terça-feira, agosto 16, 2005

Desânimo

Sentas-te na varanda iluminada pela luz amarela do candeeiro público. Na rua apenas o som do verão - silêncio entrecortado pelo som de grilos à distância, com o movimento sazonal de um ou outro veiculo - e a observação das constelações.
Aconchegas a manta nas pernas porque a leve brisa arrepia as pernas semi-nuas, calções de verão oblige, e olhas Cassiopeia, Órion, o vazio espacial. Entre as mãos a caneca de chá, mesmo quando dá vontade transcender os pensamentos com algo forte - vodka? puro? - mas que não será desta vez que cedes.
Chegas à boca a caneca continuando a fitar o vazio, pensando na linha ténue que separa a vida da morte, nos fraquissimos seres humanos.
"Estou mal com o mundo; o mundo está mal comigo..."
Um leve trejeito no canto esquerdo da boca, um leve e irónico sorriso abafado de tristeza, de quem volta amanhã a desafiar os deuses. "Vou dormir", dizes em surdina para o infinito visível e invisível.
Sais de cena...

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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