sábado, março 19, 2005

Análise de Riscos

Hoje tive uma palestra, na cadeira de Segurança Industrial (que é dada a par com o curso de Segurança e Higiene no Trabalho), dada por um engenheiro químico e que versava sobre a Análise de riscos. A palestra, de cerca de duas horas e meia, conseguiu ser bastante interessante: este engenheiro, com sotaque do norte e com ajuda de uma simples (e longa) apresentação de powerpoint foi focando vários aspectos de riscos no dia a dia ou numa empresa, e numa vertente mais técnica, falando a respeito do calculo do risco, das probabilidades, perigos, etc. Não quero ser maçador na análise, mas houve uns exemplos que ele falou que são sintomáticos e dizem respeito a todos nós e a coisas que nunca pensamos.
Quando houve o caso dos pesticidas nos maços de tabaco Português, a decisão do Governo foi a de proibir logo a venda. Porém ele, como especialista, achou aquilo muito estranho, e explicou: afinal nos maços há mensagens em letras garrafais a dizer "Fumar mata" ou "fumar pode prejudicar a sua saúde"; se sabemos que fumar mata e não temos qualquer prova que o tabaco com pesticidas mata mais do que o outro que se encontra à venda, porquê proibir só aquele?
Outra coisa que ele focou foi uma sondagem que foi realizada à um tempo e em que as pessoas eram questionadas acerca de um produto químico que era fonte de transmissão de doenças, que poderia provocar a morte quando ingerida em grandes quantidades, etc. A sociedade inquirida não teve duvidas em dizer, liminarmente, que esse produto deveria ser banido do consumo. No fim foi revelado qual é o produto: a água! A fonte da vida! É fácil fazer uma campanha de marketing para qualquer coisa, apresentando só os riscos e não os beneficios; o objectivo do marketing e publicidade é mostrar só os beneficios de determinados produtos, mas como ele realçou, todos os produtos têm riscos e beneficios, mesmo os medicamentos. Porque é que quando estamos doentes o médico nos diz que devemos tomar determinado antibiótico de tantas em tantas horas? Se faz bem deveriamos tomar logo, não? É que a dose excessiva faz mal, e os resíduos que ficam no corpo só saem passado determinado tempo; o mesmo acontece com os turnos de trabalho, de 6 ou 8 horas, para haver um relaxamento para que o corpo, ao voltar ao trabalho, esteja pronto e descansado para outra jornada. Tal como nas horas de sono... enfim!
Em tudo na vida há riscos, em todas as decisões os assumimos, e não é por isso que deixamos de decidir. Claro que optamos pelos riscos menos prováveis, isso é óbvio, mas não deixamos de assumir essa percentagem de perigo.
No dia a dia não pensamos muito nisso, por um lado ainda bem; mas por outro pensamos sempre que não devemos fazer algumas coisas só porque vemos na TV que é perigoso (género crime aumenta, sinistralidade aumenta, doenças aumentam...) e é absurdo que a comunicação social tenha poder para alterar o modo de vida das pessoas.
Os estudantes, e as pessoas em geral, detestam ouvir palestras, mas esta a que assisti hoje seria bem vinda para muitos governantes deste país...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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