terça-feira, janeiro 31, 2006

Such a lonely day
And it's mine
The most loneliest day of my life

Escuro em lugar da memória que devia existir. As lembranças surgem em flashes e com cada um aquela pontada dolorosa na cabeça. Olhos semi-cerrados e aquela "ressaca guerra". E o sabor na boca, e a língua de cortiça. Detergente.
E a tentativa de lembrar, e o que não existe nem existiu. Se não lembro. Se não lembras. Se o colectivo.
[Reagi quando te encostaste, quando a tua mão rodeou os meus cabelos. Tocaste-me no pescoço, tocaste-me...]
Leio o livro, a luz é fraca. Não me lembro e quero esquecer que não me lembro. Pode ser que assim me faça lembrar.
[Nem guardei o teu número, nem o pedi!... perdi a oportunidade de to pedir, de o ter, mesmo que fosse para não lembrar, mesmo que fosse para esquecer.]
Trechos que parecem estupidamente verdadeiros. E que não lembro...

Such a lonely day
And it's mine
It's a day that I'm glad I survived

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Mais um teste... (o resultado até é interessante!)


How evil are you?


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
A informação que se encontra na net:

Fogachos ou ondas de calor, que causam uma vermelhidão súbita sobre a face e o tronco, acompanhados por uma sensação intensa de calor no corpo e por transpiração. Podem aparecer a qualquer hora e muitas vezes são tão desagradáveis que chegam a interferir nas atividades do dia a dia.

Frotteurismo

É a atitude de um homem que para obter prazer sexual, necessita tocar e esfregar seu pênis em outra pessoa, completamente vestida, sem o consentimento dela, excitando-se e masturbando-se nessa ocasião. Isso ocorre mais comumente em locais onde há grande concentração de pessoas, como metrôs, ônibus e outros meios de locomoção públicos.

... há coisas em que a ignorância é a melhor atitude...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Hoje acordei com batuques na cabeça. Não dor, melodia. Suave. Som, musica, vibração.
Voz, num salto(rappa, trechos musicais), num segundo, naquele momento em que sorri ao abrir os olhos. Era dia, como podia ser noite, mas o sol brilhava no meu sorriso, na leveza pluma que inundava o espírito.
Molhei-me com água quente, lavei-me, mas a invisibilidade que me deu a leveza só se notava com o contorno da água, em cascata, a descer pelo corpo não presente, espírito enorme de bem estar.

"As ondas de vaidades
inundaram os vilarejos
E minha casa se foi
como fome e banquete
Então sentei sobre as ruínas
e as dores como o ferro
a brasa e a pele ardiam
como o fogo dos novos tempos
ardiam
como o fogo dos novos tempos"

Não voei com o vento, nem mudei atitude, continuei assim naquela presença etérea, sentido as almas mais próximas [ao meu lado]. Com o som, a ler, compenetrado, enquanto estudava atentamente um futuro maquinado, perfeito na concepção, dificil [estou bem! estou aqui!] de entender. Com atenção tudo corre, tudo se percebe. Maneira que... fecho os olhos.

"E regaram as flores no deserto
e regaram as flores com chuva de insetos"

Passou. Ainda aqui está mas passou. Ainda sou visivel mas passou. Sorrio e vejo sorrir mas passou. E continua a passar e a estar e a ficar e a aparecer. Como as núvens, que podem ter a forma de um demónio ou de um cristo.
Ou de uma flor, de um sol. Que brilha.
Acordei com sol na alma!...


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Remeto-me a pensamentos internos, a olhares vagos de desconhecidos, à madrugada. Ao som do silêncio a ecoar no escuro da noite.
Grito,
interno,
sufocante, aquele som gutural que diz basta! e que não se ouve,
senão na minha cabeça,
nas minhas entranhas.
Por isso choro. De dor, de tristeza, de alarme. De quem se sente decepcionado com o que não fez nem que deseja mas que se sente decepcionado. Amargurado, nó na garganta e no coração, sem conseguir respirar nem mesmo o fumo da poluição.

Atravesso para o outro lado da rua para que não me possas ver; nem olho para onde estás ou onde vais para ser mais invisivel que os invisiveis. Quero estar só! Cometi o erro de olhar por cima do ombro e vi-te,
ali,
parado e a olhar na minha direcção,
a pensar se seria eu mesmo quem tu querias ver.
Sigo o meu caminho em soluços mas com passo firme, sangrando na alma como um inocente chora preso no cárcere.
Assim vivo o meu dia: a sombra não é o reflexo do meu corpo à luz, mas apenas o meu corpo - de alma condenada penada que foge daquilo que quer.

Mas que não tem coragem de lutar.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

terça-feira, janeiro 24, 2006

Auto-retrato [como eu sou]

Durante toda a minha vida (até este momento) pautei as minhas capacidades de sucesso pesando, com algum critério, os possiveis fracassos que poderia ter e como os evitar. Essa forma de actuar sempre me possibilitou formas alternativas de chegar ao destino que pretendia e com isso aprendi bastante, e por isso estou orgulhoso. Porém evitar (possiveis) fracassos tem esse senão: evitar!
Nunca tinha pensado nisso, até ter percebido alguns fenómenos que estavam por trás desses comportamentos, ao ter possibilidade de sessões com uma psicóloga. Isso facilitou a perceber que, para não ser (ou não me considerar) um fracassado naquilo que queria para mim, me tornei um desistente. Isso, mais que qualquer fracasso, marca a forma de ser da pessoa porque, sempre que tem de enfrentar um problema, vê que é mais fácil não tomar decisão (e assim desistir até estar preparado para o enfrentar) do que tomar uma decisão que pode ser negativa, mas que também pode ser positiva. Para mim essa é a raiz do problema porque sempre tive dificuldades em lidar com a negação.
Os meus sonhos nunca foram diferentes de qualquer outra pessoa: muitos são impossiveis e inatingiveis, mas a maioria deles são bastante realistas e palpáveis, e que com um pouco de coragem ou ambição podemos facilmente torná-los verdade. Ir lá, tentar, participar!
Um de entre muitos que não tentei, porque não me achava capaz de superar, era ser piloto-aviador. Ao longo do tempo fui formando essa minha vontade, desde pequeno, e só pensava nisso. Durante o décimo ano comecei a preparar-me fisicamente porque sabia que havia provas físicas relativamente duras, entre essas umas de ginástica e outras de natação. Na ginástica era zero e tinha medo, na natação aprenderia. Assim evitei a ginástica e desisti desse sonho porque achei que nunca seria capaz de vencer esse medo. Nunca tentei o concurso e, da mesma forma que no 10º ano comecei em segredo a minha preparação física, no 11º comecei a procurar mais informação sobre cursos dentro da área da minha preferência (aerodinâmica) e sobre as tradições e vida académica e universitária - meio alternativo.
Na verdade não me arrependo. Como disse anteriormente os caminhos alternativos levaram-me a conhecer muitas coisas e a aprender tantas outras. Mas o comportamento de base mantém-se, e é por isso que sempre que enfrento uma época de exames na Universidade essa ansiedade, esse medo de fracasso, toma conta de mim... e eu desisto, pensando que me posso preparar melhor e ter sucesso da próxima vez...
Só que para passar num exame não há formas alternativas...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Declaração de voto

Fui um dos 835 eleitores de Coimbra a votar no Garcia Pereira para as eleições presidênciais. Esta escolha foi feita pelos seguintes factores:
-Queria que as eleições fossem decididas à primeira volta, o que inviabilizaria o meu voto no Manuel Alegre;
-Nunca votaria no Mário Soares, já cumpriu o teu tempo e tem de dar, definitivamente, o lugar a outros;
-Por ser vencedor antecipado mesmo antes de se propor candidato, Cavaco Silva não colhia a minha preferência;
-Simpatizo com Jerónimo e já votei no BE anteriormente pelo que poderiam ser escolhas...
... mas o meu conceito de voto util é que se deve dar voz aos mais pequenos e não escolher os unicos que podem ganhar para neles votar. E nestas eleições houve um injustiçado que, tal como os outros, apresentou as assinaturas referidas e apresentou-se a votação em grande desvantagem: não teve oportunidade de fazer pré-campanha e não foi sequer pensado para os debates realizados. Como ele disse sabia não ter qualquer hipotese de ser eleito, no entanto negarem-lhe o acesso aos órgãos de comunicação é cortar demais a palavra, o que leva a pensar que se Alegre não tivesse o peso que tem também teria tratamento diferente nos mesmos órgãos.
Estranho ainda mais os outros candidatos de esquerda não terem sequer comentado este caso, já que se dizem tão democráticos e tão sensíveis ao cumprimento da constituição.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Portugal tem uma estranha forma de resolver problemas, começando a construir o telhado antes de começar pelos alicerces da casa. Assim, e para resolver problemas do défice (causado por erros dos sucessivos governos), os vários governos aumentam os impostos que há para aumentar: sobre a gasolina, sobre o tabaco, sobre as bebidas alcoolicas, sobre todos os produtos (IVA)... sabendo-se que em Portugal há mercados paralelos, corrupção, fuga fiscal, crimes de colarinho branco, facturas falsas, a forma de lidar com esses problemas e fazer com que o estado facture a partir de quem tenta fugir, o estado faz o contrário: penaliza mais quem já paga!
Mas o problema, possivelmente, não é de quem lá está, mas da forma como foi ensinado. E temo que o futuro não seja brilhante pois a ver pelas declarações de Seabra Santos, horrífico Reitor da Universidade de Coimbra, durante a abertura solene - 2 meses depois do inicio das aulas - que preconizou que este aumento de propinas - para 900€ por ano - serviria para filtrar os alunos cábulas dos bons alunos, ficando assim a universidade com menos alunos a pagar mais, mas com maior aproveitamento.
Aprendendo-se assim nas universidades portuguesas, não admira que no futuro se use a mesma fórmula!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Cavaco Silva e a liberdade

Tenho lido, ouvido e visto muitas coisas sobre Cavaco Silva, principalmente daqueles que não gostam da figura de tal pessoa. O que mais estranho, em primeiro lugar, é o ódio que as pessoas que não gostam dele adoram mostrar, até de uma forma vil e insensível, como se ele fosse um monstro psicopata e sanguinário, um fascisoide pior que Hitler e Mussoulini juntos (mas quando faço uma pequena piada sobre a senilidade do Mário Soares que realmente está velho e senil, todos fazem aquele ar de "Epá isso é muito mau, pôssa!"). No entanto vivemos em democracia, ele já foi primeiro ministro e não vivemos nenhuma ditadura nesse periodo.
Mas mais do que eu estar a tecer quaisquer considerações é ler a noticia do Publico Online, em que um incidente infeliz marca exactamente o que eu disse. Assim "três jovens tentaram erguer uma faixa negra onde se lia: "Todos os porcos capitalistas votam Cavaco porque são fascistas"..." - aqui já há um claro desrespeito por uma liberdade que é de todos: votar num candidato que se pensa ser o melhor e mais indicado. E não é por isso que se passa a ser porco capitalista ou fascista... por essa ordem de ideias só vota em Soares quem é geruntófilo?
Continuando, "Questionados pelos jornalistas, já depois de terem sido afastados pela polícia para uma rua lateral, os três manifestantes, que recusaram identificar-se, garantiram não ter qualquer filiação partidária. "Nem vou votar no domingo", afirmou um deles, justificando a acção como "um direito à manifestação"..." - afinal a acção foi só uma manifestação de quem nem sequer se interessa se o país é governado por A ou B porque nem vai votar?! Que direito à manifestação é este em que não se acautela a liberdade dos outros e, no final, nem sequer participam num acto eleitoral no qual podem demonstrar a sua indignação?
Acho que estes meninos não aprenderam bem a lição dada no 25 de Abril, por isso a dificuldade em perceber termos como capitalismo, fascismo, liberdade... ou apenas eleições!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Carta
"Aquele olhar que fazes quando olhas para mim, que sinto o coração bater mais forte. Quando te vejo a chegar, ao longe, ou ouço a tua voz a chegar quando estou distraído, sem atenção. O teu cheiro, ao te aproximares para aquele contacto, aquele beijo...
... aquele sorriso!
É tão dificil estar tempo longe de ti, sem te ver, sem falar, mesmo que poucas palavras sejam trocadas na cumplicidade dos olhares. É tão duro quando não ouço a tua voz nos meus ouvidos e por recordação sinto o teu cheiro, a tua musica.
Nos sonhos ou fora deles, sempre que estão ou que estás...
Torna-se dificil a distância, mesmo quando ela é tão pequena!"

Num olhar meio acordado meio a dormir, ele poisa a caneta e o bloco onde escreve as cartas. Todas elas, num maço quase inviolado. Porque muitas que com tanto desejo e paixão escreveu ficaram sempre ali, naquele bloco. Longe do olhar de quem devia ler, longe da coragem que ele nunca demonstrou.
E vira-se na cama, desliga a luz, para o longo calvário de tentar dormir; e de tentar sonhar com ela...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

terça-feira, janeiro 17, 2006


Chocolate

Abro o papel e só de olhar fico com água na boca: posso até imaginar, fechar os olhos e sentir aquele quadrado que cortei e que coloquei na boca, deixando derreter, lentamente, na lingua. Sentir aquele quente adocicado do deleitoso doce a liquefazer-se e a misturar todos os paladares escondidos numa incessante e prazenteira aventura.
Abro os olhos e passo à acção, faço o que imaginei com todos os detalhes, preliminares, gostos. Com todo o tempo do mundo, só, no meu mundo, a ter prazer de um jeito calmo, com aquele pedaço com que me lambuzo e extraio tão grande prazer.
À medida que ele se derrete, que absorvo todas as misturas, sabores, cheiros, prazeres e termino este pequeno quadradinho, tiro logo outro, e outro e outro e outroeoutroeoutroeoutroe... outro... o ultimo...
Reparo à ultima da hora que apenas do primeiro estive a recolher todo o prazer e sensações que ele dá, que ele deu; dos outros fui comendo cada vez mais depressa, deixando derreter menos e menos, até que mastigava apressadamente os ultimos pedaços e lambia as migalhas que restaram... mas nenhum pedaço me soube tão bem como aquele primeiro...

Muitas lições se tiram de um pequeno quadrado de chocolate...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Franz Ferdinand - Walk Away

I swapped my innocence for pride

Crushed the end within my stride
Said I'm strong now I know that I'm a leaver
I love the sound of you walking away
Mascara bleeds a blackened tear
And I am cold
Yes, I'm cold
But not as cold as you are
I love the sound of you walking away

Estava a ouvir esta musica e trouxe-me recordações, coisas que não me lembrava mas que de repente me ficaram (mais ou menos) vivas na memória...

Why don't you walk away?

No entanto continuo a não me lembrar como começou ou como termina, apenas que é um episódio que comecei a ver a meio e que fica por explicar...

Why don't you walk away?
No buildings will fall down
Why don't you walk away?
No quake will split the ground
Why don't you walk away?
The sun won't swallow the sky
Why don't you walk away?
Statues will not cry

Why don't you walk away?

Mas que continua presente, e não foge nem se decide a ficar... Como é que é o som quando "...you walk away"?


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, janeiro 12, 2006

      INTERVALO

    Quem te disse ao ouvido esse segredo
    Que raras deusas têm escutado -
    Aquele amor cheio de crença e medo
    Que é verdadeiro só se é segredado?...
    Quem te disse tão cedo?

    Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
    Não foi um outro, porque não sabia.
    Mas quem roçou da testa teu cabelo
    E te disse ao ouvido o que sentia?
    Seria alguém, seria?

    Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
    Foi só qualquer ciúme meu de ti
    Que o supôs dito, porque o não direi,
    Que o supôs feito, porque o só fingi
    Em sonhos que nem sei?

    Seja o que for, quem foi que levemente,
    A teu ouvido vagamente atento,
    Te falou desse amor em mim presente
    Mas que não passa do meu pensamento
    Que anseia e que não sente?

    Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
    A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
    A frase eterna, imerecida e louca -
    A que as deusas esperam da ledice
    Com que o Olimpo se apouca.

    Fernando Pessoa


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
Sismos II

Parece que andam por aí uns sismos e, apesar de os telejornais tentarem fazer alarde disso como se fosse uma coisa muito grave que aconteceu, a verdade é que a percentagem de pessoas que sentiu é menor do que a percentagem de votos que o Mário Soares tem nas sondagens. Porquê a comparação? Ambos são conhecidos à séculos, gostam de abanar, ficam adormecidos durante muito tempo e aparecem quando ninguém espera (sim, a parte de dizer coisas parvas à saída das urnas é exclusiva de Mário Soares).
Hoje vou dar uma pequena ajuda aos leitores de Contra-Natura (salve salve), com os meus parcos conhecimentos de Geologia, fazendo um pequeno resumo sobre o que é um sismo, o que fazer, e o que esperar do mesmo.

O que é um sismo?
Um sismo é uma pessoa pacata, não gosta de multidões porque sofre de pânico e fobia antisocial. Quando se lhe depara muita gente ele começa a tremer e fica louco, podendo provocar disturbios, acidentes e inclusivé complicações.
Como encontrar o sismo?
A sua timidez não lhe permite sair à rua como qualquer pessoa normal, portanto ele sai disfarçado. Tal como as estrelas de cinema ou pessoas reconhecidas, gosta de colocar um boné ou chapéu (pode também ser um gorro), óculos escuros - mesmo de noite - e andar vestido com roupas despercebidas e largas, normalmente aqueles fatos de treino que parecem uma tenda de campismo. Se virem alguém com estas caracteristicas num qualquer autocarro estarão na presença, muito provavelmente, de um sismo (pode também ser a Britney Spears, só que o que os distingue é a gravidez e o mau gosto musical).
O que fazer perante o sismo?
Como todas as estrelas ou pessoas que gostam de guardar a sua privacidade e vida intima, o melhor é não mostrar que foi reconhecido. Género não olhar insistentemente, não apontar, não perguntar o que acha das ultimas sondagens ou da Manuela Moura Guedes. Encontrar conversas de ocasião sobre o tempo ou sobre o governo também não é boa ideia pois ele pode começar a tremer.
O que esperar do sismo?
Nada, ele é completamente imprevisivel! Pode começar a soluçar a palavra pinhal, imitar macacos na selva ou simplesmente fazer de conta que é um motociclo. É provável que também reproduza os diálogos do filme "jaws" ou "deep inside Silvia Saint", o que é gravíssimo! Mas pode também estar somente a libertar energia, vulgo flatulência. Nesse caso o pior é mesmo o cheiro que é assim um enxofrado, tipo gasolina com chumbo num automóvel de escape livre.

Espero ter elucidado e que sejam proveitosas tais explicações. Para mais informações consultar www.meteo.pt

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Leio-te

É o que recebe numa mensagem sms, tão simples quanto isso. Deixa que pensar, dá que pensar. Dói a pensar. Passa o dia a pensar o que será, quem será. Que o lê, como o lê, quem é.

Através dos teus olhos

Segundo sms, da mesma pessoa, o mesmo numero. Linguagem, o que revelam os olhos.

Todos os dias que te recebo...

O coração bate à medida que chegam as mensagens. Surgirá um nome, uma cor, um suspiro, amasso?

... amor!

Um sorriso surge dos lábios, a imagem desenha-se na cabeça, agora junto aos olhos.

Sinto o mesmo! - é a resposta para o numero desconhecido.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
E, mesmo com tudo diferente
Veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia
Como tinha de ser
Legião Urbana - Eduardo e Monica

Abro a persiana de casa, ainda ensonado da noite mal passada. Sentado ao lado da cama olho para onde ainda à cinco minutos tentava, em vão, dormir. Vazia, tal como o meu mundo está de sonhos de sonos e iluminado de insónias.
Vivo acordado mais morte que vida, a pestanejar e a bocejar. Ao sair de casa, abrir a porta como abro a boca, para o dia de frio, de chuva e vento. Espero dormir, quero dormir. Não.
Quero falar, não sei com quem nem o quê. Cresce uma raiva, antes sono, que me deixa pensativo; porque não tem razão de ser, porque é absurda. Cresce.
Não.
Abro a persiana de casa. Acordei agora, ainda com sono. Mal dormi e acordei aos primeiros raios de luz a inundar o quarto - para a próxima fecho a janela toda. Deito de dia, durmo de dia, acordo de dia. Quase noite.
Não.

E quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?

Estranho o que se vê na solidão. O que eu vejo e não quero ver; o que eu queria ver e não vejo, cego surdo mudo pela luz som silêncio com que não durmo. Nem sonho tão pouco. Não sonho tão pouco...
Não.
Talvez o bilhete dos meus sonhos marque um compromisso. Com o sonho que estava para ter mas não tive, e não completei, e não realizei. Um pequeno bilhete manuscrito. Sem raiva, sem cansaço, simples; um pequeno papel manuscrito a transmitir o sonho, o que penso do sonho. No teu olhar.
Ou não...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Topo do mundo

Por vezes vou para o topo do mundo. Não é um local especial senão para mim; pode ser apenas a minha cama, enquanto durmo ou não, mas na minha imaginação é o topo do mundo. Onde estou só, onde penso.
Vejo-o como um espaço amplo, uma falésia à beira mar, onde me sento. Ouço o mar a bater nas rochas, ao fundo; olho o infinito, o casamento de azul entre o céu que se banha no mar e no mar que molha o céu; sinto o cheiro da maresia, do sal, do peixe; sinto a aragem fresca que vem do oceano.
E penso.
E sinto pena de mim.
E sinto pena daqueles que não têm um topo do mundo onde estar a pensar.
E sinto-me só...

"You're beautiful. You're beautiful.
You're beautiful, it's true.
I saw your face in a crowded place,
And I don't know what to do,
'Cause I'll never be with you."
James Blunt - You're beautiful


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

quarta-feira, janeiro 04, 2006

ABDICAÇÃO

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho... eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.

Fernando Pessoa, 1913


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

terça-feira, janeiro 03, 2006

- Bom Ano!
- Bom Ano!

Assim simples, com pergunta resposta, olhos nos olhos, sorriso no sorriso, olhos no sorriso e sorriso nos olhos. Ambos brilhantes pelo reencontro - pelos momentos longe que passaram mas que nem sequer vêem como sendo distantes.
Só eles é que ainda não perceberam o que se passa.
Como o destino deles é comum, e sorri a ambos!
Vão saber, mais tarde ou mais cedo...

- Então tchau... ainda nos vemos hoje?
- Não sei... talvez...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt