Portugal teve um ano para esquecer: começando pela seca logo detectada em Dezembro e chegando a meio do verão já com centenas de milhares de hectares de floresta ardida. É facil e rápido colocar as culpas nos mais visados: o primeiro ministro, cujas férias não foi capaz de interromper por causa dos incêndios, o ministro da Administração Interna porque não soube planear a prevenção e sempre disse que os meios disponíveis eram suficientes...
Estes são alguns dos casos. Concerteza nos próximos dias veremos as populações em fúria a clamar pela demissão do ministro António Costa, a chorarem os bens perdidos e amaldiçoarem os bombeiros, presidentes de Câmara, governo, Deus e o Mundo. Porém há factores que acho importantes destacar, até porque onde vivo há, no espaço de 7 a 10 anos, um incêndio florestal que chega às portas de um bairro citadino.
- Claro que o governo tem responsabilidade, porém não é só este governo mas todos os precedentes. Afinal quando eles tomaram posse em Março o plano de prevenção já deveria estar activo;
- já se fala em modernização das forças armadas à pelo menos uns 10 anos, abrindo-se concurso para compra de mais aviões caça F-16, helicópteros para substituir os Puma que atingiram o limite de vida operacional, os submarinos... mas nunca se falou ou se fez um estudo para compra de meios próprios de combate aos incêndios, para além dos que já fazem parte da Protecção Civil e Serviço Nacional de Bombeiros;
- Como em tudo em Portugal, a educação cívica e a aposta na educação e formação são uma aposta secundária dos sucessivos governos. O povo não é minimamente civilizado e continua a deixar sujos matas, pinhais e florestas, bem como praias, lagos, mares. No entanto na hora de criticar são sempre os primeiros;
- A floresta nacional é, ao contrário da maioria dos países europeus, privada e dividida por inúmeros proprietários. Estes, em muitos casos, utilizam os seus terrenos para fazer negócios com a madeira mas não cuidam minimamente do seu espaço. Volta-se ao ponto da formação sempre esquecida: o maior combustivel dos fogos é o mato que cobre o terreno! Se este for muito e seco o incêndio percorre uma grande extensão em pouco tempo; se este for pouco ou ralo a progressão de chama é muito mais lenta e o seu combate mais fácil e eficaz;
E o mais importante: cooperação e informação. Já devia haver, com o numero de fogos que há todos os anos, uma cadeia de comando pré-estabelecida como existe em caso militar. Assim seria fácil e rápida uma resposta: cada um sabe o seu posto, sabe quem é o seu superior e a ordem e hierarquia. Isso é muito importante em qualquer tipo de organização, seja de estado, de empresas grandes, médias e pequenas. Neste mundo só sobrevivem os mais fortes e, na maioria dos casos os mais fortes são os que actuam em grupo organizado e não aqueles que têm muito boas caracteristicas mas que joga cada um para seu lado.
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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