É assim. Na loucura. Num quarto de luzes médias onde o calor dos corpos ofusca a pouca luz do sol que entra. Dois corpos, vestidos. Por pouco tempo. Que se beijam desenfreada e apaixonadamente. Sem saberem o que é paixão, mas donos por inteiro do desejo. De cada um. De se darem, de se servirem, de partilharem o prazer dos odores, dos toques, dos beijos e linguas e sabores e corpos um do outro. Por dentro; por fora.
Frente a frente na esplanada conversam. E entreolham-se por dentro dos óculos escuros, sem o saberem e sem o lerem. Um sorriso, um riso, um brincar aos adultos e aquele toque no braço, na mão, perna com perna. Os olhos. Por trás dos óculos.
Ela encosta-se, ofegante, de costas ao corpo masculino. Ele percorre com as mãos o rosto e desce, pelo pescoço, pelos seios, até ao contorno da camisa. Que desaperta, calmamente, começando por baixo. E segurando a vontade de rasgar aquela roupa perfumada de mulher desejável. Chega ao ultimo botão, desaperta e abre a camisa como uma flor se abre para o sol, beija-a no pescoço, deixa escorregar as mangas pelos braços.
O sol já não arde, os óculos levantam-se. Os olhos, agora nús, tocam-se com frequência, procurando as palavras que mimam e que sentem, o desejo do irrealizável. As palavras soam doces sem juntar açucar. Cresce algo dentro deles sem ser preciso água para regar; os corpos afastam-se nas cadeiras, já sem tocar de pernas porque o coração bate mais; já para se contemplarem por inteiro porque os sentidos batem mais; já para se segurarem e manter uma postura discreta porque os olhos já não o conseguem. E a pele, e os lábios, e as mãos que vão roçar na outra disfarçando o nervoso. Que sobem ao lábio ao queixo ao cabelo...
As roupas vão caindo, por entre caricias e sussurros e beijos. Com calma, percorrendo os corpos com todos os sentidos, esfregando-se, tocando-se, beijando-se. Abraços e massagens e o sentir dos cabelos, da barba rala.
Protegem-se. Continuam, agora sentados. Na cama ele, ela por cima do corpo masculino, com o sol de fim de tarde a dourar-lhe as coxas e costas. Olham-se mais uma vez, aquele olhar que já estava escondido por trás dos óculos e que agora se revelou. E falou.
E encaixam-se, dando largas à imaginação e aos sentidos. Puxando em comum, puxando para cada um, na explosão da procura do prazer.
[termina onde a imaginação achar por bem terminar... foi só o começo...]
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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