quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Há coisas q me fazem ir votar
E esta é uma delas:

Este referendo do proximo domingo é muito estranho, porque mexe com assuntos que são muito delicados na sociedade portuguesa. Tão ou mais delicados porque mexem com o conceito que as pessoas têm da vida, e que varia de acordo com a condição social, estudos... ou talvez não.
Na imagem acima está a razão que me fará ir votar "SIM" no domingo. Mas se olharem atentamente este é uma comunicação de apoiantes do não. Porque esta mensagem me fez pensar o contrário?
Eu cito algumas frases, belas pérolas, tão boas ou melhores que as melhores do célebre Diácono Remédios, personagem de Herman José, provedor da Herman Enciclopédia.
Começando:
"É um facto indisputavel que a protecção especial de Deus se reflectiu na transformação miraculosa - religiosa, moral e até económica - de Portugal que se seguiu à consagração do nosso país ao Imaculado Coração de Maria, feita pelos Bispos portugueses em 1931 e 1938. De facto, será que Portugal já viu melhores dias do que os que se seguiram àquela notável consagração?" (Já sabemos quem é que votou em Salazar para uma das Figuras mais importantes de Portugal...)
"Mas a bênção de Deus é acompanhada por uma grande obrigação. A escolha eterna que Deus fez de Portugal como o lugar das aparições de Nossa Senhora em 1917, e a consagração de Portugal ao Imaculado Coração de Maria, feita mais tarde, significam não só os favores especiais de Deus, mas também um dever para com Ele por parte do Povo Português. Porque como Nosso Senhor declara na Sagrada Escritura: 'A quem muito foi dado, muito será pedido...' (Lucas 12:48)."
(É bom que Deus se tenha lembrado de nós e pedido a Lucas para o escrever nas Sagradas Escrituras, mesmo antes de nos tornarmos uma nação. Mas Ele pode! É chato é fazê-lo escrever à hora de almoço - 12:48! - mesmo para um Deus, é um pouco exagerado, não?)
"O povo português não pode aceitar a legalização do aborto, sejam quais forem as circunstâncias. Como a Igreja sempre ensinou, uma lei imoral não é lei. Santo Agostinho, S. Tomás de Aquino e todos os Papas, Santos e Doutores da Igreja são unanimes a declarar que os Católicos não só devem recusar-se a apoiar uma lei imoral, como ainda devem opor-se-lhe activamente e recusar-se a cumpri-la, mesmo que entre em vigor." (Desobediência civil, versão Vaticano)
"Pede-se agora ao Povo Português que sirva de legislador com o seu voto em 11 de Fevereiro. Está nas nossas maõs proteger as vidas inocentes por nascer. E ai de quem votar para atraiçoá-las às mãos de médicos ou de outros. Não se pode troçar de Deus. Ele fará a Sua justiça em qualquer cidadão português que votar a favor de derramar sangue inocente." (Como tem feito no Iraque àqueles infiéis muçulmanos...)
"O Povo Português deve escutar as vozes destas mulheres, vitimas do crime do aborto legalizado. Nenhum católico digno desse nome pode argumentar que uma mulher seja ajudada pela escolha do aborto. Isto é um argumento do diabo, que é o Pai das Mentiras." (E um não católico já pode? E porque há um dia das mentiras se o Diabo é o pai delas?)

Para terminar, e para não tornar isto chato, deixo um dos paragrafos finais que é da mais fina linhagem da literatura medieval. Atentem bem:
"Povo português, segui os conselhos de Nossa Senhora de Fátima e rezai o terço diariamente pela intenção de derrotar esta medida perversa!" (neste caso a letra pequena foi mesmo do texto, não da minha citação).

Assim, e pelo acumular de hipocrisia, e pelo descaramento de ser invadido em minha casa por um manifesto original, contudo direccionado a um católico - coisa que não sou e porque felizmente tenho liberdade de escolha, e porque Portugal é um país livre e laico - decidi que quem escreveu este tipo de manifesto deve ser penalizado nas urnas.
E é por isso que irei votar "SIM" no domingo.


Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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