E, mesmo com tudo diferente
Veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia
Como tinha de ser
Legião Urbana - Eduardo e Monica
Abro a persiana de casa, ainda ensonado da noite mal passada. Sentado ao lado da cama olho para onde ainda à cinco minutos tentava, em vão, dormir. Vazia, tal como o meu mundo está de sonhos de sonos e iluminado de insónias.
Vivo acordado mais morte que vida, a pestanejar e a bocejar. Ao sair de casa, abrir a porta como abro a boca, para o dia de frio, de chuva e vento. Espero dormir, quero dormir. Não.
Quero falar, não sei com quem nem o quê. Cresce uma raiva, antes sono, que me deixa pensativo; porque não tem razão de ser, porque é absurda. Cresce.
Não.
Abro a persiana de casa. Acordei agora, ainda com sono. Mal dormi e acordei aos primeiros raios de luz a inundar o quarto - para a próxima fecho a janela toda. Deito de dia, durmo de dia, acordo de dia. Quase noite.
Não.
E quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?
Estranho o que se vê na solidão. O que eu vejo e não quero ver; o que eu queria ver e não vejo, cego surdo mudo pela luz som silêncio com que não durmo. Nem sonho tão pouco. Não sonho tão pouco...
Não.
Talvez o bilhete dos meus sonhos marque um compromisso. Com o sonho que estava para ter mas não tive, e não completei, e não realizei. Um pequeno bilhete manuscrito. Sem raiva, sem cansaço, simples; um pequeno papel manuscrito a transmitir o sonho, o que penso do sonho. No teu olhar.
Ou não...
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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