Crucifixos
A semana passada D. Albino Cleto, personalidade das mais altas hierarquias da Igreja Católica (perdoem-me a ignorância mas não faço a minima ideia qual o seu posicionamento correcto na hierarquia) criticou, numa cerimónia, o facto de o Ministério da Educação ter pedido a algumas escolas para retirarem os crucifixos das salas de aula. Falou ele, no sermão citado pelos jornais, que as escolas devem, pelo seu sentido cultural, divulgar os caminhos e ensinamentos cristãos e de Jesus Cristo. Nesse caso pergunto: para que servem as catequeses?
Portugal é um estado laico, segundo a constituição, que é a lei fundamental de qualquer país. É óbvio, e acho que ninguém põe isso em causa, que a Igreja teve um papel na Europa - para bem e para mal - que não deve ser esquecido. Acho que nada deve ser apagado da memória colectiva e defendo que todos os traços históricos (inclusivé estátuas de ditadores, obras de arte, etc) devem permanecer para que as pessoas conheçam o passado e queiram conhecer mais. Mas daí a que um local público apresente simbolos religiosos só porque representam um legado histórico, é pedir um pouco demais. Afinal Salazar também é um legado histórico e não há fotos nas salas de aula; os sucessivos governantes a mesma coisa... há inclusivé escolas que nem sequer têm a bandeira de Portugal!
Noutro aspecto D. Albino Cleto falou que a Igreja sempre respeitou as outras religiões... bom... religiões chamadas pagãs, de vários deuses, como a romana, a egipcia... as cruzadas, a inquisição... acho que comprovam as palavras deste senhor.
Os meus familiares directos são católicos e foi nessa base que fui educado. Nada tenho contra os seus devotos, nem contra quem acredita. É um direito que lhes assiste e que respeito tal como gosto de ser respeitado enquanto agnóstico. Ao longo do tempo, e de alguma curiosidade, fui constatando que muito da educação moral que é "vendida" como sendo cristã já era praticada no Antigo Egipto, cerca de 3000 anos antes da criação de uma religião comercial: actos como a rectidão, a ajuda aos mais necessitados, a partilha com o próximo, viver em harmonia faziam parte de uma "lei fundamental" conhecida como lei de Maat.
Acho também interessante que a Igreja recuse a homossexualidade nas suas escolas de teologia. Afinal se os futuros prelados se vão dedicar completamente a Deus, sem qualquer contacto intimo, fisico ou sentimental, o que interessa se são homo ou hetero?
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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