Noite longa noite
(Excertos musicais: Luke, Zoe - La Tête en Arrière)
A espera:
O dia não passa. Olha para o relógio a cada minuto, a cada segundo, desejando o tempo passar para poder ir ao encontro - o encontro! - sem saber como agir ou reagir. Pensa sempre neste ou noutro encontro, sempre que se entusiasma, se apaixona, se sente tocado por alguém especial.
Volta ao relógio e enerva-se: o tempo simplesmente iniciou uma luta desigual contra a sua vontade e necessidade de a ver, ali, pele suave e voz suave e cabelo suave e cheiro suave e olhos lindos castanhos avelã chocolate paixão.
Suspira, respira, suspira.
"ne te blesse que d'air pur
couvre-toi d'étincelles
zoe,
trace donc le trait qui rassure
et que ta ligne soit belle
zoe,"
A dúvida:
E ela, o que sentirá? O mesmo? Nunca antes lhe tocou, pelo menos naquele que é o contacto entre as duas peles. Fê-la sorrir, faz frequentemente, mas será isso o óbvio suficiente para que ela repare no seu fascinio?, para que repare nele em si, como homem, passível de ser o seu homem, carne da sua carne, só um?
Porquê tantas duvidas, porque as pessoas escondem sentimentos? Porque não há transparência nos relacionamentos, sejam eles quais forem?... bem, ele também não é propriamente transparente e... terá ela já reparado que ele a sente de forma especial? Terá ela já percebido que aquele encontro é uma tentativa irremediavel de a ver, de a ter do lado, porque é uma forma egoísta de ter prazer e de sofrer porque não lhe canta as emoções em turbilhão que lhe bombam o coração?
"tes amours
sont des légendes
que désapprouve
ton ange
ton ange"
A espera II:
Agora o tempo passa. Agora ainda à bocado eram menos 2 minutos. Está quase, só faltam duas horas... devo chegar cedo?, tarde?, ficar a observar ao longe se ela vem ou não, quando ela vem para chegarmos ao mesmo tempo? As horas as horas...
"n'étreins qu'en morsures
les seigneurs de la guerre
zoe,
fait suinter leur armure
qu'ils y voient de l'univers
zoe"
In situ:
Chegou. E sentou-se. Viu-a ao longe a vir, jeito esguio, andar elegante. Não mostrou que a tinha visto mas o coração deu um toque quando ela viu que ele lá estava e começou a sorrir. Desfez-se, fez notar que a vira já, como que iluminado pelo sorriso que é agora aquele farol na noite de nevoeiro. Ela chega junto e ele levanta-se. Beijo no rosto, sentir o cheiro, olhos nos olhos, sentam-se ambos, olhos nos olhos, sorriso no sorriso.
"Então? Muito tempo à espera?"
"tes amours
sont des légendes
que désapprouve
ton ange
ton ange"
...
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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