Análise de um Portugal
Hoje vi no telejornal que o governo planeia aumentar o imposto sobre os combustíveis, sendo que este não é um aumento mas uma actualização, feita todos os anos, por causa da inflação. Na semana passada uma reportagem muito interessante mostrava como num posto de gasolina da mesma empresa gasolineira (e portuguesa) - GALP - em Ayamonte (para quem não sabe é a vila espanhola que faz fronteira com Vila Real de Santo António, no Algarve) a gasolina era mais barata que em Portugal em cerca de 25 cêntimos. Depois, mostrava-se que o preço da gasolina em Espanha é mais barato porque o imposto sobre os combustiveis no outro lado da fronteira é cerca de 10% mais baixo do que aqui, e o IVA lá é 16% e aqui é 21%.
Voltando atrás no tempo, os impostos aumentaram porque o défice disparou. Durão Barroso, o mesmo que se chama agora José Manuel Barroso e é presidente da Comissão Europeia, disse que o país estava de tanga e que todos precisavamos de fazer um esforço. O dele foi notório: colocou os problemas do país em cima de um incapaz e visionário (Santana Lopes) e mudou-se de armas e bagagens para Bruxelas, com ordenado europeu (será que continua a pagar impostos em Portugal?). José Socrates disse que também não tinha hipótese pois o orçamento feito pelo governo de Santana Lopes era irreal e o défice estava muito acima do esperado.
Por estas e por outras somos o povo que tem os salários mais baixos, a maior diferença salarial entre quadros, temos os impostos directos mais altos e os indirectos dos mais altos, pagamos a generalidade das compras de supermercado acima dos preços em Espanha, França e Alemanha, gasolina inclusivé, e ainda temos de fazer um esforço em suportar isto, continuar com actualizações de impostos ao valor da inflação e actualização salarial abaixo da inflação... e ver uma assembleia em dia de votação quase deserta, mesmo quando se antecipa a votação por um dia porque no seguinte é "tolerância de ponto"... - e muitos deputados que assinam o livro de ponto mas piram-se, qual estudante matreiro que pede a um colega para assinar por ele na aula, e não participam naquilo para o qual são pagos.
Sou contra qualquer tipo de desonestidade para com o Estado, fugas de impostos, fraudes, coisas do género, porque sinto que não é justo para o restante da população que não o faz/não quer fazer. No entanto parece que o Estado (ou quem o representa) se esforça para que isso aconteça.
Para quando chamar à responsabilidade os políticos e governos responsáveis pelo agravamento do défice, desde o mais baixo secretário de estado despesista, ao ministro das Finanças? É que de responsabilidades políticas já estou farto, porque não leva a nada, e, como na frase tipicamente portuguesa, quem se FODE continua a ser o mexilhão.
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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