segunda-feira, maio 15, 2006

Por momentos passo pelas brasas. A viagem torna-se cansativa à medida que se entra no Portugal rural dentro. De óculos escuros para proteger os olhos com poucas horas de sono dos dolorosos raios solares, tento esconder a luz e enganar o cérebro para mais um pouco de descanso. Inglório.
Olho para o livro no meu colo, que deixei a leitura para outro horário mais acordado e mais sóbrio. Nos sentidos aquele perfume, daquele encosto de almas e fisico. Fortuito e inesperado. Travar conhecimento, bem perto, pois o som do silêncio não permitia exagerar no volume da voz.
Os olhos não se largaram desde o primeiro contacto, as palavras sussurradas junto dos ouvidos, os cheiros a trocarem-se a cada debruçar de conversa.
Suave, doce, delicado, reservado. Assim como o sono que a pouco e pouco me assalta, misturado com o calor que começa a despontar do passar das horas do dia.
Acordo com um pequeno sobressalto no autocarro. Parado agora; olho para janela e tenho dificuldade em identificar o local... ainda longe do destino, que me leva para longe de tudo o que é passado e quero que nunca mais se afigure como presente ou futuro... fugir da vida como a conheço, porque sou mais corajoso a fugir, e prefiro continuar como corajoso.
E não como o fraco que fica e não enfrenta os problemas, apenas os adia. Dei a volta. Por cima. Por causa daquele olhar. E daquele perfume. E voz.
Que não me disseram mas fizeram perceber. Que longe estaria a resposta para os meus males e pecados, que só longe e fugindo encontraria o que procuro... num futuro próximo que tratarei de tornar presente.
E feliz. E sem remorsos. Como negro é esse olhar sincero que me continua a falar.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

Sem comentários: