segunda-feira, outubro 02, 2006

Paralelo

Preservo o meu momento de preguiça no acordar matinal, que se prolonga exaustivamente até perto do meio dia. Respiro, inspiro, viro, tapo e destapo, com frio e calor. O raio que me parta.
Olho-me ao espelho, ao levantar, ainda meio baço o olhar de acordar recente, olhos remelados e cansados. E preguiçosos.
Cabelo grande igual a cabelo curto. Vou cortar, já decidi. Careca, vou ser. Serei eventualmente, algo que querem adiar mas não eu porque sempre gostei assim sempre quis assim não vou deixar de pensar dessa forma só porque querem que eu deixe de pensar dessa forma. Para o raio que os parta!
Foda-se! Porquê o chove não chove das ultimas missões? Porquê o enrolar do fio no novelo cinzento escuro cor de rato, de sujo nojento?
Podias ter ligado, podias ter telefonado, podias ter mostrado o desprezo.
Ou podias ter morrido [ou podias ter morrido] sem que ninguém soubesse... nem mesmo a sombra de Deus [nem mesmo a sombra do deus], como se zelasse, como se importasse, como se estivesse de vela na mão, acesa, à espera que a cera queime. E fure; e crie uma vela na carne humana e ilumine a vela com o rastilho humano.
Vermelho. É paralelo sangue sem o ser. É o amanhecer de um novo dia, de um novo sol. Daquela fotografia remanescente, talvez virtual, que ficou na minha memória [naquela memória, cartão de memória], aquela que não desaparece. Como uma doença.
Do catano. Num sorriso.
Desaparecido. Nunca mais visto.
Com um adeus, como num adeus.
Paralelo.
32.

[Tenho formigas que percorrem o meu corpo, sinto-as pelas cócegas e pelas picadas. Tenho uma musica que me acompanha em momentos nonsense, zen ou chill out - ou de loucura pura e sã, talvez - mas que é impossivel reproduzir com letras. Pelo menos sem a ouvir. Porque tem de se ouvir! Senão não será mais que masturbação virtual, prazer sem corpo alheio sem próprio corpo...]

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

Sem comentários: