Reciprocidade
(excertos músicais: Toranja, Carta - Álbum Esquissos)
Ela:
Acordou novamente com aquele sonho e aquele homem na cabeça; aquele que já conhece à anos, que encontra raramente, mas que está sempre presente. Desde a ultima vez que se encontraram já é a segunda vez que sonha com ele - e sempre da mesma forma: aquele beijo.
Será que é mesmo assim? Nunca teve oportunidade de saber porque sempre se escondeu na sua simplicidade - não chamar à atenção, tentar ser banal e recatada, menos para quem conhece bem e com quem se sente à vontade - e porque esteve sempre à espera do seu primeiro passo. Se ele gosta dela? Se gostava? Não tem a certeza, mas havia nela um sexto sentido que lhe dizia que sim.
Algo nele era atracção mesmo se não fosse aquele homem de sonho que ela sempre idealizara. Desde a primeira vez que os olhos de ambos se encontraram que sentiu uma vibração no coração. Desde aí sempre olhou de frente nos olhos dele e sentiu sempre a correspondência, mas nunca deu parte fraca ou suavizou a forma de falar com ele, ou de agir. "Nunca fui fácil para ninguém, mas se calhar poderia ter sido mais branda com ele... porque é que ele me aparece em sonhos se nem sequer tenho como o contactar?".
"Saudade é o ar
que vou sugando e aceitando
como fruto de Verão
nos jardins do teu beijo...
Mas sinto que sabes que sentes também
que num dia maior serás trapézio sem rede
a pairar sobre o mundo
e tudo o que vejo..."
Ele:
Acordou novamente com aquele sonho e aquela mulher na cabeça; aquela que já conhece à anos, que encontra raramente, mas que está sempre presente. Desde a ultima vez que se encontraram já é a segunda vez que sonha com ela - e sempre da mesma forma: aquele beijo!
Será que é mesmo assim? Nunca teve oportunidade de saber porque sempre se escondeu na sua timidez - não chamar à atenção, ser calado e recatado, menos para quem conhece bem e com quem se sente à vontade - e porque nunca teve coragem de dar o primeiro passo. Se ela gosta dele? Se gostava? Não tem a certeza porque sempre teve medo da rejeição, mas havia algo na forma como olhava fundo nos seus olhos que lhe dizia que sim.
Algo nela era atracção mas de forma simples e exótica: a pele suave, a voz doce e melodiosa, a inteligência, a sua discrição, o olhar... Desde a primeira vez que os olhos de ambos se encontraram que sentiu uma vibração no coração. Desde aí sempre olhou de frente nos olhos dela e sentiu sempre a aquela chama de nunca nenhum dar parte fraca e afastar primeiro o olhar. "...se calhar deveria ter posto o meu medo de rejeição de lado e ter tentado... porque é que ela me aparece em sonhos se nem sequer tenho como a contactar?".
"É que hoje acordei e lembrei-me
que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é feita de papel
Nela te pinto nua
numa chama minha e tua."
Comum:
O beijo!
O primeiro tímido e casual, aquele leve encosto em que ambos pensam que o outro dá a face e acorrem gentil e suavemente com os lábios para mostrar aquela ternura e aproximação de amigo, de quem se gosta e respeita. Porém ambos pensam o mesmo ao mesmo tempo e os lábios tocam-se, levemente, e o desejo aflora ao cérebro ainda antes de receberem a imagem dos lábios unidos. Aquela fracção de segundo que os fará pensar no que o outro sentiu; aquele rubor envergonhado quando se desunem e entreolham e pedem desculpa no mesmo instante, tornando a situação mais... doce. Sorriem após as desculpas, sempre com os olhos bem internos na alma do outro. Viram costas e os amigos perguntam "o que foi aquilo?!", com um sorrir maroto de quem viu o que aconteceu, percebeu, mas que para o próprio não faz qualquer sentido...
O segundo já foi fora do casual: encontram-se casualmente num café onde estão amigos comuns, ela sorri de forma diferente para ele e ele percebe. É como a continuação, em que ela está decidida a dar o primeiro passo e ele espera que ela aja - porque interiormente, no primeiro "beijo" já tinham feito esse acordo tácito entre-olhos. Ela puxa-o pelo braço, para outro lado afastados dos amigos, e encostam novamente os lábios - agora com vontade de experimentar aquilo que esteve anos escondido. Primeiro beijando cada um o olhar, aproximando as caras, as pestanas, os narizes, os cheiros, os corpos e, por fim, ambos sorridentes e ardentes de paixão, aquela boca pela qual tanto sonharam...
"Desculpa se te fiz fogo e noite
sem pedir autorização por escrito
ao sindicato dos Deuses...
mas não fui eu que te escolhi.
Desculpa se te usei
como refúgio dos meus sentidos
pedaço de silêncios perdidos
que voltei a encontrar em ti..."
Afinal tudo não passou de um sonho... ou mais do que um sonho...
Paulo Aroso Campos - paulo.aroso@zmail.pt
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