Pretende ser diferente do normal, por isso ser "contra natura". A ideia é desenvolver textos críticos, que possam misturar (ou não) um pouco de humor não amordaçado.
sexta-feira, dezembro 31, 2004
o ultimo, aquele que agora passa, aquele em que visionamos o filme de uma vida...
ou somente de mais um ano...
que passou, e voou.
Mais um ano se segue, com esperança, sonhos... alegrias.
Merecemos...
(Nebulosa da Tarântula, www.portaldoastronomo.org)
Boulevard Of Broken Dreams
I walk a lonely road
The only one that I have ever known
Don't know were it goes
But it's home to me and I walk alone
I walk this empty street
On the Boulevard of broken dreams
Where the city sleeps
And I'm the only one and I walk alone
I walk alone I walk alone
I walk alone and I walk
My shadows the only one that walks beside me
My shallow hearts the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Till then I'll walk alone
Ah..ah..
I'm walking down the line
That divides me somewhere in my mind
On the border line of the edge
And where I walk alone
Read between the lines
What's fucked up and everything's alright
Check my vital signs to know I'm still alive
And I walk aloneI walk alone
I walk aloneI walk alone and I walk a-
My shadows the only one that walks beside me
My shallow hearts the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Till then I'll walk alone
Ah..ah..I walk alone and I walk
I walk this empty street
On the Boulevard of broken dreams
Were the city sleeps
And I'm the only one and I walk
My shadows the only one that walks beside me
My shallow hearts the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Till then I'll walk alone
Feliz Ano Novo, feliz 2005!
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
quinta-feira, dezembro 30, 2004
(Salvador Dali, Apparatus and Hand)
Choro lágrimas de sangue
da dor que me abre o peito
e abre a carne enfraquecida;
Fungo o ranho que se acumula
de tanta porcaria que sai
do excrementoso pensamento.
Babo a saliva do desespero
da tristeza acumulada
da voz que se prende.
Não solto palavra,
apenas fluidos corporais.
Estes mostram os sinais
de uma morte anunciada.
Esclarecimento: Por vezes os projectos e planos não correm como queremos, e quem mais os impede de se realizarem somos nós. Somos o nosso maior inimigo e temos de nos combater com ferocidade para ultrapassar certas (e determinadas) barreiras. Os ultimos posts não têm sido dos mais agradáveis, têm percorrido temas mais tristes, macabros, bizarros ou, simplesmente, o mau gosto. São opiniões. Podem ou não reflectir a sensibilidade ou vida do autor no momento de escrita, podem constituir ficção.
Da minha parte confesso que não estou no meu melhor periodo, apesar de escrever regularmente neste espaço. Esta tentativa frustrada de poesia (sem que o tentasse inicialmente, mas que surgiu) saiu-me de uma insónia num momento especialmente mau. Aqui desabafo e aqui deixo umas palavras de esperança: estou a esforçar-me para que mude para melhor.
Positivismo precisa-se!
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
terça-feira, dezembro 28, 2004
"Tenho vontade de levar as mãos
À boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraía os outros, os tais sãos. "
(Opiário, Álvaro de Campos)
(persistance of memory, Salvador Dali)
Ficas na cabeça como a tontura de uma droga fumada, como o ziguezague do excesso de cerveja numa noite de alegre tertulia. O teu olhar vivo, o som que lembro e relembro da tua voz sadia e livre e doce, com que encho os ouvidos com palavras e frases de amor em imaginação. E em realidade.
Do sexo, que em ti conheci e do qual me viciei - até à morte, até à loucura, até à tontura inebriante de já não poder mais, até ao ar faltar nos meus pulmões e ser necessário insuflar. Falta, fadiga, filosofia. A experimentação e a emoção juntas num extertor de prazer.
Beijo-te os olhos, as mãos. Afago, com o teu corpo macio, a minha pele áspera; o arrepio de excitação, o alegre pulsar de uma nova vida que cresce, ruborizada, no centro do corpo. Que te transmito, em energia - e em suor, que sorvo; e em gemidos que bebo; e em arfos de cansaço lânguido que colocam um ponto final no meu esforço.
De te ver feliz.
De te dar prazer...
Uma memória.
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
segunda-feira, dezembro 27, 2004
(Auguste Rodin, désespoir)
Procuro-te pelas ruas da grande cidade porque sei que não te vou encontrar. Olho fundo dentro de mim quando fecho os olhos e penso o que estou a fazer aqui, tão longe do mundo que me rodeia, tão longe de ti... tão longe de mim.
Todas as gotas de sangue que circulam, disciplinadamente, no meu corpo, que garantem todas as funções vitais, por ti clamam. Tu não apareces. Inevitável. Não existes.
Mochila às costas cirando de rua em avenida, de bairro em praça, de estação em metro, de autocarro... volto a pé pelas pontes e passeios junto ao Sena, pela margem e pelo cheiro humido do rio. Ao largo os turistas acenam dos bateaux mouches que circulam pela Île St. Louis e fazem as delicias dos visitantes, mas nem sempre dos transeuntes.
Não te encontro, não existes; não me encontro, não existo.
Paro, máquina fotográfica em punho, e decido tornar este momento de não existência uma realidade. Tiro fotografias a monumentos, a casas, a janelas, ao rio, aos barcos, aos pássaros, ao pôr do sol, à torre Eiffel ao longe, a apontar o céu e a ignorar a minha inexistência. Tiros fotos à populaça desconhecida: homens e mulheres, das mais variadas raças e nacionalidades - pretos, loiras, árabes... todos misturados, qual mundo em ponto pequeno, qual globalização sem espaço tempo definido.
Volto para casa pensativo, tal como comecei. Mas agora com uma musica na cabeça - a tua musica! - e uma imagem - a tua imagem!... que desconheço, mas que pretendo conhecer... assim que me descobrir, assim que existir.
Tiro a prova dos nove mal entro no quarto desarrumado: tirar foto ao meu fantasma e comprovar que, afinal, tenho corpo, fisico, existo!
Olho o écrã da máquina digital: o quarto, a desarrumação, mas sem a minha imagem...
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
sexta-feira, dezembro 24, 2004
(Natal - Brasil)
O Natal é uma época de sentimentos contraditórios, porque se tudo e em todo o lado apela ao consumismo, ao sentimento fácil e à compreensão bacoca, há muito dentro de nós que pensa que isso deveria ocorrer o ano todo. Pensando bem o Natal é só um dia, é uma quadra e, além do mais, que diz respeito a uma religião. Porém foi expandido por todo o mundo por grandes companhias e factores comerciais.
Onde pára, então, o verdadeiro Natal?!
Eu sei, e por isso desejo " a quase todos um bom natal". E porquê?
Porque o espírito de Natal está dentro de nós, figura imanente que se reflecte em todos os actos de cidadania, de solidariedade, de amor, de companheirismo, de amizade. Na forma como amamos os nossos amigos, companheiros, colegas, familia, e como a eles demonstramos o nosso amor. Temos tendência a esconder muitos dos sentimentos, por imperativos sociais, comerciais, timidez, vergonha, vida activa. Mas está sempre lá: na forma como olhamos aquela pessoa que muito nos diz, mesmo que ela não note; na forma como enviamos toques e sms's; na forma como abordamos e pensamos nas pessoas que mais longe de nós estão, e como no dia a dia imaginamos como seria se todos, mesmo todos os que pensamos, estivessem à nossa volta.
Eu penso nisso frequentemente e acho que daria uma puta de uma confusão... no entanto ali estariam todos aqueles que amo, que quero junto de mim, só que nem todos compativeis, por vários imperativos sociais, emocionais, a que chamamos e convencionamos o Ser Humano (ser verbo e ser pessoal).
A quase todos um bom natal!
A quase todos um bom natal...
Cumprimentos,
Paulo Aroso Campos
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
quinta-feira, dezembro 23, 2004
Acaba por ser "cliché" usar palavras de outrem, principalmente letras de musicas, para acrescentar palavras ao blog. Porém acho que o último álbum do Jorge Palma tem obras primas da escrita e que passam pelo dia a dia de todos em qualquer momento. Isto para dizer que, após esta reflexão, vou colocar a letra de mais uma musica do álbum "Norte", de Jorge Palma.
Agora dou lugar à reflexão pessoal do ano que passou. Como ultimamente tenho tido algumas visitas mas ausência de comentários, vou egoisticamente ocupar o espaço que for necessário para este post, pelo que muita gente vai ver o tamanho e nem sequer ler (para isso envio por e-mail para algumas pessoas, hehehehe!).
Posso dizer, com certeza absoluta, que sou uma pessoa com receio de arriscar; porém quando arrisco passo do 8 ao 80, coisa que a minha psicóloga já me tinha dito mas que eu não via. Comecei a ver. Alguns esclarecimentos: sou prefeccionista e muito exigente, porém um pouco preguiçoso; tenho muito receio de não agradar e de falhar os meus objectivos; e mais que isso, que me apontem esses erros e me critiquem destrutivamente (algo que me deixa bem transtornado e perdido)... mas também não lido muito bem com os elogios, fico envergonhado. Estranho, não?
Em 2004 fui 4 meses para Paris, fazer Erasmus. Estive de Março ao fim de Junho sozinho, sem qualquer companhia portuguesa. Durante quase dois meses, no inicio, só falava português ao telefone com os meus pais e com a namorada, a Sandra; isto até ela lá ir. Tive dificuldades em comunicar pois o meu francês era primário, as pessoas não são tão acolhedoras e quentes como os portugueses, senti saudades da familia, de casa, dos amigos. Em 4 meses aprendi a cozinhar, a desenvencilhar-me mesmo pouco falando da lingua, a trabalhar ao mais alto nivel, a fazer amigos de várias nacionalidades, a ter algum rigor e disciplina... consegui!
Durante esse tempo também senti muitas saudades de todos os amigos, familia, namorada, dos confortos do lar, dos carinhos de todos. Chorei de perda, de saudades, de dor, de ideia de fracasso; chorei de solidão e senti alivio por estar sozinho. Também muito ri, sorri e aprendi. Vi e conheci coisas maravilhosas, descobri maravilhas de uma cidade maravilhosa como Paris, descobri pessoas excepcionais, cheias de vida, amorosas, corajosas, lindas, apaixonantes. Descobri um sistema de transportes excepcional, ouvi uma rádio portuguesa que é da melhor qualidade e que transporta a cultura portuguesa para todos, no melhor e no pior. Vivi como nunca os sucessos do F.C. Porto, ouvi apaixonadamente os jogos do Benfica na Europa (que todos sabem o meu sentimento por esse clube), entristeci-me pela derrota da selecção no jogo inaugural do Europeu e exultei de alegria e festejei quando ganhamos. Vivi anos em 4 meses e voltei mais forte, com mais conhecimento de mim, mais determinado e com a certeza que ainda teria muito, mas muito a aprender.
Voltei para junto da namorada, familia e amigos que adoro e que me adoram, senti o seu carinho e falta, demonstrado das mais diversificadas formas. Procurei um trabalho para sustentar os meus (longos e caros) estudos universitários, para poder aliviar a carga dos meus pais que começam a entrar na idade em que têm que aproveitar as coisas boas da vida e auxiliar o caçulinha, que também merece (ajuda que ele sempre teve, mas acho que nunca é demais!).
Por um pormenor quase que uma relação estável de 6 anos de namoro terminou, e só não aconteceu porque somos ambos teimosos e ambos apaixonados; aqui me voltei a sentir só apesar de tudo e todos estarem à minha volta, o que ainda foi mais doloroso; senti e sinto a pressão, auto-imposta, das preocupações legitimas de quem tem carinho por mim. Aqui voltei a conhecer pessoas muito especiais, inteligentes, bonitas e interessantes, óptimas companhias e que são tudo de bom - ok que terão defeitos, mas o que interessa são as muitas qualidades, e são essas que devemos tentar salientar: uma questão de estimulo, de ego.
E neste momento de reflexão, em que um ano foi terrivelmente resumido e esquartejado, posso dizer com prazer e alegria que as lágrimas que estão prestes a transbordar dos meus olhos são de alegria, felicidade e um pouco de salutar preocupação - que medos e temores antigos estejam somente escondidos e não ultrapassados. Por isso a escolha desta canção do Jorge Palma, que aconselho vivamente.
A todos (que me lêem, que partilham alegrias e tristezas, sentimentos, emoções, culpa, prazer, amor, carinho, respeito, que me inspiram, que são musas no devido tempo e espaço...) agradeço do fundo do coração, e desejo umas boas festas (sim, é o sentimento mais arreligioso, se é que existe esta palavra!).
A letra:
Passeio dos prodígios (letra e música: Jorge Palma)
Vamos lá contar as armas
tu e eu, de braço dado
nesta estrada meio deserta
não sabemos quanto tempo as tréguas vão durar...
há vitórias e derrotas
apontadas em silêncio
no diário imaginário
onde empilhamos as razões para lutar!
Repreendo os meus fantasmas
ao virar de cada esquina
por espantarem a inocência
quantas vezes te odiei com medo de te amar...
vejo o fundo da garrafa
acendo mais outro cigarro
tudo serve de cinzeiro
quando os deuses brincam é para magoar!
Vamos enganar o tempo
saltar para o primeiro combóio
que arrancar da mais próxima estação!
Para quê fazer projectos
quando sai tudo ao contrário?
Pode ser que, por milagre,
troquemos as voltas aos deuses
Entre o caos e o conflito
a vontade e a desordem
não podemos ver ao longe
e corremos sempre o risco de ir longe demais
somos meros transeuntes
no passeio dos prodígios
somos só sobreviventes
com carimbos falsos nas credenciais
Vamos enganar o tempo... (refrão)
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
quarta-feira, dezembro 22, 2004
Numa edição especialíssima para Portugal, o sumo de pontífice deu ordem para começar a venda da nova publicação do livro mais vendido e publicado no mundo.
Na esperança de cativar um publico mais jovem, o prefácio vem assinado por José Castelo Branco (após ele ter assinado documentos específicos a negar a homossexualidade e apresentando comprovativos que a sua esposa não é um transexual ou cadáver, e que só faz sexo para procriar), e nas páginas centrais, em rigoroso exclusivo mundial, Carla Matadinho - Miss Playboy Portugal - aparece vestida de menino Jesus.
Estava previsto ainda uma edição especial em DVD com o rigoroso exclusivo das novas palavras do Senhor, a musica "Hossana nas alturas" interpretada por Fátima Preto e Linda de Suza, e uma hóstia verdadeira e branca; porém houve um pequeno atraso na chegada das malas de cartão ao Vaticano e não houve tempo para a produção.
A comprar, para o Natal 2004!
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
segunda-feira, dezembro 20, 2004
(filme de terror português e musica homónima, dos Moonspell www.moonspell.com)
Como um pensamento no futuro, ver-te nos meus sonhos. Como se pudesse escrever um guião dos sonhos que tenho, com as pessoas que quero e com o fim que desejo. Não sai nada gótico, escuro ou surreal, apenas o que pretendo que seja realidade.
Mas em sonhos, só em sonhos...
Tenho medo da realidade, tenho medo de a tornar no guião que escrevi para ti, que contracenes as palavras que sonhei sairem da tua boca, que me surpreendas e fique de boca calada, sem saber o que dizer... "i will see you in my dreams"...
Vejo-te ali, acabada de surgir no meu campo visual, ainda à procura do teu pedaço de ilusão, do meu pedaço de ilusão. Preenche o meu coração o teu sorriso, quando a solidez da minha ilusão se desvanece e torna realidade aquele quente da expressão alegre. Sorrio também como correspondência mas sem esse calor, que se transferiu através das minhas finas paredes corporais para o motor, bombando sangue e oxigénio e emoção para todos os recantos do corpo.
A ti me chego, em ti planto beijos em cada lado do sorriso e escondo timidamente o ribombar emocionado do coração, que funciona a alta rotação e me aperta para dizer o que me vai na alma.
Nos meus sonhos, só nos meus sonhos.
Porque na realidade, a vã realidade, estou sempre com quem me preenche os sonhos, seja fisicamente, seja por via de pensamento, seja por sentir em alguém esse perfume discreto que se alojou com força no centro de todas as emoções - e ilusões.
Na realidade, essa megera, vivo um sonho, que nunca julguei tornar realidade.
I've seen you in my dreams...
À bientôt...
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
domingo, dezembro 19, 2004
(música: Jorge Palma, letra: Carlos Tê)
Se alguma vez te parecer
ouvir coisas sem sentido
não ligues, sou eu a dizer
que quero ficar contigo
e apenas obedeço
com as artes que conheço
ao princípio activo
que rege desde o começo
e mantém o mundo vivo
Se alguma vez me vires fazer
figuras teatrais
dignas dum palhaço pobre
sou eu a dançar a mais nobre
das danças nupciais
vê minhas plumas cardeais
em todo o meu esplendor
sou eu, sou eu, nem mais
a suplicar o teu amor
É a dança mais pungente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente
Goste-se ou não do género, Jorge Palma consegue (seja com as suas letras ou não) dar um colorido diferente à vida, às emoções. Chamem-me poeta (que não sou), chamem-me romântico (que duvido bastante), mas esta musica é lindissima...
Sentir, partilhar,estar... não estará tudo reservado no mesmo local do ser(-se) humano?
...
A comentar...
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
quinta-feira, dezembro 16, 2004
(simbolo, com problemas de passagem para o blog - www.fct.uc.pt)
Introdução: Perante a necessidade de obter um comprovativo da efectivação da minha matrícula na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, dirigi-me à extensão dos Serviços Académicos da Faculdade no Pólo II
Esclarecimento: a matricula nesta faculdade é efectuada por um processo inovador (e que funciona! Não é ironia...) - pela internet, através do site Inforestudante, onde podemos aceder a todas as nossas informações curriculares.
Cena 1: Na extensão dos Serviços Académicos do Pólo II. Não há fila e encontro-me no balção. Lá dentro duas senhoras, uma ao telefone, outra a fazer de conta que faz não sei o quê:
Eu - Boa tarde! Preciso de um comprovativo da minha matricula, posso tratar disso aqui?
Senhora ao telefone - Boa tarde! Não, terá de ir à Universidade (polo I), aos Serviços Académicos, tratar disso.
Outra senhora - Pode pode, olhe que pode...
Eu - Lá em cima? (expressão de surpresa e sorriso amarelo de inocência) Mas não dá, tipo, para pedir por aqui e depois vem para cá e levanto-o?
Outra senhora - Pode pode, olhe que pode...
Senhora ao telefone - Não, terá mesmo que ir lá a cima... (do telefone dizem algo porque ela vira a sua atenção para o telefone, com um ar surpreendido)... espere, espere!
(Fico à espera que a senhora do telefone se tenha, de facto, enganado... vira-se para mim... lá vem!)
senhora ao telefone - afinal tem, que ir ao Bedel pedir. Melhor, tem que ir à tesouraria pagar 4.49€ e apresentar o pedido no Bedel para depois lá ir buscar.
Eu - Pagar?! (incrédulo, confuso, surpreendido) Tenho que pagar por um comprovativo da matricula, um documento que tenho direito?!
Outra senhora - Pode pode, olhe que pode...
Senhora ao telefone - pois é, tem que ir primeiro à tesouraria pagar. 4.49€ (e lança um sorriso conciliador, qual verdugo ao torturado após obter uma confissão.)
Conclusão: ora, tratando-se de um papel, possivelmente com algo do género "sim, está de facto inscrito", com uma assinatura ilegível e o carimbo branco, deduzo o seguinte:
- A folha é em talha dourada, finissima e de grande qualidade;
- A impressora não usa tinta normal preta mas sim petróleo aos preços de Nova Iorque;
- O senhor da assinatura ilegivel é pago à comissão, por assinatura;
- O desgaste causado ao soalho pelo meu trânsito entre o Bedel e a Tesouraria é contabilizado;
- A força imprimida ao selo branco para carimbar é contabilizada às milésimas de Newton para uma melhor quantificação e preço, bem como o desgaste do carimbo e articulações e braço do mecanismo;
E, por fim!
- Todos os funcionários com quem falei, desde as senhoras da Extensão dos Serviços Académicos no Pólo II, até à tesouraria e Bedel, ganharão à comissão por cada som emitido pelas cordas vocais.
Por todas estas razões enumeradas, não só acho justissimo o pagamento de 880€ de propinas por ano pela frequência universitária - afinal manter a "máquina" e de forma tão afinada e célere paga-se - como acho abaixo dos preços de concorrência o pagamento de um comprovativo que, na prática e num Estado irresponsável, me seria dado!
Onde já se viu! Dar, repito, dar às pessoas aquilo a que têm direito!
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
segunda-feira, dezembro 13, 2004
"A única forma de descobrir os limites do possível é atingir o impossível."- Arthur C. Clarke
(Olho de Ouadjet, simbolo egipcio)
Deslizo pelo papel imaginário sem contemplações para a sua verdadeira natureza: papiro, papel ou écrã de computador, a caneta é sempre a mesma: a minha visão, a minha imaginação, o meu mundo em constante movimento.
Olho a vida nos olhos e o mundo como ele é: belo, cheio de diferentes formas, pululando de vida em todos os poros, buracos, recantos encantados, desde a mais inóspita paisagem ao mais fértil vale.
E de que vale? A escrita dá a famosa impressão do que é não sendo, imaginando o inimaginável, explorando o inexpugnável. Através da virtual caneta conhecemos culturas e pessoas diferentes mas também iguais, que procuram incessantemente o conhecimento através de outras pessoas e credos. Quem a isto renega simplesmente decidiu ficar na caverna a ver as sombras e dali não sairá até cegar, hora em que as sombras deixam de ser sombras e passam a ser a sua existência: o escuro eterno e total. Através deste mundo literário posso prazenteiramente sentir-me triste num dia alegre, sentir frio num dia quente e quente num dia frio, sentir saudoso junto de todos que tenho saudades, sentir só com muita companhia. Sentir... sentir...
Guardo só, e deixo como final, duas imagens que me foram dadas por duas pessoas, ambas diferentes, ambas iguais: a alegria inigualável do coração a bater de emoção, e a beleza da palavra "mankind" - têm ou não a ver, são, ou não, diferentes e iguais?
(Atendendo à falta de comentários no meu blog, que são sempre bem-vindos, decidi abusadamente enviar o meu ultimo post por e-mail para uma quantidade indiscriminada de pessoas. Recebi respostas que muito me agradaram, quer por e-mail, quer pessoalmente. Achando-me ou não um bom escritor, é sempre bom ter retorno e saber que as pessoas gostam de ler e têm sentido critico. Vindo de amigos essas palavras calam fundo e emocionam. Mesmo assim gostava que o fizessem no site, mesmo anonimamente se quiserem algo menos intimo para todos os que lêem: é que basta uma pessoa comentar para outras verem e juntarem a sua voz.
A todos os leitores, mesmo que não comentando, o meu expresso agradecimento e humilde reconecimento. Bem hajam!)
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
sexta-feira, dezembro 10, 2004
"Comparada com a realidade, a nossa ciência pode parecer primitiva e infantil, mas é a coisa mais preciosa que temos."- Albert Einstein
(enxame aberto M50, www.portaldoastronomo.org)
Pareço vazio em tudo aquilo que penso. Olho para o branco da folha e o que salta à vista é o mais branco do meu interior. Nada brilha, nada transcende. Apenas o nada, que nada na alvura da falta de imaginação, na ausência de contraste.
De repente a cor perde-se do meu mundo visual, acordo e olho em volta: nada senão o branco e as várias misturas de preto - tonalidades que me dão impressão de distância, rugosidade, diferença, mas nada mais que isso. Falta a alegria da cor, o sentimento explosivo e imediato da conjugação colorida, de imagens corridas e em movimento.
Fecho os olhos e penso naquela minha cor favorita. Branco como a folha de papel...
Frio, que me acolhe; frio que me entra no corpo, sobe à cabeça, gela pés e mãos e nariz e cabeça. Cabeça lateja: dor. Nariz sente ardor do frio e escorre o produto do frio...
Ou não.
De repente no papel aparece! No meio da alvura, uma gota de vermelho sangue caiu e esparramou-se feliz! No meio da folha antes pura o meu sangue se espalhou, primeiro num borrão de uma bola encarnada esmagada pelo peso da gravidade, agora num conta gotas que me devolve a cor.
Quente! Sinto o quente do vermelho. O fogo, a emoção, a paixão! Pena que tenha que perder do meu sangue para vencer a tua teimosia, papel! Pena que tenha que sentir um pouco de mim a escorrer em ti e deixar-me, pingo a pingo, vazio.
O papel agora sou eu, pois eu esvaí-me e sou apenas nada...
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
terça-feira, dezembro 07, 2004
(Remanescente de Supernova Cassiopeia A, www.portaldoastronomo.org)
Constelações
Olho para o céu nocturno para te ver a ti, estrela, que no negro impões o teu brilhante. Olho para ti porque és beleza, porque és lembrança, porque és distância luminosa de um passado quente e acolhedor.
Constelações, onde todas se juntam. Desenham, brilhos diferentes, interagem. Saudade! Cada constelação une amor passado, ou presente, ou futuro. No teu desenho, constelação, beijei uma, me encantei por outra, declarei a outra o meu amor... usei-te para impressionar mais uma?! Ou tudo foi um sonho, tão impraticável e tão distante quanto vós estais de mim, tão distante quanto vós estais umas das outras.
Cada mulher um desenho diferente, cada paixão um brilho diferente, cada amor o escuro da noite, sem saber o que é dia até chegar a manhã. Até os primeiros raios de sol esconderem o vosso desenho celeste e iluminarem a face de quem ao meu lado dorme.
O meu amor...
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
quinta-feira, dezembro 02, 2004
Sento-me em frente ao computador. Na minha cabeça muitas ideias estão prontas a saltarem para o teclado, e daí para o écrã e para um ficheiro informático. Sinto-me cheio de imaginação, cheio de vontade de escrever, com tempo e prazer de distender todo o meu vocabulário para o vazio do ficheiro.
Abro-o. Vassoura mental, tudo varre o que estava pronto a sair; saiu antes do tempo, sem avisar, sem dizer para onde foi. Olho para o teclado, para o écrã. Nada, vazio. Branco, como uma folha virgem de papel; insipido e inodoro, como a água pura.
Ouço o som da chuva lá fora, por entre os rugidos musicais que coloquei para acompanhar e dar o compasso à (inexistente) escrita. Merda!
Volto a reflectir. Nada ocorre.
Fecho o ficheiro por entre juízos mentais de senilidade e uns quantos palavrões.
Adeus!
(De facto estou anormalmente com falta de assunto, e agora há tantos passiveis de serem comentados, criticados, falados, transformados num pequeno apontamento humoristico. Mas nada. A inspiração nada quer comigo. Tenho musas que inspiram, mas este black-out não é problema da falta de musas, que me ajudam bastante nos piores momentos. É um bloqueio mesmo! Penso e olho para essas musas de inspiração, quais deusas do Olimpo, mas não me surge palavra, somente gratidão por existirem e por, por vezes, me darem azo à escrita. Mas não surge palavra... melhores dias virão! Por esse facto gostaria de pedir desculpas às musas e aos leitores.)
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt