Nem tudo está mal... ou será que está?
No Expresso da semana que passou, no caderno de Economia, o editorial de Nicolau Santos escapa-se de exaltar a mediocridade e os problemas já conhecidos do país e fala de empresas portuguesas que têm sucesso e ganham prémios no estrangeiro. Nas novas tecnologias estamos na vanguarda e temos pessoas empreendedoras que arriscam e investem.
Porém o Governo decidiu-se a apresentar um programa de investimentos que deixa um pouco a desejar. Nesse mesmo caderno do Expresso há um artigo com comentários a esses investimentos mais que esperados - porque verdade seja dita foram reciclados de outros governos, com os quais este mesmo partido do Governo não concordava... e nem sequer se sabe se a reciclagem feita incluiu estudos de viabilidade, ou menos gastos no investimento, ou melhor aplicabilidade dos fundos publicos.
De todos acho necessário falar de dois:
- Aeroporto na Ota para substituir/desocupar o Aeroporto de Lisboa: Lisboa deve ser das poucas capitais da Europa que tem um aeroporto dentro da cidade; fala-se no Expresso que se pode aumentar ligeiramente a ocupação e utilização do mesmo mas que está praticamente esgotado. A solução Ota já foi criticada por muita gente digna de crédito e até já se propôs a utilização de Alverca como apoio à Portela. Este teria inumeras vantagens porque é a 10 minutos de Lisboa, porque permitiria a sua utilização por companhias low-cost, porque os custos de exploração seriam baixos, porque tem instalações excelentes para essa evolução, porque tem autoestrada e gare ferroviária lá. A deslocalização das OGMA seria o menor dos entraves visto que há a base de Sintra que está praticamente desactivada, a base do Montijo que é operacional mas está muito abaixo da capacidade, a base de Beja que... bem é no Alentejo e tem o espaço que foi desocupado pelos alemães nos anos 90. Por outro lado: Ota? Um aeroporto internacional a 45 minutos da Capital? Não vai aumentar os custos de transporte, de criação de acessibilidades, etc? Em Paris há dois aeroportos: o principal, Charles de Gaulle, que serve as grandes companhias e é próximo da cidade e servido por autoestradas e pelo RER (um comboio suburbano mas em bom), e Orly, que fica mais longe do centro, é operado maioritariamente por low-cost e tem também autoestrada e ligação RER+Orlyval (comboio/metro exclusivo que termina dentro do Aeroporto). No máximo, de transportes, demora-se 20 minutos a chegar lá em hora de ponta... porque haveremos de escolher sempre a opção mais cara e menos óbvia?!
- O TGV: no artigo apresentado no Expresso fala-se que, na melhor das hipóteses e com uma linha excelente, se faria Lisboa-Madrid em 3h30, mais 2h do que de avião. Os custos seriam de mais de 150€ por viagem de ida, o que seria mais caro em quase 100€ do que ir por uma low-cost. Já é um óptimo argumento. Mas será bom ver outros pontos de vista. O serviço Alfa até que nem é mau, mas o Alfa ainda nem sequer usa 30% da capacidade de velocidade que pode atingir, isto porque a maioria das linhas que utiliza são ultrapassadas; há serviços ferroviários de péssima qualidade e que têm mais uso e menos investimento (suburbanos para a Figueira da Foz, que demoram 1h30 a fazer viagem de ida para cumprir 40km, ou a automotora para a Lousã, que é dos anos 60 - ok, foi remodelada...); Fazer Coimbra - Faro de comboio, pelo comboio azul, demora 8 a 10 horas de viagem, dependendo do movimento, isto porque no Alentejo a linha é unica!
Podemos fazer mais e melhor do que isto! Pelo menos ser mais exigentes e não como tem sido feito: reclamar mudanças desde que não seja connosco - sempre com os outros! Porque afinal os outros é que estão sempre a fazer mal ao país!
Só mais um exemplo de demagogia tão utilizada em política: o outro governo (se assim se pode chamar...) disse que ia terminar com as SCUT. Grande parte do país aplaude porque, afinal, é absurdo toda a gente pagar por uma estrada que não usa e que não é usada assim por tanta gente. Este governo diz que terminar com as SCUT é colocar em abandono o interior, o que faz a outra metade aplaudir porque se deve ajudar quem precisa... só não explicam é que as SCUT foram criadas com o objectivo de NUNCA serem pagas, destruindo para isso os acessos que haviam e tornando-as as unicas alternativas de comunicação. Ao contrário das Autoestradas que têm saídas de 30 em 30 km, mais ou menos, as SCUT têm saídas de 2 em 2 km, o que tornaria bastante oneroso a colocação de portagens de 2 em 2 km (sem falar que teriam de ser criadas estradas alternativas que foram usadas e destruidas para a construção destas "Autoestradas à borla"...
Enfim...
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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