quinta-feira, agosto 25, 2005

Memória curta(foto: Jornal Público, Steven Governo/AP)

Portugal teve um ano para esquecer: começando pela seca logo detectada em Dezembro e chegando a meio do verão já com centenas de milhares de hectares de floresta ardida. É facil e rápido colocar as culpas nos mais visados: o primeiro ministro, cujas férias não foi capaz de interromper por causa dos incêndios, o ministro da Administração Interna porque não soube planear a prevenção e sempre disse que os meios disponíveis eram suficientes...
Estes são alguns dos casos. Concerteza nos próximos dias veremos as populações em fúria a clamar pela demissão do ministro António Costa, a chorarem os bens perdidos e amaldiçoarem os bombeiros, presidentes de Câmara, governo, Deus e o Mundo. Porém há factores que acho importantes destacar, até porque onde vivo há, no espaço de 7 a 10 anos, um incêndio florestal que chega às portas de um bairro citadino.
  • Claro que o governo tem responsabilidade, porém não é só este governo mas todos os precedentes. Afinal quando eles tomaram posse em Março o plano de prevenção já deveria estar activo;
  • já se fala em modernização das forças armadas à pelo menos uns 10 anos, abrindo-se concurso para compra de mais aviões caça F-16, helicópteros para substituir os Puma que atingiram o limite de vida operacional, os submarinos... mas nunca se falou ou se fez um estudo para compra de meios próprios de combate aos incêndios, para além dos que já fazem parte da Protecção Civil e Serviço Nacional de Bombeiros;
  • Como em tudo em Portugal, a educação cívica e a aposta na educação e formação são uma aposta secundária dos sucessivos governos. O povo não é minimamente civilizado e continua a deixar sujos matas, pinhais e florestas, bem como praias, lagos, mares. No entanto na hora de criticar são sempre os primeiros;
  • A floresta nacional é, ao contrário da maioria dos países europeus, privada e dividida por inúmeros proprietários. Estes, em muitos casos, utilizam os seus terrenos para fazer negócios com a madeira mas não cuidam minimamente do seu espaço. Volta-se ao ponto da formação sempre esquecida: o maior combustivel dos fogos é o mato que cobre o terreno! Se este for muito e seco o incêndio percorre uma grande extensão em pouco tempo; se este for pouco ou ralo a progressão de chama é muito mais lenta e o seu combate mais fácil e eficaz;
Entendo que deveremos todos encontrar forma e reclamar com as instâncias que nos governam - que é para isso que pagamos impostos - para que tenham mais cuidado com a forma como lidam com as situações. É um absurdo num ano de seca como este haver uma "época de incêndios florestais" e a maioria dos meios só estar disponível em Junho. Além disso deve haver um esforço de formação contínua junto das populações para que se saibam organizar durante uma emergência; haver um corpo de intervenção rápida, género SWAT Team, que actue nos primeiros focos de incêndio (helitransportados, com extintores, sei lá, não sou especialista); haver meios aéreos bem espalhados pelo país para uma intervenção rápida - no inicio dos focos de incêndio - e uma intervenção continuada, em incêndios já activos e de grandes proporções; ser pensado nos meios militares o uso de material militar para missões especificas - exemplo: os P-3 Orion servem para fazer fiscalização marítima, detectar pedidos de socorro, fazer estudos de marés, de actividade piscatória. Porque não adaptá-los para fazer vôos de vigilância durante o verão?
E o mais importante: cooperação e informação. Já devia haver, com o numero de fogos que há todos os anos, uma cadeia de comando pré-estabelecida como existe em caso militar. Assim seria fácil e rápida uma resposta: cada um sabe o seu posto, sabe quem é o seu superior e a ordem e hierarquia. Isso é muito importante em qualquer tipo de organização, seja de estado, de empresas grandes, médias e pequenas. Neste mundo só sobrevivem os mais fortes e, na maioria dos casos os mais fortes são os que actuam em grupo organizado e não aqueles que têm muito boas caracteristicas mas que joga cada um para seu lado.

Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt

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