Désespoir - Desespero
(Auguste Rodin, désespoir)
Procuro-te pelas ruas da grande cidade porque sei que não te vou encontrar. Olho fundo dentro de mim quando fecho os olhos e penso o que estou a fazer aqui, tão longe do mundo que me rodeia, tão longe de ti... tão longe de mim.
Todas as gotas de sangue que circulam, disciplinadamente, no meu corpo, que garantem todas as funções vitais, por ti clamam. Tu não apareces. Inevitável. Não existes.
Mochila às costas cirando de rua em avenida, de bairro em praça, de estação em metro, de autocarro... volto a pé pelas pontes e passeios junto ao Sena, pela margem e pelo cheiro humido do rio. Ao largo os turistas acenam dos bateaux mouches que circulam pela Île St. Louis e fazem as delicias dos visitantes, mas nem sempre dos transeuntes.
Não te encontro, não existes; não me encontro, não existo.
Paro, máquina fotográfica em punho, e decido tornar este momento de não existência uma realidade. Tiro fotografias a monumentos, a casas, a janelas, ao rio, aos barcos, aos pássaros, ao pôr do sol, à torre Eiffel ao longe, a apontar o céu e a ignorar a minha inexistência. Tiros fotos à populaça desconhecida: homens e mulheres, das mais variadas raças e nacionalidades - pretos, loiras, árabes... todos misturados, qual mundo em ponto pequeno, qual globalização sem espaço tempo definido.
Volto para casa pensativo, tal como comecei. Mas agora com uma musica na cabeça - a tua musica! - e uma imagem - a tua imagem!... que desconheço, mas que pretendo conhecer... assim que me descobrir, assim que existir.
Tiro a prova dos nove mal entro no quarto desarrumado: tirar foto ao meu fantasma e comprovar que, afinal, tenho corpo, fisico, existo!
Olho o écrã da máquina digital: o quarto, a desarrumação, mas sem a minha imagem...
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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