quarta-feira, janeiro 25, 2006

Remeto-me a pensamentos internos, a olhares vagos de desconhecidos, à madrugada. Ao som do silêncio a ecoar no escuro da noite.
Grito,
interno,
sufocante, aquele som gutural que diz basta! e que não se ouve,
senão na minha cabeça,
nas minhas entranhas.
Por isso choro. De dor, de tristeza, de alarme. De quem se sente decepcionado com o que não fez nem que deseja mas que se sente decepcionado. Amargurado, nó na garganta e no coração, sem conseguir respirar nem mesmo o fumo da poluição.

Atravesso para o outro lado da rua para que não me possas ver; nem olho para onde estás ou onde vais para ser mais invisivel que os invisiveis. Quero estar só! Cometi o erro de olhar por cima do ombro e vi-te,
ali,
parado e a olhar na minha direcção,
a pensar se seria eu mesmo quem tu querias ver.
Sigo o meu caminho em soluços mas com passo firme, sangrando na alma como um inocente chora preso no cárcere.
Assim vivo o meu dia: a sombra não é o reflexo do meu corpo à luz, mas apenas o meu corpo - de alma condenada penada que foge daquilo que quer.

Mas que não tem coragem de lutar.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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