Um pouco de nada...
"Comparada com a realidade, a nossa ciência pode parecer primitiva e infantil, mas é a coisa mais preciosa que temos."- Albert Einstein
(enxame aberto M50, www.portaldoastronomo.org)
Pareço vazio em tudo aquilo que penso. Olho para o branco da folha e o que salta à vista é o mais branco do meu interior. Nada brilha, nada transcende. Apenas o nada, que nada na alvura da falta de imaginação, na ausência de contraste.
De repente a cor perde-se do meu mundo visual, acordo e olho em volta: nada senão o branco e as várias misturas de preto - tonalidades que me dão impressão de distância, rugosidade, diferença, mas nada mais que isso. Falta a alegria da cor, o sentimento explosivo e imediato da conjugação colorida, de imagens corridas e em movimento.
Fecho os olhos e penso naquela minha cor favorita. Branco como a folha de papel...
Frio, que me acolhe; frio que me entra no corpo, sobe à cabeça, gela pés e mãos e nariz e cabeça. Cabeça lateja: dor. Nariz sente ardor do frio e escorre o produto do frio...
Ou não.
De repente no papel aparece! No meio da alvura, uma gota de vermelho sangue caiu e esparramou-se feliz! No meio da folha antes pura o meu sangue se espalhou, primeiro num borrão de uma bola encarnada esmagada pelo peso da gravidade, agora num conta gotas que me devolve a cor.
Quente! Sinto o quente do vermelho. O fogo, a emoção, a paixão! Pena que tenha que perder do meu sangue para vencer a tua teimosia, papel! Pena que tenha que sentir um pouco de mim a escorrer em ti e deixar-me, pingo a pingo, vazio.
O papel agora sou eu, pois eu esvaí-me e sou apenas nada...
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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