terça-feira, dezembro 28, 2004

Persistência de memória
"Tenho vontade de levar as mãos
À boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraía os outros, os tais sãos. "
(Opiário, Álvaro de Campos)

(persistance of memory, Salvador Dali)
Ficas na cabeça como a tontura de uma droga fumada, como o ziguezague do excesso de cerveja numa noite de alegre tertulia. O teu olhar vivo, o som que lembro e relembro da tua voz sadia e livre e doce, com que encho os ouvidos com palavras e frases de amor em imaginação. E em realidade.
Do sexo, que em ti conheci e do qual me viciei - até à morte, até à loucura, até à tontura inebriante de já não poder mais, até ao ar faltar nos meus pulmões e ser necessário insuflar. Falta, fadiga, filosofia. A experimentação e a emoção juntas num extertor de prazer.
Beijo-te os olhos, as mãos. Afago, com o teu corpo macio, a minha pele áspera; o arrepio de excitação, o alegre pulsar de uma nova vida que cresce, ruborizada, no centro do corpo. Que te transmito, em energia - e em suor, que sorvo; e em gemidos que bebo; e em arfos de cansaço lânguido que colocam um ponto final no meu esforço.
De te ver feliz.
De te dar prazer...
Uma memória.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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