[Sob pena de ficar escondido no tempo, volto a publicar o que escrevi no dia 29 Outubro de 2004]
Parabéns pelos 8 meses, Luna!
ECLIPSE
Aguardo ansioso por ver-te, ó lua cheia, motivo de amores e imagem de divindades. De ti espero a luz que ilumina o mundo na obscura noite.
Hoje é um dia especial: vais fugir de mim, colocar-te temporáriamente nas trevas, para voltares calma e resplandescente ao teu lugar original - a olhar-me, a iluminar-me, a deixares-te adorar por este ser minusculo que por ti se enamorou.
Como és bela! Notam-se, ao olhar com atenção, que em ti se vêem marcas temporais de um passado dificil, qual mulher lutando pela sua reviravolta social; as cicatrizes que mostras orgulhosamente são marcas de periodos de lutas conturbadas, de formação, de afirmação.
Começas a desaparecer lentamente no céu nocturno. A Terra, planeta invejoso mas onde sobrevivo, impede-me de continuar esta paixão platónica, este amor longinquo, que abordo com ansiedade pela distância, mas também calmo porque sei que o teu amor é recíproco. Ver-te partir é um encobrir do mundo no escuro da morte, na ilusão aparente que tudo o que era visivel e seguro é agora um grande bando de fantasmas negros que atacam no negro da noite.
Encobre-se o céu - acontece aquilo que eu temia! Não vou poder ver o teu aparecimento fulgurante, o teu renascer de uma morte fingida e não vislumbrada. Vais sentir-te morta pela minha falta de atenção, pelo meu amor vazio, que só se demonstra nestes momentos.
Entristeço. Sinto dor. Sofro. Porque nunca mais te vou ver. Porque nunca mais te vou poder conhecer e tocar. Porque nunca mais me vais deixar cortejar-te como bom admirador. Porque falhei e não admites falhas. Choro...
Com as minhas lágrimas de tristeza profunda abre-se um precedente: ouves-me ao longe quando ainda espreitas por uma fresta! Ouves o pingo caído, ouves o soluço verdadeiro, vês o manto fingido que encobre a presença de ambos. Aí moves montanhas e mundos, abres tempestades e marés e nuvéns e sofrimentos e tristezas! Rompes o manto de núvens.
De olhos ainda marejados não observo o teu esforço colossal. Mas percebo, com uma alegria que em mim começa a despontar, que me iluminas mais forte que nunca. Como um holofote de glória para mim dirigido! A alegria transborda, e ainda com os ultimos restos de mar a escorrer-me pela face, esboço um sorriso, o coração quase que sai do peito, a respiração aumenta!
Voltaste para mim; voltaste para iluminar!
É assim que vejo um eclipse lunar - uma história entre dois apaixonados que não se deixam vencer pelas dificuldades constantes do amor e da vida.
Obrigado Luna!
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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