segunda-feira, maio 03, 2004

"Por mais gente que a gente se iluda, a triste verdade é que a democracia e a liberdade não se impõem nem por eleições, nem por decreto, nem por hábito: faz parte da educação com que se nasce."
Miguel Sousa Tavares, in "A Bola"


25 de Abril - a continuar...

O 25 de Abril foi um acontecimento fantastico. Trouxe muitas coisas boas, mas a melhor de todas foi, sem duvida, a liberdade.
Liberdade é um conceito muito dificil porque, como se poderà definir liberdade? Mesmo num sistema democratico ha regras que nos limitam a liberdade, mas isso torna-se obvio para haver uma certa ordem. Nao concebo como possivel que consiga haver ordem com liberdade total para todos, porque basta alguém usar a sua liberdade contra outrém que està, indelevelmente, a restringir a liberdade do outro.
Não vivi num sistema enjaulado como esse, nem gostaria de viver. Uma das piores coisas que pode haver deve ser o nao nos podermos exprimir livremente, o nao podermos confiar em ninguém sob pena de sermos entregues.
Nao falar, nao confiar...
Agora fala-se de tudo, até de coisas a mais... no dia 25 de Abril ouvi um trecho de uma entrevista, na radio Alfa, a um militar do Regimento das Caldas que foi um dos que abriu a prisão de Peniche. A paginas tantas ele teve uma frase que, quanto a mim, estragou tudo de bom que ele tenha feito ao participar no movimento. Foi qualquer coisa como isto: "os jovens agora nao entendem a liberdade porque nunca viveram sem ela, e esta geraçao nao entende o 25 de Abril"; depois continuou: "quando vim para França para as comemoraçoes nos arredores de Paris, sai de madrugada e nao entendo como podem os jovens agora sair das discotecas ao nascer do sol...". Da vontade de perguntar: nao foi por esta liberdade que lutaste?

Tenho reparado que ha uma vontade enorme de muitos dos homens que fizeram Abril de envelhecer e passar à reforma, para poderem criticar a geraçao a seguir. Eles falam da nossa geraçao como alguém indiferente, que nao entende a luta deles e que nao lhes agradece o que eles fizeram; mas porquê agradecer, se o que fizeram foi para o bem deles proprios? Afinal eles é que estavam vivos na altura, nos nao tinhamos ainda nascido!
Nao é a geraçao que nasceu em Abril de 74 que està no volante, ainda sao os que viveram e foram educados sob o fascismo. Custa-me muito ver que tantos que lutaram pela liberdade nao entendem o proprio conceito nem aquilo pelo qual lutaram.
Felizmente o povo português é critico o suficiente para saber usar a sua liberdade de expressao de uma forma critica, contundente. Nao seremos subtis como o foram grandes escritores, poetas e pensadores do passado, mas saberemos dirigir melhor o barco do que eles alguma vez o fizeram - se eles nos permitirem fazê-lo!

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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