" A água chia no púcaro que elevo à boca
'É um som fresco' diz-me quem não está a bebê-la.
Sorrio. O som é só de chiar.
Bebo a água sem ouvir nada com a minha garganta."
Alberto Caeiro, Guardador de Rebanhos
Suspiro. Passa o tempo. Suspiro. As núvens sucedem-se num céu acinzentado, em que a radiação do Deus Sol queima mas onde não mostra o alcance dos seus raios.
Olho o horizonte e o relógio. Anoitece mais tarde, penso eu. Vem aí a primavera, pensa alguém dentro de mim.
"C'est comme un rêve", ouço numa voz interior que não percebo. Suspiro, longamente. Sinto falta se sentir o equilibrio do corpo, de treinar a respiração.
Tapam-me os olhos com as palmas das mãos, pele suave, sorriso leve mas penetrante.
Aquele perfume.
"... c'est comme un rêve, alors..."
" Pudesse eu como o luar
Sem consciência encher
A noite e as almas e inundar
A vida de não pertencer!"
Fernando Pessoa
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário