domingo, abril 10, 2005

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(fase de variação ou uma versão de uma entidade básica continua, como a encarnação numa forma humana de um ser divino)

Uma praia. Deserta. Quase.
Na areia alguém está deitado como se apanhasse a energia do sol. De óculos escuros, camisa leve, calções. Contempla o céu, o astro, ou dorme; ou simplesmente está absorvido nos seus pensamentos enquanto aquece com a energia quente e retemperante.
O mar, o som, o envolver calmo das ondas. O ritmo que embala, o ambiente perfeito que puxa a alma para fora do corpo e ajuda a soltar os pensamentos que estão perdidos naquele armazém onde os guardamos.
Escondemos.
Queriamos esconder.
Adoro a praia; adoro pensar; nem sempre o que penso é bom ou me ajuda. Penso demais nas coisas, mesmo aquelas simples que não dizem ou querem dizer nada.
Eu penso nelas. Pensaremos todos? Ou há aquelas almas fantásticas e descontraídas que não ligam a isso?... ou simplesmente dão a ideia que não ligam a isso e parece a um espectador que está sempre tudo bem?
Tantas perguntas, porque penso. Acho que dou essa ideia ao espectador, mas na verdade quem me conhece bem sabe que penso muito ou quando estou preocupado.
Quem conhece bem sabe sempre tudo.
Porque as coisas nem sempre têm significado, ou porque queremos sempre encontrar um significado para a palavra, suspiro, olhar mais insistente? Temos essa necessidade enquanto ser vivente, enquanto corpo persistente...?
Procuramos agradar, ser agradados, mas a vertigem dos pensamentos corrói essa sensação de prazer, a estética do agradável, a...
Às vezes olho para pessoas e fico fascinado. Penso que elas nunca terão problemas que afectam os comuns mortais, que estão numa categoria reservada aos deuses - ou a seus aspirantes. Falam comigo e relatam problemas muito semelhantes aos meus, linhas de pensamento e imaginação muito parecidos, problemas de consciencia... tal e qual. Olho mentalmente para dentro de mim e avalio-me; avalio a pessoa que me transmite aquilo que nos torna semelhantes. Subtraio e tiro o resultado: como pode ser?
No fundo acabamos por ser todos iguais. O sol chega a todos e ilumina e aquece e transmite energia igual. Aproveitamos apenas o que conseguimos ou o que humanamente podemos, o resto é desperdiçado, o resto é residuo - ressequido.
O corpo que está na praia apoia-se nos cotovelos e olha a imensidão de mar. Gostaria de ter poderes, forçar um sismo com a ideia. Esperar pelo tsunami. Ser engolido pelas ondas...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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