Deitas a cabeça no meu colo...
... e pedes-me um carinho. Não é a primeira vez que vens ter comigo assim, carente, em sofrimento, triste. De todas as vezes engulo em seco, faço meu o teu sofrimento, e acolho-te como se fosses uma parte de mim, no meu colo. Onde deitas a cabeça e choras. Onde te recolhes e choras e dormes.
Massajo-te o couro cabeludo com carinho e dedicação, como se estivesse a fazer algo científico, algo de costume, que faço já há muitos anos; empenho-me em fazer-te sentir acarinhada, desejada, calma, descontraída, relaxada.
Enfim adormeces, cara de anjo. Contemplo-te com a tua expressão inocente, os teus cabelos longos e lisos em desalinho em cima de mim, as minhas mãos a percorrerem num pentear/despentear constante. Imagino o que possa fazer sofrer uma alma que disso não precisa, que só luta para ser feliz num mundo bárbaro, onde nem tudo o que parece é, e onde a felicidade pode estar muito mais perto do que ela pensa; ou pode não estar...
Olho-te os olhos fechados, silenciosos, calmos. Em descanso, em paz, penso. Vejo os lábios - aqueles mesmos que escrevem aquele sorriso maravilhoso que me activa o coração - e beijo-os com carinho e compaixão, num olhar imaginativo e introspectivo que nunca seria capaz de repetir na realidade - "qualquer dia ela descobre este segredo, esta paixão escondida... o meu destino"
"Fazia-te tão feliz, se me amasses..." é o que todos os apaixonados pensam de quem sofre e não nos ama como nós desejariamos; "eu amo-te e faço-te feliz, pelo menos nesse sono calmo..." é o que vemos e imaginamos, no mais intimo e puro das nossas capacidades inconscientes, enquanto gravamos aquele momento feliz. O momento em que ela nos procura, triste, e que transformamos, naquele segundo, aquela insegurança miserável e sofredora num estado calmo de descanso apaixonado.
Amor, virtual, real, amor... tudo palavras. Qual delas verdade real, qual delas verdade virtual...
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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