sexta-feira, junho 17, 2005

"Fiel ou infiel" e outros critérios...

Não vejo com muita atenção o programa por, durante a sua exibição, estar a trabalhar. Porém, por trabalhar num café, consigo ter um grande número de opiniões diferentes - tanto masculinas como femininas.
Neste aspecto nota-se que as mulheres condenam qualquer tipo de atitude favorável do homem para a traição e, apesar de acharem o programa uma palhaçada, levam a sério o que se passa. Os homens têm uma opinião mais generalizada entre eles: a sedutora, sim senhor, é uma boazona; não faz quase nada que se possa considerar uma traição; é um programa de TV que pretende mostrar a infidelidade: ao ir lá as pessoas arriscam-se (e bastante) a serem infiéis.
Devo dizer que a minha opinião sobre o programa está, de certo modo, espelhada na opinião masculina. Se a minha namorada quisesse ir lá para saber se eu era fiel, por muito que fosse, digo já de antemão que não o seria; se eu fizesse o mesmo saberia que já tinha bem afiadinho o meu par de cornos. E isto porquê? É um programa de TV; pretende chocar; encontra sedutores que estarão preparados para o que surgir, e bem treinados; têm a ficha e perfil das "vitimas", e vão criar toda uma situação para que se proporcione aquilo que o espectador quer ver: traição, surpresa e raiva do parceiro, desilusão, e um lavar de roupa suja na praça publica.
Do que já vi, na versão portuguesa (obviamente, porque a brasileira não se pode aplicar ao nosso caso: é um país muito mas muito maior, com muitos mas muitos mais habitantes e hábitos muito mas muito diferentes), a forma de actuação do sedutor varia e bastante se o "infiel" é homem ou mulher. Até agora o "infiel" é sempre vilipendiado porque a sedutora fez um strip/table dance para ele; não trocam um unico beijo e o máximo que há é ele ser humilhado por ficar de cuecas com uma stripper a esfregar-se a ele e, aqui e ali, pegar na mão dele para a esfregar no seu corpo. No caso das mulheres é diferente: há beijos, o sedutor bem que se aproveita e toca nelas e elas bem que se aproveitam e tocam nele - sem qualquer objecção ou inibição dele.
Mas isso é tipico nas mulheres: o homem é traidor só por ir a uma casa de strip, onde paga bem, baba pela mulher que dança e se despe agarrada a um varão, não lhe toca... e mais nada. Pelo contrário (pelo que me contaram) os strips masculinos são uma festa, com várias manifestações, cantorias, danças. Elas não precisam que eles peçam ou impeçam de lhes tocar porque elas, de livre vontade, lhes tiram a roupa, apalpam, riem, convivem. Em situação semelhante mas num strip feminino as profissionais seriam putas e os homens uns depravados tarados prevaricadores.
Ao falar disto com uma amiga num dia destes ela disse que as mulheres têm o direito de agir assim e de trair porque foram subjugadas pelo homem durante centenas de anos: é a emancipação. Embora goste de argumentar não fui capaz de o fazer convenientemente e acabei por lhe dar razão. Pelo que tenho observado a mulher é mais fiel mas também menos fiável no teste de fidelidade. Porque há um ponto que é impossivel lutar contra: as mulheres detestam ser desiludidas ou deixadas para trás - ficam destroçadas, de rastos. Nesse momento aparece alguém que a conforta e ela, carente, deixa-se arrastar e cai nos braços de outro (o homem, em caso de carência por desilusão ou troca, procura conforto junto de amigos e do álcool; quando muito as unicas mulheres que encontram são ou stripers ou prostitutas que somente fazem o seu trabalho). Era desta forma que se criavam as situações no programa equivalente da SIC (Juras de amor, se não me engano).
Agora dizem as mulheres: Lá está, é um HOMEM que se aproveita da debilidade passional da MULHER, que neste caso é vitima (como o é sempre!). Mas para isso tenho uma resposta simples: claro que é um homem que o faz, porque se fosse uma mulher com os mesmos propósitos vocês deixariam-se apanhar e "trair" o namorado de uma forma lésbica? Porque essa é, queiram saber, a unica forma pelo qual não temos como lutar...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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