
Dar é bom.
Melhor do que dar... só dar por dar.
Dar sem querer casar....
Sem querer apresentar pra mãe...
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado...
Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.
Mas dar é dar demais e ficar vazio. >Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar primeiro abraço de Ano Novo e pra falar: "Que que cê acha amor?".
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.
Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, >uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão. Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar
Experimente ser amado..."

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

domingo, outubro 24, 2004

Perdoem-me o egoismo de recorrer a uma musica francesa para este post, mas esta é genial

Zoé - Luke

ne te blesse que d'air pur
couvre-toi d'étincelles
zoe,
trace donc le trait qui rassure
et que ta ligne soit belle
zoe,

tes amours
sont des légendes
que désapprouve
ton ange
ton ange

n'étreins qu'en morsures
les seigneurs de la guerre
zoe,
fait suinter leur armure
qu'ils y voient de l'univers
zoe

tes amours
sont des légendes
que désapprouve
ton ange
ton ange




Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, outubro 21, 2004

"Estamos aqui para cooperar com os estudantes"
(Frase utilizada pelo famoso Sargento Saraiva da GNR, no programa de rádio Bandamecos)


Faixa de Gaza ou Pinhal de Marrocos?

Nunca fui apologista de invasões de Senado para impedir votações, mesmo sabendo que seria a unica forma de protelar uma decisão injusta, como pagar uma propina anual de 880 Euros para frequentar uma Universidade Pública, financiada pelo Orçamento de Estado; sempre achei que seria mais correcto, responsável e motivo de consciência tranquila, pelo menos, haver da parte dos estudantes senadores um rotundo "não" a este valor de propinas, no entanto noutras situações em que não foi possivel a invasão do dito órgão, estes estudantes decidiram-se pela saída da reunião. É uma decisão que respeito apesar de não concordar, e respeito principalmente porque saiu de um órgão democrático da Academia - a Assembleia Magna, onde todos os estudantes da Universidade de Coimbra podem participar e votar as moções.

No entanto o que hoje se passou seria motivo de orgulho de um qualquer Rosa Casaco, ou elementos da PIDE, ou mesmo o nosso "amigo" Oliveira Salazar terá dado uma risadinha de escárnio no caixão. Porque uma pessoa com ideias de esquerda, assumidamente comunista e filiado nesse partido, tomou uma atitude prepotente, estupida e irracional, ao chamar a Policia a terrenos Universitários para permitir a reunião de Senado e impedir uma possivel invasão. Para isso a Policia estava à porta a identificar um por um os estudantes senadores, condição unica da sua entrada no órgão, como se fossem emigrantes na fila de entrada do Aeroporto, onde só alguns têm visto de entrada. Um professor da Faculdade de Direito sentiu-se humilhado na ultima greve quando os alunos lhe impediram a passagem; que dizer se esse senhor fosse abordado pela Policia, para se identificar, para poder fazer parte da reunião de um órgão democrático?

O Magnifico Reitor, com esta posição, mostrou a sua corrente stalinista de funcionamento de uma ideologia ultrapassada, sangrenta, a tentar justificar o injustificavel com a candura de rosto e ignorância de espírito. Mostrou como sabe dar a cara para criticar em belos discursos, floreados de criticas (quiçá copiados de algum alfarrábio ou cassete na sede de partido), e depois agir de forma completamente fora desse seu discurso, chamando a polícia para conter a raiva dos bandalhos dos estu(pi)dantes...

Sr. Reitor, tenha paciência e não engane mais ninguém! Não precisamos de gente da sua laia, com vómitos de moral e bons costumes que nem nos tempos da velha senhora eram utilizados. Ponha a mão na consciência (porque uma bala é pedir demais) e renda-se às evidências! A demissão não é uma palavra vã e ainda lhe dá uma restia de dignidade.

Para bem da Universidade de Coimbra, o Magnífico Reitor Fernando Seabra Santos e todos os elementos do corpo docente que fazem parte do senado deviam pintar a cara de merda, pedir a demissão para esconder a vergonha, após explicarem porque é que a Universidade de Coimbra e algumas faculdades estão na ruína e precisam da propina máxima de cada aluno para que o buraco orçamental que cavaram não alargue!


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, outubro 14, 2004

Teoria do caos, e repercussões...

... ou uma opinião sobre a Abertura Solene na Universidade de Coimbra.

"Renato Teixeira assume que este grupo adopta "uma táctica de desobediência civil de modo a fazer com que o Governo caia o mais rapidamente possível"."
in Diário As Beiras, 14 Outubro 2004

A famosa teoria do caos postula algo parecido com isto: o bater de asas de uma borboleta na Florida está directamente ligado ao aparecimento de um tufão no Japão. Com esta declaração de Renato Teixeira durante a invasão na abertura solene, vejo que este criativo do Conselho das Républicas conseguiu mais um passo para a concretização desta teoria. Veja-se: desobediência civil para fazer cair Governos! Invasão de uma abertura solene da Universidade de Coimbra! Já ouço o bruá da populaça!
Medo! Dor!... pena...

Desde que entrei na Universidade, no longinquo ano de 96, ainda com a Zita Henriques nos destinos da AAC, a luta contra as propinas já estava num movimento descendente, mas ainda estava quente. Nessa altura o Conselho das Républicas era um conjunto de pessoas que admirava porque, além de representarem algo nobre como as républicas - que se destacam pelo companheirismo, democracia, integração, tertulia, respeito (sejam pela ou contra a praxe) - apresentavam-se sempre em Assembleias Magnas bem informados, com uma certa dose de ironia e critica bem estruturada, por vezes de forma abrupta diziam as verdades que ninguém gostava de ouvir, apresentavam a ferida e tocavam sem qualquer preconceito ou medo. Desses manifestos, sempre mostrados por um deles, saiam sempre propostas ou moções, mais radicais do que as da DG, como é normal, mas sempre possiveis de fazer e com aquela ponta de irreverência e imaginação que sempre caracterizou os alunos de Coimbra.
Neste momento, com a extinção do Colectivo Ruptura, o Conselho das Républicas cumpre um excelente papel na divulgação das Magnas e atrai algum do seu público, sempre interventivo e com incentivos a que os mais novos se expressem no palanque.

Mas... há sempre um mas... neste momento lamento dizer, mas a irreverência que antes caracterizava, tornou-se amargura, fel. Um ódio que passa por cada palavra de cada elemento que toma a palavra; um radicalismo exacerbado que eles mostram com opulência, como que para ridicularizar os quantos que são mais certinhos. Sem qualquer humildade, eles põem na boca dos outros as suas palavras e desprezam opiniões que são opostas das suas; não têm pejo em apelidar de fascistas quem eles não concordam, e dão sempre o mote das palmas/apupos sempre que acham isso necessário.
Depois das fantochadas e palhaçadas em Magnas, em que gostam de acusar os outros de não terem quaisquer ideias, de umas quantas defesas de honra e protestos para quem não gostam da opiniõa, amansam a multidão e dizem aquilo que a maioria quer ouvir. Nos discursos, além de citações, também não se vislumbram muitas ideias ou moções: só opiniões, tal como os que eles criticam.
Para o fim, e em apoteose, Renato Teixeira, líder, vem apresentar as propostas do grupo, ou dele. Muitas já vêm de cassetes anteriores, que parece que nem sequer foram actualizadas, excepção feita no seu discurso. O resultado, seja ele qual for, é aquele que já começamos a estar habituados: mesmo que não seja aprovado o que eles propõem, eles tratam de fazer na mesma, como que demonstrando que não precisam das Magnas para nada porque, afinal, a unica palavra que eles conhecem é RADICAL. Ah, não, também conhecem LUTA! Com todos os meios possiveis e imaginários.
Não considero o que eles fizeram na Abertura Solene como desobediência civil: foi antes uma acção desesperada de alguém que quer protagonismo, que quer sobressair da multidão. A mim já tinha sobressaido nas primeiras exortações que ele fez num Fórum do Luso, onde estive presente. Onde admirei a forma irreverente como ele falou, e como mostrou estar bem preparado e bem informado; onde ouviu calmamente quando lhe fui apontar um erro, e ele agradeceu cordialmente. Admirei todo o trabalho que eles tiveram, pela noite dentro, para apresentarem propostas, além da DG.
Não se trata de um ataque pessoal, somente uma opinião geral de um acto ocorrido. Que não gostei, e que vai provocar, certamente, represálias do corpo docente, seja em Senado, Assembleia da Universidade, seja onde for. Órgãos que podemos colocar a nosso favor, mas que temos colocado contra nós, numa perspectiva de luta derrotista à partida, onde perdemos toda a nossa razão, ao querermos chocar com as nossas acções. Tal como acontece com os fundamentalistas iraquianos, que divulgam as imagens das decapitações para chocar, só faz com que a raiva seja maior contra eles e que seja impossivel uma solução pacifica, responsável. Neste caso acho que se está a optar por uma fundamentalização em que ninguém ganha, e que vai abrir ainda mais fracturas no depauperado movimento estudantil (já houve um pedido da Reitoria para que a DG/AAC se demarcasse daquele acontecimento).

O momento é de reflexão: afinal para que servem as Magnas, se os elementos mais interventivos cada vez permitem menos opiniões e acabam por agir a seu bel-prazer e sem terem o acordo dos estudantes que ali se deslocam?

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quarta-feira, outubro 13, 2004

Cara lavada...

Já era tempo de alterar o visual do meu blog. O outro estava muito carregado, chato, cansativo. Por mais que escrevesse lá, por mais imaginação ou irreverência ou mau feitio que demonstrasse, aquela visão já não se adequava à minha forma de ser e de estar. As opiniões continuam a ser as mesmas, ou escritas da mesma forma, bem como os textos mais criativos - inclusivé quero voltar a um campo que já não toco há muito: poesia própria! - com a inspiração certa tudo se consegue e agrada a uma maioria.
O que vou tentar, daqui para a frente, é actualizar pelo menos semanalmente este blog, seja com uma notícia, uma anedota, um batanete, ou simplesmente uma mulher nua... o quê? Fora de questão?! Porquê?!!... ok, sem nudez, mas não falo se fui ou não pressionado.
Ainda não sei bem como funcionam os comentários ou se o marcador de visitas funcionam bem, mas também era tão pouca gente a comentar, menos do que eu pensava, que por vezes dava vontade de nem sequer escrever. Acontece que ultimamente tenho tido comentários bons de gente boa, pelo que gostaria que essas pessoas, ou outras que queiram comentar os artigos escritos, ou o funcionamento, ou algum aspecto do blog, o façam à vontade (mail: paulo.aroso@zmail.pt).
Continuarei, com todas as minhas forças (ou assim o espero) a ser o mesmo espirito critico, a demonstrar um bom humor (entre o negro, o cáustico e o sarcástico), e a indignar-me sempre que seja caso disso.

A todas as leitoras e leitores, que adorava que me enviassem um feed-back (comentário) a este post (pode ser anónimo ou com nomes estupidos), o meu mais sincero muito obrigado!

Cumprimentos e
Saudações Académicas!
Paulo

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sábado, outubro 09, 2004

Deitas a cabeça no meu colo...

... e pedes-me um carinho. Não é a primeira vez que vens ter comigo assim, carente, em sofrimento, triste. De todas as vezes engulo em seco, faço meu o teu sofrimento, e acolho-te como se fosses uma parte de mim, no meu colo. Onde deitas a cabeça e choras. Onde te recolhes e choras e dormes.
Massajo-te o couro cabeludo com carinho e dedicação, como se estivesse a fazer algo científico, algo de costume, que faço já há muitos anos; empenho-me em fazer-te sentir acarinhada, desejada, calma, descontraída, relaxada.
Enfim adormeces, cara de anjo. Contemplo-te com a tua expressão inocente, os teus cabelos longos e lisos em desalinho em cima de mim, as minhas mãos a percorrerem num pentear/despentear constante. Imagino o que possa fazer sofrer uma alma que disso não precisa, que só luta para ser feliz num mundo bárbaro, onde nem tudo o que parece é, e onde a felicidade pode estar muito mais perto do que ela pensa; ou pode não estar...
Olho-te os olhos fechados, silenciosos, calmos. Em descanso, em paz, penso. Vejo os lábios - aqueles mesmos que escrevem aquele sorriso maravilhoso que me activa o coração - e beijo-os com carinho e compaixão, num olhar imaginativo e introspectivo que nunca seria capaz de repetir na realidade - "qualquer dia ela descobre este segredo, esta paixão escondida... o meu destino"

"Fazia-te tão feliz, se me amasses..." é o que todos os apaixonados pensam de quem sofre e não nos ama como nós desejariamos; "eu amo-te e faço-te feliz, pelo menos nesse sono calmo..." é o que vemos e imaginamos, no mais intimo e puro das nossas capacidades inconscientes, enquanto gravamos aquele momento feliz. O momento em que ela nos procura, triste, e que transformamos, naquele segundo, aquela insegurança miserável e sofredora num estado calmo de descanso apaixonado.

Amor, virtual, real, amor... tudo palavras. Qual delas verdade real, qual delas verdade virtual...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sexta-feira, outubro 08, 2004

Sobre as Leis de Murphy

Acontece que ontem pude experimentar na prática a veracidade das Leis de Murphy, com uma pequena variação. Para quem não conhece estas famosas leis, elas postulam que as coisas acontecem sempre pelo pior lado, ou seja, o caso de uma torrada com manteiga: cai no chão sempre do lado da manteiga!
Ontem, por altura da Noite dos Horários da Faculdade de Economia, que decorreu no Pavilhão dos Olivais, submeti-me a uma experiência inovadora e unica no panorama nacional: como fui para lá sózinho, mas sabendo que lá estava gente (o meu irmão caçula, por exemplo, podendo ainda encontrar outras pessoas - como a ex-presidente de núcleo mais sexy da AAC, hehehehehehe) comprei umas senhas de cerveja e fui circulando pelo pavilhão. Ao chegar à ultima senha pensei: agora é que vou encontrar as pessoas conhecidas!
Mal o pensei melhor aconteceu: se até ali tinha encontrado algumas pessoas, esporádicamente, conhecidos, após estar com a "ultima" cerveja na mão encontro logo (e solitário) o Pedro do Bossa... começamos a combinar ir comprar mais umas senhas quando aparece o mano caçula, e que estava bem acompanhado pelos seus colegas da secção de jornalismo da AAC!
É claro que isto é uma experiência que pode não ter decorrido nas condições padrão, ou nem querer dizer nada... mas em vários casos, como na maioria das festas e celebrações, acontecem sempre coisas dignas das leis de Murphy: nunca encontrarmos quem procuramos, só encontrarmos pessoas conhecidas quando estamos para ir embora... coisas desse género!

Por outro lado, ainda durante o meu Erasmus em Paris, já tinha pensado neste pormenor, e em como estas Leis seriam muito bem aplicadas na Constituição Portuguesa. Observem bem: o português é rei do desenrasque, só está bem a transgredir (fugir a impostos, conduzir com alcool, estacionar onde não deve, não pagar o que deve, endividar-se com o que tem e não tem, arranjar todo o tipo de subterfugios para ter menos cobranças e mais retorno...). As Leis de Murphy aplicadas à nossa constituição e a alguma legislação seriam o arranque para tornar Portugal o país mais liberal, mais desenvolvido, mais rico e mais tudo da Europa, do Mundo, do Universo!

Ou então não... (Lei de Murphy do contraditório, de autoria própria)


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quarta-feira, outubro 06, 2004

Sobre a "Quinta das Celebridades"...

Não é, de todo, um programa que me interesse. Não sei, tão pouco, todos os intervenientes nesse programa a que não acho graça alguma - tal como big brothers e afins... porém hoje à hora de almoço estive a apreciar alguns minutos desse programa num resumo transmitido na TVI.
Como não podia deixar de ser, a TVI tratou de contratar pessoas mais ou menos célebres, e algumas polémicas, como o actor (porno) brasileiro Alexandre Frota, e aquele ser abjecto e "estiloso-tão-paneleiro" que é o José Castelo Branco - noutros países, como em França, também tentaram contratar um actor porno, no caso o conceituado Rocco Sigfredi, mas não conseguiram.
Olho para esse actor brasileiro com um misto de inveja e de admiração. Inveja porque ele foi namorado (ou marido) da actriz Cláudia Raia, que é uma deusa em carne e osso; inveja porque ele contracenou com as mais belas e conceituadas actrizes brasileiras, tendo mesmo papéis amorosos com elas; inveja porque fez filmes porno nesse grande mercado de mulher bonita e "gostosa" que é o Brasil... admiração porque teve a coragem de entrar num programa de televisão que é uma porcaria pegada, com pessoas de baixo nível e que querem somente um pouco de notoriedade pelas razões mais distintas; admiração porque eu, e mais umas quantas pessoas neste país, não seriam capazes de entrar para um concurso/programa de TV onde estivesse esse ser que a Tia Cinha oportunamente apelidou de Castelinha. Nem por todo o dinheiro do mundo!

Contemplo com algum escárnio a cara com que o brutamontes Frota acorda extremunhado com o ressonar animalesco do finissimo e gay Castelinha, e olha para ele num misto de raiva e estupefacção, como que a dizer: "como é que este Zé Merdas, que anda para ai a gabar-se da sua finesse, dos locais onde vive, do que conhece, da sua pobre figura em fio dental, e da sua pose fingida, pode ser tão ou mais animal que muitos animais durante o seu sono?".

Ainda acho arriscado a TVI ter colocado esta pobre figura, que nem sabe bem qual é o seu sexo, junto com tantos animais. A bestialidade é uma coisa horrorosa...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

domingo, outubro 03, 2004

Para acrescentar...

Já não actualizo o meu blog há muito tempo, tempo demais até, o que pode fazer pensar às pessoas que costumam consultar que já não ligo, ou não tenho a mesma disposição para a escrita, crítica, enfim: o que me propus com a criação deste espaço.
Não é esse o caso! Nos ultimos tempos tenho balançado um pouco entre a volta à escrita creativa de uma forma mais consistente, ou a actualização de factos, dando a minha opinião pessoal como já fiz em determinados assuntos; fiquei também pensativo relativamente à actualização com um texto satírico, com veia humoristica, sobre as assembleias magnas da AAC, ou o corrente periodo das universidades. Mas mantive-me calado, e porquê?
Ultimamente aconteceram casos, noticias, que me têm deixado um pouco triste, e que vou enumerar sem comentar:
  • o caso da menina supostamente assassinada próximo de Portimão;
  • a forma como o povo se comportou, a ir em romaria ao local como se vai a Fátima;
  • como as pessoas se apresentam preparadas para fazer justiça pelas próprias mãos atendendo a factos não provados e não consumados;
  • como os ministros tratam o comum cidadão por um lado, e os administradores por outro: para uns sacrificio, para outros reformas do Euro-Milhões;
  • a bandalheira politica em que flutua este país, com o chamar das camisolas pelos partidos, como se a escolha não devesse ser consciente, mas sim pela cor da camisola que dá mais a cada um;
  • a forma mesquinha e proibida como uma ministra foge com o rabo entre as pernas de um encontro com estudantes universitários, levando o motorista a fazer uma contra-ordenação grave (não sancionada);
  • como os professores e responsáveis de departamentos lambem o cú dos ministros, procurando maior apoio para as suas actividades, nem pensando naqueles que os sustentam - alunos directamente, e pais indirectamente - muitos deles em grande dificuldade de terminar os cursos;
  • a forma estupida de aproveitamento popular que tem sido dado às SCUT's: foi uma má medida de um mau ministro de um mau governo, que pôs em causa orçamentos de futuros governos mesmo se fossem do próprio partido... porquê defender?;
  • como todas as incongruências, imbecilidades, estupidez, corrupções, favorecimentos, etc., se esquecem quando se chama o "sistema" do futebol e se procuram males, quando o mal está na sociedade;
  • internamente, como ainda há um grupo de estudantes, estes sim parados no tempo e ignóbeis, que usam as assembleias magnas da mesma forma que os árabes usam o corão para matar, e espalham a sua intolerancia populista junto de mais uns quantos inconformados... simplesmente porque podem, têm familias com posses, e costas largas... desobediencia civil, sr. Renato Teixeira?! O que pensas fazer que O PORTUGUÊS NORMAL NÃO FAÇA NO SEU DIA A DIA?!

Disse que não ia comentar e acabei por fazê-lo. Os brasileiros, a braços com problemas de identidade, tal como nós, têm uma excelente expressão para isto: um cházinho de semancol (da frase: vê se te manca, ou tipo, tomem juizo!).

É que, sinceramente! Dá vontade de dizer: "Foda-se, assim não dá!!!".

Ao menos temos "O Gato Fedorento" para nos animar, e tal...; perdoem-me pela linguagem.


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sábado, setembro 25, 2004

Coloco aqui este excelente poema de autoria de Manuel Alegre, musicado por António Portugal e cantado por Adriano Correia de Oliveira, essa voz magnífica do Fado de Coimbra. Tem uma razão de ser: ao chegar a casa do trabalho, estava a dar um programa de tv (na 2) com vários intérpretes, nem todos do fado, e que cantaram várias musicas, desde Zeca Afonso e esta, entre outros. Esta foi e é especial: não só é um belo fado, com as vozes de sereia da guitarra de Coimbra, melódica e bela e apaixonada, como também foi um fado que ouvi na minha estadia em Paris, na Rádio Alfa, e que me emocionou bastante, ao ponto de ficar arrepiado, de cantar em conjunto e de terminar o fado alagado em lágrimas: de emoção, de alegria por estar tão longe e tão perto de casa, de saudades de todos quantos estavam longe de mim mas que estavam, naquela musica, tão perto do meu coração.
A música tem várias virtudes, uma delas é ser um elemento de comunicação, que tal como as cartas, leva sentimentos e emoções nas palavras dos outros. Estas palavras bonitas, que falam subtilmente de um tempo dificil para todos os portugueses, em que a Liberdade não existia, demonstram todo o amor que temos pelo país, pelas pessoas, pela cultura, mas que sempre o esquecemos nem sempre por valores mais altos.
Deixo-vos as palavras, e se puderem acompanhem com a musica.

Trova do Vento que passa (Letra: Manuel Alegre/Música: António Portugal)

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo
.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo
.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quarta-feira, setembro 15, 2004

Inspiração repentina, e volto à escrita creativa...

Não sei bem o que foi, possivelmente um anjo passou e deixou-me este pedaço de creatividade. Algo que não posso deixar de publicar, afinal não é todos os dias que a Musa me chama e me inspira!
Obrigado Musa, espero que gostes! ;)

Trânsito - parados no meio da confusão da cidade; cinzento - núvens que trazem um aguaceiro irritante; vento - ligeiro mas que muda a direcção da chuva, e molha propositadamente, gozando com a minha cara...
Fecho os olhos e vejo muito para lá desta realidade que habito. Fecho os olhos e vejo claramente uma imagem: uma cara, um corpo, um sorriso. A alegria contagiante invade-me o corpo e provoca-me um arrepio.
Sinto que sorrio para corresponder ao teu; sinto uma ponta de ridiculo por poder estar a sorrir na realidade, de olhos fechados, no meio do caos do trânsito. Mas sinto o tal arrepio de felicidade porque vejo que do outro lado, naquela realidade momentânea que é o mundo de olhos fechados, estamos a olhar fundo nos olhos do outro, e a sorrir de felicidade, da alegria de mais um encontro, da perspectiva do abraço de sentir o perfume bom do outro.
Sei que me vais ver; sei que o vais ver. Pode não ser no preciso instante temporal, mas sei que fecharás os olhos; sei que verás a imagem, este mundo que agora estou a ver, mas na tua perspectiva. Sei que ficarás tão feliz quanto eu perante essa visão e que sentirás que na realidade real farás o tal sorriso de olhos fechados.
Um sorrir alivia o mundo, e o teu é belo! Um par de olhos cristalinos, sinceros, ilumina tudo e todos que os possam apreciar e ver a brancura. Consigo aquecer-me perante esse olhar penetrante, ansioso e atencioso, que pelos meus penetra fundo, e procura dentro de mim a palavra amor.
Palavra que te exprimo imediatamente com o olhar; que respiro com mais força ao ver-te; que aperto com mais força no teu abraço; que beijo com carinho nos teus lábios; que repito incessantemente, em murmurio, ao teu ouvido...
Abro os olhos... continuo no mesmo trânsito na mesma chuva no mesmo vento brincalhão que salpica a chuva.
Noto ao longe um pedaço azul de céu por entre as núvens carregadas... afinal ainda posso ter esperança!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt