terça-feira, janeiro 17, 2006


Chocolate

Abro o papel e só de olhar fico com água na boca: posso até imaginar, fechar os olhos e sentir aquele quadrado que cortei e que coloquei na boca, deixando derreter, lentamente, na lingua. Sentir aquele quente adocicado do deleitoso doce a liquefazer-se e a misturar todos os paladares escondidos numa incessante e prazenteira aventura.
Abro os olhos e passo à acção, faço o que imaginei com todos os detalhes, preliminares, gostos. Com todo o tempo do mundo, só, no meu mundo, a ter prazer de um jeito calmo, com aquele pedaço com que me lambuzo e extraio tão grande prazer.
À medida que ele se derrete, que absorvo todas as misturas, sabores, cheiros, prazeres e termino este pequeno quadradinho, tiro logo outro, e outro e outro e outroeoutroeoutroeoutroe... outro... o ultimo...
Reparo à ultima da hora que apenas do primeiro estive a recolher todo o prazer e sensações que ele dá, que ele deu; dos outros fui comendo cada vez mais depressa, deixando derreter menos e menos, até que mastigava apressadamente os ultimos pedaços e lambia as migalhas que restaram... mas nenhum pedaço me soube tão bem como aquele primeiro...

Muitas lições se tiram de um pequeno quadrado de chocolate...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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