segunda-feira, julho 19, 2004

Momento Político - uma opinião pessoal
 
Após a passagem desta pequena instabilidade, resolvida habilmente pelo Presidente da Républica, o unico que foi imparcial nesta história toda, permito-me a tecer breves comentários sobre o que se passa e passará no futuro. Realço que este futuro que falo é a minha humilde opinião, somente, e não se trata de nenhuma visão num qualquer sonho como tive durante o Euro 2004.
 
Como é normal, pelo menos em Portugal, os responsáveis de cada partido pensaram primeiro nos seus camaradas de partido, nos "boys" e possiveis tachos, no assumir de poder, e na influência ou não que poderiam ter junto do Presidente da Républica. Jorge Sampaio mostrou ter coragem, uma coragem que os militantes do PS, seu partido, nunca acreditaram que ele tivesse, já desde a altura em que ele foi secretário geral do partido. Dessa forma tornou-se, na sua acção governativa, como o Presidente da Républica mais imparcial que me lembro - Mário Soares aproveitou o seu segundo mandato (como seria o ultimo) a mostrar a sua antipatia pelo governo de Cavaco Silva e vetava e criticava por dá cá aquela palha, o que serve para perceber do sentido de democracia desse e outros senhores como ele: é bom desde que seja bom para mim pessoalmente e, em segundo lugar, para o país.
 
O maior partido da oposição, Partido Socialista, perdeu todo este tempo de consulta do Presidente da Républica, a juntar as suas fileiras, a preparar as eleições legislativas e a ver quem teria mais valor para assumir cargos governativos. Desde o despoletar da crise foi ver o corre-corre dos militantes rosa para as sedes, os telefonemas, os sorrisos, e a preparação dos vários caciques. Como lhe competia, Ferro Rodrigues foi dando a cara em vários jogos do Euro, sendo quase sempre entrevistado para a televisão. Ele, Durão Barroso, Jorge Sampaio e José Luis Arnaut foram os politicos entrevistados a maioria das vezes, nunca ninguém se referindo aos outros lideres partidários, o que é uma grande vergonha da comunicação social. Na hora dos resultados viu-se que Jorge Sampaio não é um lacaio do partido e que trabalha para Portugal, ao contrário da maioria das bases partidárias dos principais partidos politicos, e Ferro Rodrigues, vexado, demitiu-se porque viu que não basta ser-se amigo para mudar opiniões. Foi uma grande lição aprendida (espero) pelos militantes do Partido Socialista.
 
Ana Gomes não aprendeu a lição e, mais uma vez, voltou a não ter papas na língua. Mais uma vez revelou a sua falta de educação e falta de bom senso na forma como falou do seu arrependimento. O seu desabafo/estupidez pode-lhe valer muitas antipatias mesmo dentro do partido, e junto de muitos militantes ou indecisos. Os anos que passou em contacto com os indonésios do regime de Suharto deixaram mossa... ou então os sorrisos pepsodent da altura eram mesmo cinismo a esconder uma personalidade politiqueira e trampolineira.
 
Disse que ia ser breve mas alonguei-me. Para terminar resta-me dizer que, infelizmente, a politica cada vez se assemelha mais ao futebol: primeiro era na forma aguerrida como os militantes se "agarravam" à bandeira e camisola do partido, estando-se nas tintas para se se faz ou não o melhor para o país... desde que se consiga um bom cargo, um bom salário, empregos para familia e amigos mais próximos, carros e plafonds de cartão de crédito, tudo vale; agora reparo numa nova aproximação ao quotidiano futebolistico: os "treinadores de bancada" que dizem que este e este não deviam ter sido "convocados", que haveriam pessoas melhor colocadas para o cargo. Simpatizo com Santana Lopes, confesso, mas pela obra recente dele acho-o muito despesista. Porém espero, para bem do país, que ele se saia tão bem como o Scolari à frente da selecção, e passe de besta a bestial. É que há muita gente, desde analistas a cabeças de partido, a gente anónima, que está a precisar de perder a arrogância e a que "o tiro lhes saia pela culatra".
 
 
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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