quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Sobre as eleições - visão pessoal

Calhou que fosse escrever sobre as eleições no mesmo dia em que Alberto João Jardim decidiu opinar sobre Cavaco Silva... a este respeito, e antes de tudo, vou opinar:
  • O Dr. Jardim referiu-se ao Prof. Cavaco como o Sr. Silva, e como se ele fosse um desgraçado que o PSD deu a mão e lhe deu a brilhante hipótese de ser Primeiro Ministro de Portugal com duas maiorias absolutas. Se na primeira maioria isso pode ser parcialmente verdade, o que acontece é que Cavaco Silva pegou no PSD no congresso da Figueira da Foz quando ninguém, talvez nem o próprio, estivesse à espera. Tornou o partido e membros crediveis ao eleitorado e mostrou que em Portugal também há politicos competentes. Sem querer analisar o seu percurso, que obviamente teve erros e coisas boas, Cavaco Silva foi o melhor Primeiro Ministro de Portugal. No entanto o dr. Jardim acha que ele é um traidor e arroga-se a puxar dos galões para dizer que ele deixou tudo para a esquerda... este mesmo Jardim que não tem qualquer problema em usar os deputados da Madeira para aprovar orçamentos de governos que não sejam do seu partido... (merecia o prémio Gaveta!) - descaramento precisa-se!
Agora sobre as eleições:
  • A campanha eleitoral começou como terminou a pré-campanha: nojenta! Não nos livraremos tão cedo de acusações de parte a parte, como as crianças que se acusam mutuamente e o unico argumento que usam é "não fui nada, foi ele!", que vendo bem as coisas é o melhor argumento que se pode usar numa democracia, e tendo tanta necessidade de politicos e politicas competentes.
  • É dificil ver grandes diferenças no PSD e PS porque o país chegou a um estado tal que qualquer partido que forme governo não poderá mexer muito para muito lado. É necessário haver muito rigor nos orçamentos, nos dinheiros, na Segurança Social, empregos, concertação... sobra limpar asneiras como na educação e rezar que se possa ser um país competitivo daqui a 15 anos...
  • Acho bem que Santana Lopes concorra a Primeiro Ministro. Afinal ele quis substituir Durão Barroso, era o seu sonho, e não era justo que fizesse trampa e se pusesse a andar. Assim pagará pelo bem e pelo mal que fez. No entanto tenho medo. Medo porque os humoristas cresceram a olhos vistos e foi uma área onde além de não haver desemprego, até foi criado muito trabalho, logo os humoristas votarão todos PSD; além disso há aquelas pessoas que vêem a política completamente descredibilizada e podem votar PSD só para gozar... pelo que há uma hipótese, ainda que remota, do PSD ganhar as eleições...
  • Até acho que o Sócrates poderia ser um bom primeiro ministro... se não fosse do PS. Na verdade não morro de amores pelo PS, mas não é por isso que o digo. Simplesmente quem for imparcial o suficiente perceberá o meu argumento: a tralha Guterrista está toda atrás dele, prontinha a reocupar os espaços deixados quando o Guterres pôs o rabinho entre as pernas; além disso o PS é o partido, ao que me parece, em que há mais gente a viver da politica, o que não me parece ser muito bom se queremos avançar. Porque quem está no meio e conhece e usa os podres, nunca vai querer que o sistema mude! Olhe-se para a cara do Dr. Almeida Santos e vê-se a burocracia do país, num retrato cru e nu (e feio)!
  • Não seria capaz de votar no PP, são conservadores demais, mas tenho que lhes tirar o chapéu: Paulo Portas reorganizou as Forças Armadas, revitalizou as industrias de armamento e as OGMA, e assinou contratos de re-equipamento muito importantes; além disso os ministros Bagão Félix e Luis Nobre Guedes mostraram a sua competência (goste-se ou não das suas políticas). Para terminar, viu-se que Paulo Portas não brincou enquanto o Santana Lopes foi primeiro ministro e já tinha preparadas a estratégia e composição de um possivel governo PP.
  • Os partidos pequenos são os que costumam apresentar mais trabalho no parlamento, e o PCP é um desses. Com o aparecimento do Jerónimo de Sousa acho que houve uma revitalização porque o Carvalhas já andava cansado destas andanças, mas acho que ainda falta um pouco de verbo, de argumentação a este PCP. Não que precisem dela para ganharem eleitorado, mas para poderem lutar de igual para igual, rétoricamente, com os lideres dos outros partidos.
  • O Bloco de Esquerda é, e será, sempre mais radical. E confesso que me atrai em certos aspectos. Apesar do meu conceito politico se aproximar da social democracia, em Portugal o PSD só a tem no nome, e quem tem lutado mais por isso é o PCP e o BE. O BE ganha porque tem uma linguagem e imagem mais jovial e porque são uma força relativamente nova e aguerrida, que veio dar outro colorido à Assembleia da Républica. Nas primeiras eleições em que eles elegeram deputados eu votei neles porque considerei que a Assembleia da Républica representaria mais o povo se tivesse mais uma força politica: não me enganei. Agora o meu voto vai pender novamente para o BE porque acho que merecem a confiança. Além do mais penso que têm quadros competentíssimos que poderiam ser aproveitados num governo.
Acho que me alonguei; não sei se voltarei a este tema, mas já deu para dar o meu ponto de vista.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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