quinta-feira, janeiro 25, 2007

Referendo sobre a IVG

Gosto da forma abreviada como se chama: IVG. Nos meios mais comuns, uma outra abreviatura, que para muitos é usada como insulto, ABORTO. A poucos dias de mais um referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, o país separa-se, as tendências alteram-se, as tolerâncias esbatem-se. Não importa ser-se de clubes diferentes porque dois adeptos ferrenhos do mesmo clube, se tiverem opiniões diferentes nesta matéria, são os piores inimigos. Para um o outro é criminoso, para o outro o um é retrógrado, da idade média, trogolodita.
Neste referendo, se for votar, votarei SIM. Por uma simples razão: não acho que se deva criminalizar uma mulher que tem de se sujeitar a uma humilhação e a milhentos perigos para fazer uma operação que só a ela diz respeito. O corpo é dela; o embrião é ela que o carrega e alimenta; o embrião sem o corpo de quem a carrega - nos primeiros três meses - não sobrevive. Podem dar todos os argumentos do mundo, para mim esta é a minha forma de pensar e não alterarei. Com isto não quer dizer que seja contra ou a favor do aborto. Sobre esse ponto não dou opinião porque não é isso que está em causa, e só responderei a essa pergunta após o referendo.
Têm-me espantado os argumentos usados a favor do "não". Porque se é criminoso, porque esse não é o caminho de Deus/Alá/Buda/Krishna, porque se é má pessoa, porque os médicos servem a vida e não a morte, porque o Benfica não vai ser campeão... E aqui é que explico o porquê de ter dito que "se for votar".
Votei nas legislativas, um governo foi eleito e ainda por cima com maioria absoluta. Os governos devem governar, legislar, de acordo com os seus ideais para o país e não de acordo com a opinião pessoal ou popular. Constitucionalmente Portugal é um país laico por isso, e logo aí, todos os argumentos religiosos caem por terra. Depois o embrião só é, do ponto de vista legal e juridico, aquilo que as leis o fazem: se legalmente um embrião é considerado um ser logo após a concepção, é obvio que será crime; porém se só for considerado um ser passados 3, 4 ou 5 meses, ou só quando nasce, então tudo muda de figura.
Para isso para que precisamos de governos? Querem pagar menos impostos? Referendo! Com menos impostos há menos dinheiro, os salários baixam? Referendo! O país não se aguenta, continuamos na mesma? Referendo... até que se acaba por referendar se queremos ser espanhois pois Portugal fica parado porque os referendos não permitem mais.
Há crimes muito mais hediondos pelos quais os apologistas do "não" abafam só para poder dar mais enfase ao seu argumento, e muitos são bem piores que umas células em desenvolvimento:
- sexo sem protecção;
- porte de arma ou venda ilegal de armas;
- condução sob o efeito de alcool ou drogas acima do limite legal;
- manobras perigosas e insanas ao volante;
- excesso de velocidade...
Estas e mais algumas provocam por ano a perda de vidas inocentes, com o consequente sofrimento, acções em tribunal, gastos hospitalares, excessos em tudo e para todos.
Porém a discussão prende-se se é ou não criminosa uma mulher que decide submeter-se a uma operação delicadíssima e que ninguém tem nada a ver com isso...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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