Desejo
Ouço a tua voz a falar-me, calmamente, da tua recente má experiência com os amores. Como foges do sexo oposto como o demónio da cruz, como fazes isso para não te magoares num novo relacionamento que poderá causar-te dor; vamos tirando a roupa enquanto explicas calmamente, de vez em quando trocando olhares cúmplices, contemplando aos poucos as poucas peças de roupa que caem no chão e os centímetros de pele agora descoberta.
O pescoço, o abrir da camisa a destapar o soutien e esses magníficos seios escondidos por detrás desse adereço deitado à fogueira na revolução feminina. A pele a brilhar, do sol ou só do olhar que nela coloco, a brilhar de desejo de ser beijada, tocada. Um arrepio percorre a minha pele agora também descoberta, peito descoberto e penugem eriçada. Chego às minhas calças, olho para ela que mordisca o lábio com curiosidade em saber o que vai ver, o que quer ver, o que pretende tocar e beijar e deixar grande e pulsante e desejoso de vontade de a ter. Ela antecipa-se e pergunta-me o que deve fazer se ele não lhe sai da cabeça e se ele quer estar com ela mas ela tem medo de entrar num relacionamento que a magoe, outra vez. E que seja possessivo, outra vez. E que ela tente definhar até poder desaparecer fisicamente.
Digo que se ela quer estar com ele devia procurar, devia arriscar e não esquecer de ligar; digo que mesmo por maravilhosa e bela e que corpo perfeito que tem não impede de demonstrar os seus sentimentos e alguma fraqueza e arriscar em estar com alguém que gosta. Nem que seja para conversar, rir, conhecer amigos de amigos. Ela sorri, chama-me de cachorro e faz um gesto subtil com as sobrancelhas, como que mostrando que me corta os argumentos. Despe-se, de uma só vez, abandonando por completo as roupas, desapertando de uma vez os botões da saia e descendo as cuecas minúsculas de fio dental para o chão.
O meu corpo responde, ainda por cima dos boxers, mostrando o meu sexo para fora da pequena abertura daquele confortável adereço de roupa interior. Ela, de mãos nas coxas, olha para mim a mordiscar o lábio inferior, como já tinha feito antes, e que me deixa pulsante e louco de desejo de lhe tocar. Mas as regras não são essas e retiro o que falta da minha roupa.
“Quero chupar-te, quero percorrer a minha língua pelo teu pau, cheirá-lo, senti-lo, saborea-lo, sugar as tuas bolas”. Respondo que, neste momento, não tenho muito sangue na cabeça pelo que, e como é demonstrado fisicamente pela afluência sanguínea, não conseguirei ser tão explicito… mas que pretendo percorrer todo o corpo daquela mulher fenomenal que me enfrenta, nua, de uma ponta a outra, com as mãos, a boca, a língua. Lamber e beijar onde depois vou entrar e onde vamos dar prazer e gemer e suspirar e trocar fluidos, emoções, carinhos, frustrações, e explodir num só, fugindo do mundo num momento de êxtase – seja ele pequeno ou grande – mas nosso momento. Aquele momento.
Antes de nos tocarmos pergunto-lhe o que ela vai fazer relativamente ao homem que não lhe sai da cabeça e pelo qual ela sofre. Ela responde que neste momento só uma coisa lhe passa pela cabeça: foder-me… o resto fica para depois.
Agrada-me a ideia e depois da descrição que ambos fizemos, depois de percorrermos e imaginarmos como o fazer, jogamos os corpos para o delírio prazeroso do conhecimento puramente físico e amoral.
Sobre as regras do jogo: simplesmente não tocar sem saber e explicar o que se quer fazer. Quase mesmo até ao limite da imaginação e da própria estimulação, tendo o objecto do desejo à frente e pronto para nós, mas como se estivesse a milhares de quilómetros de distância.
Dá um novo significado – virtual – ao sexo convencional.
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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