segunda-feira, julho 12, 2004

Considerações de um cidadão que preza a democracia

Não pretendo, com este post, bater na decisão do Presidente da Républica, mas sim dar a minha opinião sobre ela. Primeiro acho que o Presidente tomou a decisão mais acertada para o bem do pais, não em termos de politica seguida pelo governo, que é discutivel, mas em termos de estabilidade geral do país. Senão vejamos: estamos a ter os primeiros indices de retoma, ainda timidos; acabou agora o Euro que foi um sucesso retumbante, conseguido pela união de todo um povo em torno de um objectivo - onde já se viu em qualquer evento desportivo um acompanhamento da sua selecção, os festejos apaixonados de outros povos pela vitoria da sua selecção, o sorriso por receber bem e dar tudo para que se sintam em casa? - e que devemos ficar bastante felizes por isso; temos compromissos europeus a cumprir, e somos olhados como um país capaz, organizador, discilpinado e obstinado. Marcar eleições antecipadas agora iria fazer perigar tudo o que foi conquistado.
Explico melhor a minha opinião: felizmente nasci e vivi dentro de um periodo democrático; entendo a democracia como a melhor forma que o povo tem de mostrar o seu descontentamento usando os meios ao seu dispor - eleições. Sou contra qualquer tipo de perturbação à ordem publica e de insubordinação contra as instituições democráticas e forças de segurança. Acho que os mandatos saidos das eleições devem ser cumpridos até ao fim a não ser que os mais votados se declarem incompetentes para o cumprimento desse prazo (como aconteceu com o Engº Guterres). Assim sendo torna-se lógico: o primeiro ministro demite-se para assumir um cargo de extrema importancia na hierarquia europeia; o partido mais votado, a governar em maioria, declara-se competente para cumprir o mandato na coligação formada; o presidente da républica, mais alta figura de estado, e com poder decisor, decide tomar uma decisão imparcial, de dar confiança dentro de determinadas premissas, aos partidos da coligação. Cumpriu-se a democracia! O que houve de errado?
O errado na historia toda é uma questão de respeito pelas instituições democráticas e de amnésia geral: apos as eleiçoes europeias os partidos da oposição viram fragilizada a coligação governamental; sentindo o cheiro de saida do primeiro ministro, o PS e o PCP começaram a imaginar-se no poder, somaram os resultados das Europeias, e toca de pressionar Belém para lhes proporcionar uma retumbante vitória. Afinal o Presidente da Républica é um socialista e não vai renegar o seu passado. Alguma semelhança com o apelo ao clientelismo que estes partidos dizem combater na Assembleia?
O que interessou na opinião destes senhores foi a vitoria do partido, e nao o bem estar do país; isso viu-se após a decisão, a forma revoltada como os meninos mimados reagiram, não respeitando a decisão do presidente e emitindo opiniões não só desrespeitosas às instituições democráticas como despeitadas e absurdamente estupidas. O mais contido ainda foi o Ferro Rodrigues, mas que ao admitir uma derrota pessoal transmite o clientelismo que já falei.
A democracia funcionou, e é de aplaudir; as instituições democráticas souberam resolver o problema, e quer se goste quer nao deste governo e da sua acção, nas eleiçoes legislativas vota-se um partido e nao uma pessoa; o partido continua lá, a pessoa é que se foi embora; o partido diz que tem alternativas para governar, então cheguem-se à frente! Se o Engº Guterres e o PS não tiveram os mesmos tomates em 2002 é problema deles, porque o Presidente disse que iria pelo caminho da estabilidade, que seria pedir ao PS para indigitar um novo primeiro ministro. Memória curta para os que hoje batem em Belém, é que o PS disse que nao tinha condições para governar.
Na minha optica, daqui a dois anos teremos eleições. Nessa altura faça-se a devida justiça! Quem está descontente agora estará daqui a dois anos, pelo menos na maioria. Então demonstrem-no e não fiquem em casa, a preencher os abstencionistas! Votem, nem que seja em branco, mas votem!
Ou pensam vós que se houvessem eleições, sendo um governo de esquerda, ia logo retirar todas as leis aprovadas por este governo, como primeiro acto de governação? Como diz Jorge Sampaio: o país precisa de estabilidade! E isso nao se consegue mudando radicalmente as politicas de dois em dois anos!
Afinal quem precisa de crescer são os politiqueiros esfomeados de esquerda, que já tinham a militancia toda preparada para o assalto aos cargos publicos...
Deviam ter vergonha, senhores!

Ultimamente tenho votado no Bloco de Esquerda porque acho que o Parlamento só com quatro forças politicas torna-se amorfo e retrógrado. Tinha razão: o Bloco trouxe mais cor, mais trabalho, mais discussão. No entanto entrou também no autocarro rápido do insulto nesta situação. Fiquei triste, porque os achava diferente. Também padeço de memória curta, mas posso não me esquecer deste passo em falso, e não sei se manterei a confiança nesta força politica, apesar de saber todo o trabalho que têm feito. Mas democraticamente devo demonstrar o meu desagrado no local proprio: na Urna de Voto!
Até lá, então...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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