terça-feira, março 07, 2006

Televis(solid)ão

Madrugada. Não consigo dormir nem em frente da televisão, a poção mágica de milhões de almas no mundo, que a utilizam somente para que Morpheu, deus do sono, os venha embalar. Insónia já é frequente; as horas seguidas a pensar em nada e em muita coisa - oscilação do espectro de branco cinzentos preto, cores - são muitas e impossiveis de contabilizar. Possiveis mas sem qualquer interesse.
Nem sei o que está a dar, se estou a ver um filme por mim escolhido, algum dos canais a debitar informação que não interessa a vivalma, ou as televendas. Penso. Só. No silêncio do sono alheio da casa. Que também dorme, mesmo que a mantenha ténuemente acordada pelas luzes, pela corrente electrica a passar e pulsar nas paredes.
A vida - minha, de quem gosto - os problemas mais ou menos dificeis - meus, de quem gosto - o dinheiro que escorre qual caudal inesgotante de fluido... a falta de presença - minha, de quem gosto - a gritante e exasperante maré ininterrupta de sequencias interminaveis de.
Silêncio.
É o que escrevo. Pois quando não escrevo o nada não está presente, está apenas o passado a delinear a acção. Que está presente, que será futura. Se nada for alterado. Mas o nada está na minha cabeça, nas mãos infelizes que não choram palavras e carecem de incentivo. E de brilhantismo, e de um berro - um simples e gutural berro - para acordar.
Para aquecer, porque estão sempre geladas...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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