quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Erasmus

Participar no programa Erasmus, de intercâmbio com universidades estrangeiras, é uma daquelas coisas que só se faz quando se tem bem a certeza que é isso que queremos. Na maioria dos casos somos colocados num país cujo nível de vida é superior ao de Portugal e as diferenças financeiras fazem-se sentir; quem vai para paises cujo nivel de vida é inferior tem que gastar mais dinheiro nas viagens, o que acaba por ficar ela por ela.
As bolsas Erasmus servem para esbater essa diferença, no entanto para quem vai, a perspectiva de acolher um novo mundo é muito grande.
Nem sempre somos bem vistos por amigos, familiares, namorados, porque parece que nos queremos alhear deles, que queremos seguir a nossa vida noutro local longe deles. Mas esse é um pensamento retrógrado, tipico de quem pensa que este programa é uma perda de tempo e um gasto extra de dinheiro.
Na segunda feira despedi-me de uma amiga que partiu para a Bélgica. O ambiente era de festa mas à medida que as várias amigas que estavam com ela se aperceberam que ela estaria de partida por alguns meses surgiu uma subita tristeza. Tristeza no olhar de quem ia partir porque se privaria daquela companhia agradável durante um periodo muito grande; tristeza nos rostos das amigas que iam sentir falta da sua companhia habitual.
Quem vai assistirá a um novo mundo. E está preparado para isso, de certa forma. Pode ser mais ou menos surpreendido. Os meses que passamos fora parecem anos, e nas primeiras semanas surge aquele bater cardiaco superior sempre que está em causa algo relacionado com o nosso país. O primeiro mês é crucial porque é a nossa integração num mundo que não é nosso que está em causa; as saudades do mundo que ficou com os amigos, com a familia; os telefonemas, os contactos, as visitas. O bom de se ficar fora apenas uns meses e não um ano é que é tudo de uma vez; não haverá muito espaço para visitas a Portugal, o que é positivo porque uma vez chegando as saudades batem forte e não dá vontade de ir; o mesmo acontece quando as visitas têm que voltar.
O aperto é grande, mas a magia que está associada a um tão grande passo como o de ir para o estrangeiro estudar, compensa largamente.
Não são só os portugueses que são apegados a casa e ao país. Os espanhois juntam-se com todos os que falam castelhano: vemos madrilenos, bascos, catalães, mexicanos e venezuelanos a compartilharem alegres conversas, garrafas de vinho e jantaradas, numa cumplicidade que provavelmente não veriamos em Espanha. Os gregos, os italianos, também gostam de se juntar entre os seus. Os nórdicos gostam apenas de conhecer e aprender. São multilingues e o contacto com qualquer estrangeiro é como a agua da fonte da juventude para eles.
Sinto saudades do periodo de Erasmus; todos os que voltam após esse periodo sentem essas saudades, e recordam com amigos que não estiveram com eles mas que tiveram a sua experiencia algures. É vivificante e inolvidável.
E é por isso que, por mais que cada um se sinta só, não deve nunca desistir. Resiste aos apelos e guia-te por ti!


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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